Quem visitar as terras da Escócia, uma dos mais fabulosos monumentos que existe por estas paragens trata-se da capela de Rosslyen (Rosslyn Chapel).
A Capela de Rosslyn encontra-se num vilarejo a 30 minutos da cidade de Edimburgo e é facilmente acessível pelo bom sistema de autocarros urbanos da cidade.
Hoje em dia, muitas pessoas associam (bem ou mal) a capela de Rosslyn ao livro best-seller e filme "O Código Davinci" de Dan Brown, mas a capela de Rosslyn é muito mais que uma referência numa obra de ficção, possuindo uma grande e variada riquesa arquitectónica, histórica e simbólica.
Creio que muito antes de falarmos sobre a capela é preciso desmistificar e separar o que existe entre a histórica capela de Rosslyn e a ficção de Dan Brown. Sem dúvida o livro "O código de Davinci" e o filme homólogo fizeram muito bem a capela, tanto do ponto de vista de divulgação turísitica bem como do ponto de vista financeiro. A quando da visita, os guias comentam que antes do lançamento do livro a visitação diária da capela (por turistas) era em torno de 8 a 12 pessoas/dia, atualmente a capela recebe uns espantosos 1.500 visitantes diários! Considerando o custo de 10 libras por ingresso, podemos considerar que a capela ganhou muito com a obra.
É importante perceber que só porque a capela se tornou popular devido ao livro não quer dizer que tenha mais ou menos mérito que antes, para quem conhece a Quinta da Regaleira, podemos traçar um paralelo e pensar como considerariamos a Quinta da Regaleira se amanhã um livro ou um filme a tornasse meca de peregrinação turística.

Ao aproximarmos da Capela de Rosslyn nos deparamos com uma grande extrutura a cobrir a capela, tal foi feito no plano de obras de reparação e conservação do património. A extrutura construída em volta da capela tem duas funcionalidades, primeiro para permitir acesso a toda área externa (incluindo telhados, cachorros, capitéis, janelas, etc) a outra é um grande telhado para proteger a capela da chuva e permitir que a pedra possa secar antes de efectuarem a protecção externa contra a água e a humidade e a reparação interna dos problemas por esta causadados.

Historicamente, no local onde se encontra a capela de Rosslyn estava prevista a construção de um grande templo disposto em cruz, em facto, os alicerces desta grande empreitada chegaram mesmo a serem construídos por volta de 1443~1447. A nave deste templo teria por volta de 27 metros de comprimento.
Contudo, antes de adentrarmos na Capela propriamente dita, recomendo uma visita as cercanias da mesma, os seus jardim/cemitério.
Obviamente, e contrariando o que seria esperado, não vamos encontrar retro-escavadoras e malta esbaforida com pás a profanar tumulos e enfiar esqueletos para dentro de sacos, encontramos um bonito e bem cuidado jardim de relva verde e bem tratada com as campas devidamente conservadas.


Uma das campas, inclusive, possui uma simbologia que nos pode ser bastante familiar. ;-)
A construção de Rosslyn se deve ao conde William Sinclair (St. Clair), ultimo conde de Orkney, que gastou 40 anos e uma grande fortuna na realização desta magnífica obra.
O conde Sinclair era um homem que vivia um dilema. Sendo possuidor de um segredo como evitaria que este caisse em mãos erradas ou se perdesse? A escrita de um pergaminho ou livro, mesmo com exagerado uso de "linguagem dos pássaros", era frágil e poderia ser facilmente destruído, ou se por ventura caisse em mãos erradas poderia ser escondido dos olhos certos. A tradição oral é frágil como a vida e fiável como a memória. A melhor forma de esconder algo, seria colocando a vista de todos, em um magestoso livro em pedra que apenas os conhecedores da chave poderiam decifrar obtendo dos não iniciados uma simplória e estupefacta admiração. Interessante também é a origem da palavra "Rosslyn", que vem do hebraico e significa "O lugar do segredo oculto."
Rosslyn foi construída quase 150 anos após o presumível fim da Ordem do Templo, contudo a ligação da família St. Clair com os templários é muito mais profunda.
O fundador da ordem "Hughes de Payens" foi casado com "Catherine St. Clair", sendo afirmado que foram os dois a estabelecer a primeira comendadoria dos templários em terras da Escócia. Muitos outros membros da família "St. Clair" foram também membros, além da família ser também conhecida por sua generosidade a ordem.
Durante a perseguição aos templários, muitos dos seus membros se refugiaram na Escócia que naquela época fora excomungada pela Igreja e existem relatos de "guerreiros de manto branco" que auxiliaram Robert the Bruce na batalha de Bannockburn no dia de São João, o que foi decisivo para a Escócia se libertar da Inglaterra.
Durante a visita a Rosslyn somos surpresos ao saber que todo o dia 24 de Junho um grupo denominado "Scottish Knights Templar" ou "Cavaleiros Templários Escoceses" reune-se na capela para comemorar a data.


Subindo na estrutura construída externamente a capela podemos apreciar de perto o telhado e os capiteis da obra, muitos detalhes que só podem ser admirados nestas circunstâncias e que são simplesmente invisíveis a quem se encontra no chão.
O conde William St. Clair, também era conhecido pelo estravagante título de "Cavaleiro da Vieira e do Velocino de Ouro", e aqui cabe uma interpretação pessoal minha em que relaciono a Vieira ao caminho de Santiago de Compostela e o Velocino de Ouro a epopéia grega de Jasão e os Argonautas.
A técnica de construção da capela é por sí só impressionante. Antes de efectuarem qualquer corte em pedra, eram feitos modelos em madeira de balsa! As colunas e estatuas eram primeiramente esculpidas em madeira, permitindo que fossem feitas alterações antes de partir para o modelo final.
Contudo a capela de Rosslyn não é uma obra acabada, de facto, a capela de Rosslyn é apenas uma pequena parte do que seria todo o complexo a ser erguido. Podemos apreciar a ousadia do projecto completo apenas apreciando as colunas que se erguem na face oeste da capela e que seriam usadas numa extrutura muito mais alta e larga que a capela.

São controversas também algumas histórias que ligam a família Sinclair a práticas pagãs bem como uma interessante ligação a família com a protecção e livre passagem a tribos ciganos, contudo expecula-se que se tal seja um facto verídico a explicação era aceitável haja visto o povo cigano tomar culto a "Sara Kali" o que denota uma ligação a lenda do Graal e da Virgem Negra, o que torna ainda mais curioso a narrativa de um cronista sobre uma "virgem negra" que se encontrava na crypta de Rosslyn e que veremos mais a frente.
Interessante também a influência do evangélio apócrifo "O Evangélio do amor de São João" na arquitectura e decoração da capela.

A capela tem um arquitectura gótica, e em todas as paredes vemos entalhes simbólicos, na dobra esquerda da parede sul encontramos talhados muitos compassos, encontramos também no exterior uma cabeça que se pode identificar como sendo possivelmente de "Hermes" além de uma cena que pode por alguns instantes nos trasporta a obra de Humberto Eco "O nome da rosa", onde temos um padre em forma de Raposa pregando a Gansos.

Existe uma grande quantidade de marcas de canteiro na capela, contudo o tamanho diminuto aliado a proibição de se retirar fotos na capela não permitiram seu catálogo.

Antes de entrar na capela, uma última volta pelo jardim nos permite encontrar uma curiosa pedra com a inscrição "KING OF TERROR", "Rei do Terror" e que possivelmente vamos encontrar uma possível explicação na cripta.

Muito embora Rosslyn tenha sido construída quase 150 anos após o presumível fim dos templários, Rosslyn é dotada de uma grande carga de simbolismo que nos remete a eles, embora muitas vezes de forma espampanante o que contrasta em muito com a simplicidade de forma e estilo que encontramos em Santa Maria dos Olivais, que muito embora não sendo tão ricamente ardonada não deixa de ser uma ampla referéncia a estes.
Rosslyn parece também ter sido um destino de uma peregrinação que se iniciava no sul de França e que era conhecida como o "Caminho do Alquimista" ou o "Caminho do Neófito". Muito embora alguns defendam que seria o destino final de uma peregrinação que passaria por Santiago de Compostela.
Ao entrarmos em Rosslyn somos defrontados por um trabalho onde duas mãos revelam o cordeiro de Deus, por de trás do altar mor, uma escultura de nossa senhora com o menino Jesus.
Antes de apreciarmos própriamente a capela, uma escada do lado direito do altar nos direciona para a cripta da capela.

É citado por algumas pessoas que a cripta albergaria em seu interior uma virgem negra, atualmente a cripta abriga algumas pedras funerárias retiradas de uma aldeia templária em ruínas que existe a alguns quilómetros de Rosslyn.

A cripta possui duas salas contínuas, uma a direita e uma a esquerda bem como uma lareira na parede direita (norte).
A pequena sala a esquerda hoje trata-se uma sala de arrumos onde encontram-se algumas peças que foram se desprendendo da fachada da capela bem como outras encontradas nas cercanias.

Muito embora consideramos esta pequena capela uma cripta, devido a particularidades do terreno onde Rosslyn está inserida, na verdade, a cripta não está totalmente imersa em terra, possuindo a face este a superfície o que permite a existéncia deste magnífico vitral da elevação de cristo aos céus. Os vitrais não são originais, foram instalados por ocasião da visita da rainha Victória que ao reconhecer a magnitude da capela e o seu estado de abandono resolveu efectuar algumas obras de conservação e restauro. Contudo, pode-se perceber a referéncia a Maria Madalena neste vitral em específico através da auréula roxa.

Retornando a capela própriamente dita, entre todas as maravilhas arquitectónicas um dos maiores destaques se dão as colunas do mestre e do aprendiz.

A quando comentamos da coluna do mestre e do aprendiz, tende-se a imaginar que a coluna mais imponente tenderia a ser feita pela mestre e a de menor brilho a do aprendiz. De facto, a história em Rosslyn é diferente, relatando que após terminar uma das colunas, a que se encontra a norte, o mestre canteiro recebera de seu patrono um pedido para realizar uma coluna ainda mais elaborada, incerto de ser capaz efectuou uma viagem ao estrangeiro para adquirir inspiração. Durante a auséncia do mestre, o aprendiz de canteiro tendo vislumbrado uma coluna num sonho efectuou a obra. O mestre ao chegar e se deparar com tal prodígio e atormentado por grande inveja matou o aprendiz.
Essa história, verdadeira ou não, é, talvez, uma conexão a lenda de Hiram Abif, base da filosofia maçónica.

Creio que seja possível travar um paralelo interessante entre a coluna do Aprendiz e a Janela do Capítulo em Tomar, muito embora seja necessário tomar certas liberdades nessa interpretação.
A coluna em questão parece simbolizar a árvore da vida, que une a terra, o céu e os mundos intermédios entre eles. No topo da coluna encontramos doze elementos que parecem representar as constelações zodiacais, as espirais as raizes ou mesmo os braços espirais das constelações, por fim, as raizes penetram nos elementos terrenos vindo do celeste, e um dragão rodeia as raizes como uma alegoria de roubo da fertilidade.
Mais interessante é perceber que ao fundo da capela encontram-se dois rostos esculpidos, um com aspecto jovial olhando serenamente para a coluna do mestre e outro com aspecto de um velho martirizado a olhar para a coluna do aprendiz, talvez um castigo ao mestre por ter morto o aprendiz.

"O navegador Henry St. Calir, primeiro conde de Orkneys, nevaegou até ao novo mundo em pelo menos duas ocasiões no ano de 1400." Tal afirmação poderá ser ou não verdadeira, contudo é uma das possíveis explicações para um dos grandes mistérios de Rosslyn. Num dos lintéis do lado direito da porta sul somos surpreendidos por esculturas de aloés, nas janelas encontramos esculturas de milho bem como uma grande planópia de outras flores e plantas, até aí não teria grande significado se as mesmas não fossem originárias do novo mundo e totalmente desconhecidas na época de construção da capela.
Rosslyn possui também outros mistérios e segredos, bem como lendas e histórias, algumas que são também muito conhecidas pelos visitantes habituais de Santa Maria.
Além da cripta que se encontra acessível, os teóricos da universidade DaVinci (assim são carinhosamente chamados os "adoradores de pedra" que vão a Rosslyn), creem que exista uma segunda cripta por debaixo, e ao centro da capela, e cuja entrada está bloqueada por uma pedra de grandes dimensões, sendo que que a cripta visitável seria apenas um embuste de forma a encobrir a verdadeira. Outra teoria bem aceita é que dentro da coluna do aprendiz está escondido o santo Graal. Como a igreja já foi alvo de ataques, e devido a grande popularidade, os responsáveis pela mesma contrataram especialistas para, como equipamentos adequados e não invasivos, pudessem estudar tais teorias. O radar ultrassom não detectou nenhuma estrutura embaixo da capela excepto as que eram conhecidas, a cripta existente e os tumulos. Contudo o detector de metais acusou uma extrutura metálica dentro da coluna do aprendiz, sendo confirmada pelo ultrassom, contudo o RaioX desmistificou o caso acusando que se tratava de um simples pino de metal usado para fixar uma coluna sobre a outra. Obviamente, apenas um louco acharia que o Santo Graal estaria escondido numa coluna de pedra em Rosslyn, pois todos sabem que o mesmo se encontra escondido dentro da cripta oculta de Sta. Maria dos Olivais ;-)
Falar sobre os mistérios de Rosslyn ainda permitiria escrever muito, e creio que seria mais propício discutir isso num próximo post, quem sabe até traçando um paralelo com a nossa Santa Maria.