Contacte-nos através do nosso email:
cethomar@hotmail.com

12/31/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE XV

ENIGMA POR RESOLVER
Thomar esquecido

Os dados recolhidos não nos permitiram concluir acerca da ruína. A dimensão do edifício, eventualmente com alpendre, bem lajeada e o facto de se encontrar no cimo de uma colina, fizeram-nos ponderar tratar-se da desaparecida Capela de Santa Bárbara, todavia outros elementos e descrições faz-nos recear nessa atribuição, se não mesmo veementemente negá-la.

Seja como for, revelámos para o público em geral, um novo espaço edificado, que tem escapado a quase todos, esquecido talvez, e que à par da Charolinha pode inflamar imaginações e preencher o imaginário da “Lusitânia Transformada”.

Já habituados os nossos leitores às nossas investigações, onde o fim não é condição essencial, aproveitámos o momento para dar a conhecer mais alguns aspectos da História de Tomar; a Cerca e Mata dos Sete Montes, a obra "Lusitânia Transformada", a descrição e localização exacta da desaparecida Capela da Nossa Senhora dos Anjos, a Capela de Santa Bárbara, uma suposta réplica da Mata no sítio da Cruz Quebrada, os "demónios" do Convento de Cristo, entre outros, assim como imagens de colecções privadas e inéditas, ficando no entanto o pardieiro descoberto a ser um enigma quanto ao que teria sido no passado.

Os Pastorinhos: Semrosto, Cluny, Voltron e Degraconis

Notas de rodapé:
Alguns dos temas abordados irão ser tratados autonomamente em post a publicar mais tarde, não só em virtude de existirem mais informações, que não importavam à investigação em causa, mas porque existe mais fotos para dar a conhecer, não obstante termos conseguido publicar muitas sem retirar a estética ao texto apresentado. Algumas das fotos que vimos e temos, não obtiveram autorização de publicação o que nos deixou bastante tristes. 


Agora que o ensaio chegou ao fim iremos de seguida enviar a versão pdf a todos os que estão na mailing list do Cethomar, o qual não é inteiramente igual ao que foi publicado.

FIM

12/30/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE XIV

FAI – FOI ANTIGAMENTE IGREJA
Feira Agrícola e Industrial de Tomar

Da análise e confrontação dos documentos aos quais tivemos acesso, muitos dos quais aqui publicados, ficámos com a noção de que a Capela de Santa Bárbara, possivelmente se localizaria mais próxima do Convento de São Francisco – pertencia a estes – nos terrenos da FAI, do que certamente no local onde fica a ruína de que se tem vindo a dar notícias.

Ao fundo vê-se os terrenos onde se instalou a FAI (e também...x)

A instalação da Feira Agrícola e Industrial de Tomar (FAI) em anteriores terrenos do Convento de São Francisco e da Cerca Conventual da Mata dos Sete Montes, já na segunda metade do século XX, terá sido então o derradeiro golpe ao direito de existência de mais uma antiga capela Nabantina. Hoje a FAI é uma sombra do que foi à umas décadas atrás – veja-se o documentário do Miguel Spiguel de 1972 de 9 minutos. Hoje aquele local não faz justiça ao que foi à uns séculos atrás, o que podem sentir pelos testemunhos que trouxemos até aos leitores.


 Vistas sobre Tomar a partir dos terrenos onde se veio a instalar a FAI

 Próximo Capítulo
ENIGMA POR RESOLVER
Thomar esquecido

12/29/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE XIII

SANTA BÁRBARA DOS CAVALEIROS
De João Amendoeira©  especialmente para o nosso ensaio
s
SANTA BÁRBARA 
DOS CAVALEIROS

Quantos mais segredos guardas?
Tuas mãos teus pés seus seios,
serão teus sermões tuas armas?
Tua história a inspiração de guerreiros?

Tomar guarda-te e tu guardas Tomar
entre sete montes pedras e segredos
guardas esotérica a fórmula para amar
mais valiosa que o ouro mais forte que os medos

e na voz de um trovão cospes o fogo
que faz tua sede e de ti guardiã de cavaleiros
água de mística e sol demagogo
num anel eclíptico e tons segredeiros.

Viva em ti o nosso coração,
a voz das espadas
o grito de uma nação
o saber em mãos de salvas.


Próximo Capítulo
FAI – FOI ANTIGAMENTE IGREJA
Feira Agrícola e Industrial de Tomar
S

12/28/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE XII

A 3ª INCURSÃO
Onde vais, ó Santa Bárbara?

Aproveitou-se esta terceira ida ao local para fazer uma tentativa de reconstituição visual da ruína. Diga-se de passagem que nenhuma das duas que se fez, ficou em conformidade, mas o traço assim se manifestou. Foi uma incursão descontraída e visto na altura estarem convencidos ser o local da antiga forca e da Capela de Santa Bárbara, onde gostariam de levar a Santa em Procissão com o apoio do povo, visto já lhe conhecerem o paradeiro, levaram umas quantas orações que recolheram para entender quem de facto tinha sido Santa Bárbara e quanto devoção o povo lhe teve no passado. Nada mais adequado do que as orações para entender o sentir dos antigos, orações essas que são autênticos tesouros da literatura religiosa e popular. Surpreendeu-os!

A sua “especialidade” é abrandar, desarmar, desmanchar ou espalhar as trovoadas, como o atestam as versões que ora publicamos.


Tentativas reconstituições

ORAÇÕES E HINO


Recolhida na zona de Tomar




Próximo Capítulo
SANTA BÁRBARA DOS CAVALEIROS
De João Amendoeira

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE XI

ENCONTRO COM SANTA BÁRBARA
Um intenso olhar


Junto a pessoa antiga da cidade de Tomar, no decurso das investigações que encetámos pela cidade à procura do eventual paradeiro de objectos sacros que tivessem pertencido à dita capela, obtivemos a informação de que esta imagem, tida como Santa Bárbara, teria vinda da arruinada capela à Santa dedicada. Encontra-se onde obviamente deveria encontrar-se, no Convento de São Francisco. Foi alvo de mau restauro tendo as mãos sido mal colocadas. Falta-lhe um atributo que entretanto deve ter-se perdido.

Próximo Capítulo
A 3ª INCURSÃO
Onde vais, ó Santa Bárbara?

12/26/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE X

UMA ANTIQUÍSSIMA IMAGEM DE TOMAR
A mais antiga da urbe completa

De volta à imagem que dá a conhecer o que parece ser uma capela no cimo do monte, sabemos ser uma aguarela com vista geral sobre Tomar, da autoria de um pintor italiano, membro do séquito dos Médicis, do período de 1660/1670.

Aguarela de Tomar Séc. XVII – Em tamanho reduzido mas em
toda a sua extensão (carregar para aumentar)

Insere-se esta num vasto conjunto de outras imagens de Portugal, permitindo identificar vários monumentos e ruas de Tomar em data tão recuada. De realçar que, além dos notáveis monumentos, poderemos apreciar o arco de Santa Iria e o Padrão Sebástico. Aproveitamos o momento, dado o valor que as suas imagens têm, e visto não estarem amplamente divulgadas, para dar a conhecer mais algumas que retratem locais sobejamente conhecidos. Em algumas poderão apreciar as antigas muralhas que cercavam as cidades.
S




(após carregarem e abrirem a foto podem carregar novamente para sua ampliação)
Se alguém quiser pedir imagem de alguma localidade em especial pode enviar-nos email. Não é aqui lugar para uma publicação excessiva de imagens que fuja do tema. Junto à imagem de Tomar vem outra imagem que não conseguimos reconhecer. Se alguém quiser ajudar agradeciamos.

A primeira vez que tivemos contacto com esta gravura de Tomar, no “Roteiro Histórico”, ficou-se com a ideia de tratar-se de uma imagem do século XX, visto o nome da cidade impresso na paisagem ser Tomar e não Thomar como seria de esperar. A capela ou casa existente, seria então, uma recriação do autor, talvez inspirada no “Tomar Lendário” de Antónia Guerra, que dá notícias da existência da capela naquele local.

Todavia, posteriormente, conseguimos ter contacto com o livro que contém todas as aguarelas do pintor, e verificou-se, para nosso espanto, ser a imagem de data bastante afastada, de tal forma, que a capela nessa altura ainda nem devia ter sido consagrada a Santa Bárbara, mas ainda devotada à imagem do Cristo crucificado, e onde nasceu misteriosa árvore nas suas configurações, em cruz. Portanto, e visto a acuidade do pintor nas representações, não temos dúvidas que o edifício representado seja real: a Capela de Santa Bárbara.
S

Imagens mais tardias, como seja esta de 1780, já não permite aquilatar com segurança a existência da capela naquele tempo, contudo pode ter sido descurada a sua representação pelo pintor, porque pelas informações já dadas à estampa, sabemos nos inícios do século XX as ruínas desta ainda serem perfeitamente visíveis.
s
(continuação) Monte de Santa Bárbara
Apud “Tomar Lendário” 1932

Próximo Capítulo
ENCONTRO COM SANTA BÁRBARA
Um intenso olhar


OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE IX

UMA APARIÇÃO NA MATA DOS SETE MONTES
Uma misteriosa capela aparece numa antiga gravura
S
A imagem que apresentamos de seguida inclui uma capela no alto do monte, todavia não se conseguiu em concreto perceber em que monte se situaria, se no primeiro monte junto ao Convento de São Francisco, designado como Pinhal de Santa Bárbara, ou eventualmente numas colinas mais afastadas, local onde se situam as ruínas encontradas.


Também deveremos ter em consideração a existência de uma outra capela pertencente ao Convento de São Francisco, essa indubitavelmente, no monte que se situa de imediato atrás do Convento. Pode a imagem anteriormente representar essa capela, designada como a dos Anjos, contudo, se confrontarmos a descrição desta, que damos a conhecer adiante, com a imagem desenhada e com o mapa seguinte, certamente concluímos não se tratar da mesma.

Mapa com localização da Capela Nª Srª. dos Anjos (marcada pela Cruz e pelo ponto)

Da localização exacta constante no mapa podemos ainda dizer que “(…) Esta estrada inutilizou a antiga Calçada da Senhora dos Anjos, que partia do mesmo ponto (rua da Graça) e subia costeando o muro da cerca do Convento e cujo nome provinha de uma antiga capella da mesma invocação, que existia ao cimo d’aquella íngreme ladeira, esta capela que pertencia aos Freires de Christo” e pode ser d escrita como “alpendres de boa architectura assentes sobre colunas de pedra, casas para recolherem os romeiros e para residecia do ermitão, hoje já d’ella nem restam vestígios (…)”

Calçada Senhora dos Anjos ou Paialvo (duas perspectivas) no cima da qual ficava a respectiva Capela
Local da Capela (e outeiro) de Santa Bárbara e também da ruína
(qualquer uma das imagens foi recortada para mostrar apenas os locais tratados)


Posto que referimos a antiga capela da Senhora dos Anjos, seria desajeitado não lhe dedicarmos algumas linhas. Após a sua demolição devido ao desaterro da Estrada de Paialvo, em 1845 decide a Câmara vender a sua pedra, e em 1848 intimou Eugénio Figueiredo e Silva a tirar a pedra dos entulhos do alagamento da Capela, a fim de poder dispor dela para concerto nos caminhos próximos. Em 1865 desaparece por completo, tendo as remanescentes pedras sido empregues nos concertos da Rua da Graça até à Rua Direita, visto esta estar um aterro por motivos que agora não tem lugar desenvolver.

Foi precisamente na Rua da Graça, junto à Igreja da Misericórdia, que por várias vezes abateu o terreno, supondo J.M. Sousa em 1903, ser parte da abobada do lendário túnel que ligaria o Castelo à Igreja de Santa Maria do Olival, a ceder na sua função. Curiosamente neste último ano foi demolido um edifício no mesmo local – em frente à igreja – e pôde-se verificar a existência de um bocal de um antigo poço que se conservou durante as obras do novo prédio que surgiu. As más experiências que alguns construtores têm tido quando decidem entulhar essas galerias subterrâneas, têm nos últimos anos ditado que procedam de forma diferente. O bloqueio desses canais hidrológicos pode colocar em causa as fundações dos edifícios sobre as quais assentam, em virtude da acumulação de águas que durante séculos percorreram tais vias, se não desviadas correctamente.

Rua da Graça, actualmente Av. Cândido Madureira

“E a velha Calcada de Paialvo, onde tanto peregrino de pé e de joelhos passou em penitência e oração à idolatrada Senhora dos Anjos, desapareceu! Sic transit gloria mundi! E Nossa Senhora, agora, jaz, quase olvidada, numa altar lateral da Igreja de São Francisco.”
S
Nossa Senhora dos Anjos

Jaz, jazia, porque agora nem em São Francisco a encontram. Desapareceu entretanto!
S
Um aparte: Existe por vezes alguma confusão entre esta capela e a da Nossa Senhora dos Anjos ou do Paraíso existente no Convento de Cristo, e na qual, supõem alguns, existira no passado um acesso à cripta da Charola.

Próximo capítulo
UMA ANTIQUÍSSIMA IMAGEM DE TOMAR
A mais antiga da urbe completa

12/22/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE VIII

OS DEMÓNIOS DO CONVENTO DE CRISTO
Os mundos subterrâneos


(imagem recolhida pela Marta Marques Lopes durante o Seminário)

A escolha de Santa Bárbara como orago dessa Capela, que veio a substituir o local da forca, após a permanência de uma imagem do Cristo Crucificado na mesma durante alguns anos, não deve ter sido destituída de intenção. Santa Bárbara, pelas vicissitudes da sua biografia e taumaturgia, é a Santa das Trovoadas, “salve-nos Santa Bárbara dos Trovões”, devendo-se a essa atribuição, a sua colocação a encimar colinas situadas perto de povoados, num sentido profiláctico e de protecção. A força tenebrosa das tempestades e consequentes trovoadas, à qual está sujeita, tornam-na por essa via, numa poderosa Santa, capaz de enfrentar terríveis e demoníacas tempestades.

O local da forca, obviamente seria encarado, numa visão medieval, como um local “infestado” de espíritos malfadados e temíveis, tal como a Golgota onde Cristo foi “Cruzado”, local onde se teriam consumado mortes violentas de malfeitores. Santa Bárbara, além de os proteger das nefastas e sobrenaturais trovadas, apresenta todas as características necessárias para aplacar e dominar os maus espíritos do lugar, tal como São Miguel, visto a trovoada enquanto força destruidora e caótica, seja considerada também como expressão demoníaca. O facto de ser “advogada” das mortes repentinas é de considerar na ideia enunciada.

A acção de Santa Bárbara consistirá em deslocar os efeitos de um agente destruidor, a trovoada, para o monte: o monte maninho, a barreira, longe, mar a marinho, lugares estéreis onde só a Serpente (figura do demónio) amamenta os filhos com água do trovão (leite da maldição).

Talvez seja em virtude destas ideias, que o Claustro de Santa Bárbara no Convento de Cristo, apresente a maior concentração de Baphométicas criaturas esculpidas. Santa Bárbara domina-as, como que aprisioná-las no espaço claustral, que só por si, muito fechado sobre si próprio e rebaixado, é propício a encarcerar estranhas forças sobrenaturais. Não existe uma oração a Santa Bárbara: Bênção de exorcismo? Sobrepõe-se a Janela do Capítulo a este espaço, como se das profundezas da terra emergisse a salvação do Mundo, mensagem críptica que a Árvore da Vida encerra, todavia numa leitura anacrónica, é o claustro posterior à Janela.

Claustro de Santa Bárbara abaixo da janela do Capítulo

 Algumas das imagens dos capitéis do Claustro de Santa Bárbara no Convento

Insólitas gárgulas

(Repara-se na imagem superior à direita – Esperamos publicar um post só dedicado a este tema)

Das profundezas também Santa Bárbara é “Rainha”, visto ser invocada como padroeira dos mineiros e de todos aqueles que trabalham com o fogo. A alquimia apropria-se desta para descrever algumas das suas práticas.

A adoração da Santa Bárbara por parte dos mineiros, ao ponto de a elegerem como Padroeira, poderá encontrar-se na sua história lendária. Para além de relações possíveis, que podem ser consideradas menores, do refúgio de Bárbara no interior da terra, quando perseguida pelo pai, parece fora de dúvida que o motivo essencial da adoração se encontre na súplica, feita pela Santa a Jesus, para que, quando em situações de morte iminente, todos os que implorassem a Deus, por seu intermédio, a Extrema Unção, a obtivessem, ficando absolvidos de todos os seus pecados. Tais situações de morte iminente tê-las-iam sempre os mineiros diante dos olhos quando no seu trabalho no subsolo.

Este também é o motivo pelo qual Santa Bárbara é também venerada, como Padroeira, por outras profissões (artilheiros, pirotécnicos, bombeiros, etc.); outras profissões, relacionáveis com a torre, tanto quanto à respectiva construção (cabouqueiros, pedreiros, arquitectos) como quanto à respectiva utilização como prisão (presidiários, se tal se pode considerar uma profissão, e guardas de prisão), têm igualmente a Santa como Padroeira. No mundo inteiro, Santa Bárbara mantém-se Padroeira dos mineiros.

Esta ideia leva-nos de imediato a pensar nos lendários túneis de Tomar, e curiosamente, um dos “pastores” deste Círculo de Estudos do Cethomar que se perdeu na mata junto à ruína, deparou-se com o que pareceu ser os rebordos de um antigo poço, mas que pelas vicissitudes do tempo a que esteve vinculado, não permitiu ao “pastor” ter certezas iniludíveis quanto a isso. Será uma das “Sete Fontes”?

Próximo Capítulo
UMA APARIÇÃO NA MATA DOS SETE MONTES
Dos Anjos a Santa Bárbara

12/20/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE VII

SANTA BÁRBARA DOS SETE MONTES
Tomar Lendário

Monte de Santa Bárbara (continua noutro capítulo)
Excerto do “Tomar Lendário” 1934

Apesar dos esforços que fizeram no sentido de recolher informação profícua, no âmbito da identificação destas ruínas com a dita capela, foi empresa infortuita, tanto quanto a confusão e incerteza que reina entre quem tenta dar notícias dessa desaparecida capela.

Sentiram-se tentados a validar tal identificação, em parte pelo envolvimento emocional que criaram com o espaço, mas também por alguns factos que inicialmente podiam apontar para a mesma conclusão.

“Vestígio de ruína: e, ninguém sabe ao certo, por mais que se revolva a história do passado, se foi uma capela erguida a Santa Bárbara” segundo Antónia Guerra em 1934, e continua, “Mal começava a dar, nas torres, meia noite…surgiam de repente uns vultos brancos, saltando por ali silvados e barrancos…juntavam-se por fim em grupos, com prazer, a discutir: depois sumiam-se..” e se não eram as egrégoras dos antigos freires cavaleiros que também de branco trajavam, e se não dos Pastores do Oriente, eram as bruxas!! Sim! Jamais alguém as viu…quem se abrigava ali, no emaranhado mato…”

Não se exclui a possibilidade de ser uma simples casa florestal que ficou esquecida no tempo, mas o facto de encontrar-se na cota mais elevada de uma das colinas mais elevadas que compõe os designados Sete Montes, excepção se faça às que suportam o Convento e Castelo, e a tipologia do edifício, susceptível de se enquadrar nas típicas capelas e capelinhas, apontam o contrário. O bom lajeado e o esforço construtivo levado a cabo neste espaço, escavado em boa parte na colina, parecem ser indiciadores de um uso mais refinado do que casa de abrigo de pastores ou de guardas florestais.

Não será inoportuno reforçar a ideia que possa advir do facto do outrora edifício ser lajeado. A escassez de descrições medievais das casas comuns e os sucessíveis restauros, não permitem ter uma ideia concreta e clara de como seriam as habitações do homem medieval, mas sabemos que no pavimento seria corrente a utilização de terra batida. Quando os recursos eram bastantes, podia-se conseguir um acréscimo de conforto, ladrilhando ou lajeando o chão, a exemplo do que sucedia nos templos e outros edifícios nobres, não obstante termos encontrado nas Visitações da Ordem de Cristo (ver Pedro Dias. Aspectos Artísticos nas Visitações) referências a pavimentos ladrilhados de tijolo ou lajes, em Tomar, mas referindo-se a habitações de pessoas com algum estatuto. Um dos quadros de Gregório Lopes em Tomar representa um pavimento dessa natureza. Do telhado poderíamos dar semelhantes notícias.

Apesar de parcos os factos conhecidos relativamente à antiga Capela de Santa Bárbara, podemos tentar esboçar uma cronologia da mesma e para isso utilizaremos os próprios documentos:



A incansável procura de documentos permitiu reunir mais alguma informação, além da citada: Após a Câmara ter retirado a forca do espaço onde depois se instalou a Capela de Santa Bárbara, foi ainda antes desta ser assim conhecida, construída uma pequena ermida (talvez seja a mesma) onde se instalou um Cristo Crucificado. Pouco mais sabemos do assunto do que o facto de que em 1699 já ser designada como Capela de Santa Bárbara. No início do século XX ainda essas ruínas eram visíveis.


Todavia, orientados pelo espírito que sempre nos tem impulsionado a trazer novas informações ou perspectivas diversas da história, impunha-se acrescentar mais detalhes ao que já tem sido escrito e constantemente repetido. Pelas informações que demos agora a conhecer, retiradas essencialmente dos “Anais Do Município de Tomar” e dos livros do Amorim Rosa, sabemos que o lugar da forca, e posteriormente a Capela de Santa Bárbara, estava instalada em terrenos do Convento de São Francisco.

Teríamos então que tentar a nossa sorte no livro que relata a história dos Franciscanos em Portugal, “Historia Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Província de Portugal…, obra rara que infelizmente só é consultável através de microfilme, o qual esteve indisponível por motivos de reparação da fita, sendo também um dos motivos que nos levou anunciar a publicação deste trabalho para 06 de Dezembro, dia de Santa Bárbara.




(o sublinhado é nosso)

Como poderão constatar a informação constante nos “Anais” e em Amorim Rosa é possivelmente retirada deste livro, sem todavia o terem transcrito, pelo que ficamos “de muitas alegrias” por a termos consultado e conseguirmos trazer ao vosso conhecimento mais uns detalhes que nos deixou encantados.

Informa-nos do local onde estiveram a forca e a capela, local de onde as “pessoas” podiam intrometer a “vista” no quotidiano dos Frades, pelo que concluímos que a ruína da qual temos vindo a escrever não será certamente o lugar de Santa Bárbara, visto esta não o permitir pela distancia a que está. Dá-nos também noticias sobre a devoção que o povo tinha à imagem do Cristo Crucificado, iluminando-o dia e noite para que fosse sempre “manifesto” aos olhos dos Tomarenses. Uma “carvalheira” de misteriosa imagem teria surgido junto ao local e em 1699 teria sido alvo da atenção de Frei Fernando da Soledade.


Próximo Capítulo
OS DEMÓNIOS DO CONVENTO DE CRISTO
Os mundos subterrâneos

12/18/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE VI

A 2ª INCURSÃO
A exploração

Fósseis do período jurássico, sepultamentos do período neolítico e fiança do século XVI não foram coisa que se encontrasse no local, tão-somente umas enxurradas de terra, que ao longo dos tempos têm encontrado encosto naquelas antiquíssimas ruínas. Limpo o local de alguma vegetação avulsa que impossibilitava o reconhecimento do espaço, fez-se um tosco levantamento visual do espaço e das suas medidas.
S
Esquiços da ruína por dois dos elementos do grupo feitos em Junho

O edifício é composto por dois espaços comunicantes, um interior e outro que parece ser aberto com alpendre, já destituído das colunas que o suportariam.
S
Apesar de não se ter revolvido as terras do interior dos espaços do edifício, conseguiram perceber que debaixo desse metro de terra, escondia-se um lajeado de boa pedra. Tanto o espaço interior como o exterior eram dotados de cobertura de telha vermelha, possível verificar pela existência de algumas que espreitavam por entre as terras nas quais se haviam afundado.
S
A entrada para o recinto exterior, através do qual se teria acesso ao compartimento interior, devia ser de acesso por meio de uma escadaria frontal, da qual já não subsistem vestígios. O declive à frente é muito acentuado pelo que é natural que essa escada tenha desaparecido colina abaixo.
S
Visto terem encontrado o que parece ser um caminho antigo, que confina com o lado esquerdo do edifício, leva-os a pensar que poderia existir mais que um caminho de acesso ao local. Caminho esse que não é possível percorrer senão uns poucos metros, visto estar demasiado arborizado por vegetação bravia.
S
Não são especialistas no tema, nem têm aspirações a tal, pelo que ficam aqui algumas fotos que podem ajudar-vos a ilustrar o descrito. Todavia está longe da percepção que se tem no próprio local, visto não existir ângulo suficiente para tirar fotos suficientemente elucidativas do complexo por inteiro.


Parte de cima da ruina
A porta para o segundo compartimento – O muro de suporte do recinto
 exterior e começo da escadaria
Voltron nas medições do local – Degraconis com uma telha recolhida nos escombros
O lageado do recinto exterior – Caminho lateral de acesso
Muro exterior e interior da ruína
A ruína está como que encastrada na colina

Visto de uma cota inferior. A escadaria, a existir, entroncaria
 nesta abertura do muro.
  
Não sendo estes “pastores” entendidos na matéria, mas dotados de uma vontade Gualdiana em “(re)descobrir Tomar”, procuram no concelho pelo paradeiro de construções semelhantes. Apesar de terem encontrado edifícios arruinados de construção aparentada, quanto aos materiais usados, não se conseguiu calcular de que data. Não esmorecendo nessa incansável tarefa, acabaram por identificar uma antiquíssima casa muito semelhante, quer na forma de aparelhagem da pedra, quer nos materiais usados, e este datado. Poderá o pardieiro encontrado ser do mesmo século?

Trata-se da Casa da Água nos Brazões que faz parte do sistema hidráulico do aqueduto dos Pegões, também designado por casa da Porta de Ferro, uma construção de 1610, com abóbada de berço e um engenhoso sistema de repartição das águas que actualmente está num estado miserável.
S
Mãe-d'água da Porta de Ferro, nos Brasões (Edifício de 1610)

Aqueduto de traça do aqueduto Felippo Terzi (1584), arquitecto-mor do reino.
O aqueduto estende-se ao longo de cerca de 6 quilómetros, sendo composto
por um total de 180 arcos de volta perfeita

Próximo Capítulo
SANTA BÁRBARA DOS SETE MONTES
Tomar Lendário

12/12/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE V

CRUZ QUEBRADA
Uma Réplica da Cerca do Convento

Desengane-se aquele que pensar que isto é só “Mata”, é também muito estudo e dedicação. Quando pensamos que a investigação está concluída e pronta a publicar, costumamos entrar numa fase de maturação. Simplesmente a deixamos, passo a expressão, a “fermentar”, e não são poucas as vezes em que somos surpreendidos com novas pistas de investigação.

Com efeito, fomos surpreendidos com a notícia de que a Cerca do Convento em Tomar tem uma réplica em Cruz Quebrada, em Lisboa. Sem nos pudermos alongar no assunto, o artigo é extenso, deixamos aqui alguns apontamentos merecidos sobre o assunto.

Trata-se da Quinta de Santa Sofia, antiga propriedade dos Condes de Tomar, cujo Palacete é da autoria do Arquitecto José Luíz Monteiro, detentor de obra notável na região de Lisboa, autor de obras como a Estação do Rossio em Lisboa (1886) e o Chalet Biester em Sintra (1890), entre outras de referência arquitectónica. Foi o introdutor do Ferro Forjado em Portugal.

O Palacete de Santa Sofia

“Os magníficos jardins da Quinta de Santa Sofia, representam uma reprodução da cerca do Convento de Cristo (Tomar), que também foi propriedade dos Condes de Tomar, e complementam a beleza do Palacete em harmonia, realçando a sua arquitectura singular. A "cerca" mandada construir pelo 2º Conde de Tomar nos jardins do Palacete de Santa Sofia evoca assim a ligação histórica da sua família à cerca do Convento de Tomar. Dos terrenos originais ficou cerca de 1 hectare, onde se situa o Palacete, uma construção mais antiga e os jardins com árvores centenárias, onde se encontra a réplica da cerca do Convento de Cristo.”

O Palacete em estilo árabe atrás do muro

O Palacete e os Jardins atrás do Palacete – Ponte do Jamor do sec. XVII

Não somos fascinados por numerologias ou cabalas numéricas, muitas das quais forçadas, mas não deixa de ser curiosa, a presença do número 7 nas pesquisas que se fizeram ao redor deste local onde se insere a suposta “réplica” da Cerca Conventual da Mata dos Sete Montes (RTP), assim como a repetição do espírito bucólico presente na “Lusitânia Transformada”.

Se em Tomar os “pastores” são personagens de uma novela, não obstante ser possível as identificar na esfera real do quotidiano do autor, na zona do Vale do Jamor, no fim do qual se situa a Quinta em questão, em Cruz Quebrada, podemos encontrar uma linda Pastora, insólita toponímia de uma pequena povoação na margem direita do rio Jamor, Linda-a-Pastora, a qual pode muito bem conduzir-nos para antiquíssimos cultos relacionados com as religiões do período neolítico, se virmos que do outro lado do vale onde se situa esta povoação, podemos encontrar uma linda Velha, ou seja, Linda-a-Velha, possivelmente expressões ligadas a vestígios da Deusa Mãe pré-ariana, Deusa Tríplice, que se manifestava como “a Jovem”, “a Mãe” e “a Velha” ou “Anciã”, alegoria das fases da lua e do ciclo das sementeiras.

Antes de dedicar mais um parágrafo ao assunto anterior, há então que dar a conhecer a presença de mais um 7, os Sete "Montes" que rodeiam Cruz Quebrada, e glosando a obra do Padre Francisco da Silva Figueira de 1865, podemos dizer que “é monstruosa na maior parte, sendo as suas elevações principais a da serra de Carnaxide (1), cujo cimo se eleva a 150 metros do nível do mar, a da serra de Linda-a-Velha (2), 110 metros, a do Monte de Santa Catarina (3), 100 metros, a do Monte de Algés (4), 95 metros, a da serra dos Agodinhos (5), 90 metros, a da serra da Linda-a-Pastora (6), 90 metros, a dos Altos da Viagem(7), 80 metros, e a do Monte do Peito de Dama…”, desta última não chega a dar medição por não a ter em conta como tal, ou então, na esteira do Gabriel Pereira de Castro, que atribuiu a Lisboa sete colinas por forma a reconhecer-lhe origens sagradas, consolidá-la também como lugar consagrado, e que curiosamente também tem o seu rio de cinco letras como Lisboa (Jamor/Tagus). Todavia consideramos ser apenas uma coincidência feliz neste âmbito.

Ao passo que Fernão Álvares do Oriente “canta” a mata dos Sete Montes de Tomar, talvez único a fazê-lo e a dar-nos uma descrição do interior da Cerca, o Vale do Jamor e a Cruz Quebrada são enaltecidos pela “pena” de diversos escritores do período romântico, que chegaram mesmo arrendar casas de varaneio no local. Personagens como Cesário Verde, Tomás Ribeiro, Pinheiro Chagas, Bernardino Machado e Garret, este último, “chegando à ribeira do Jamor, parei exactamente no meio da sua ponte – a actual ponte construída em 1608 na Cruz Quebrada -, junto ao Palacete de Santa Sofia, porque a várzea que daí se estende, recurvando-se pela direita de Carnaxide e os montes que a abrigam em derredor, estava tudo de uma beleza verdadeiramente fascinante”

São também 7, os “moçoilos” que em Maio de 1822, no Vale Bucólico do J(amor)*, em perseguição de um coelho, descobriram uma gruta, cavidade dentro da rocha calcária, com muitos ossos humanos e um altar com uma imagem de Nossa Senhora com o manto muito desmaiado e “debruado de espiguilha de prata”. À aparição seguiram-se os milagres, criou-se um culto, estabeleceu-se uma romaria, e ficou o santuário erigido no sítio conhecido como Senhora da Rocha.


“(...) Um dos gaiatos, o mais pequeno, conseguiu entrar, e ao ver que se tratava de uma gruta, grande, chamou os outros. Uma vez entrados todos, viram no chão uma laje e quando conseguiram erguê-la, a muito custo, descobriram duas caveiras, ossos humanos (...)”

 
Santuário Nossa Senhora da Conceição da Rocha. Do lado direito pode-se ver a entrada para a gruta, acessível também  através do altar. Não temos autorização para publicar foto .

“Esse Templo que alveja sobre a rocha na margem do Jamor
Tem por baixo uma gruta escura e fria
Onde uns moços da aldeia, acaso, um dia,
Encontraram a Mãe do Salvador”
De Tomás Ribeiro

Para os conhecedores da gruta na Mata dos Sete Montes em Tomar, não existirá dificuldade em imaginar semelhante epifania nessa concavidade, também esta, escavada na rocha e junto a uma linha de água. E se em Tomar não temos Capela, temos Charolinha.

A esta aparição precede os topónimos já citados, assim como um outro relacionado, como sinal premonitório do milagre da Rocha, Carnaxide, de radical “Car/Kar” , pré-romano, que no entender de M. J. Gandra se parece ligar a locais onde a “pedra” ou pedras se assumem como sagradas. A. de Almeida Fernandes no seu dicionário de Toponímia, editado no concelho de Lamego, confirma a significação do étimo “car(r)” como rochedo ou acervo rochoso. Alias são diversos as localidades com este étimo que manifestam a presença neolítica, Carenque, Carnak, etc, ou então fenómenos sobrenaturais claramente ctónicos, onde nitidamente se estabelece uma intima ligação do homem com a Terra ou uma união do telúrico com o celestial. Tal é também o caso de Carnide (car), no concelho de Lisboa, onde igualmente a Grande Deusa arcaica, se manifesta como salvífica e oracular, dentro de uma gruta a um Cavaleiro da Ordem de Cristo. Caso para dizer que no seio do infernal surgiu a Luz dos céus. Sobre este lugar nasceu uma das mais importantes igrejas da Ordem de Cristo, dedicada precisamente à Nossa Senhora da Luz.

Teríamos muito apreço em alongarmo-nos neste tema, mas apenas queríamos dar notícias da “réplica” da Cerca e enquadrar a Quinta de Santa Sofia para que se pudesse entender o cenário idílico onde se insere, sem todavia ainda encarecer-mos esta parte com a informação, de que também, este vale foi assento de um Convento, cuja primeira fundação deve remontar a 1171, e onde “aquellas paredes de mesquinha architectura, que denunciavam a todos os que viam a pobreza dos seus moradores, encerravam o mais rico Thesouro que havia em Portugal confiado à guarda das ordens monásticas, ou de quaesquer corporações religiosas. Esta circunstância é hoje, talvez, bem pouco sabida (… )(do Archivo Pittoresco séc. XIX). Com estas palavras somos capazes de ter reabilitado a visão de muitos sobre o Vale do Jamor, tão fustigado por má memória nas últimas décadas.

São diversas as toponímias de ruas no perímetro que
 se relacionam de uma forma ou outra com Tomar

* a origem do nome é outra 

Próximo Capítulo
A 2ª INCURSÃO
A exploração