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9/23/2010

TEMPLO & TEMPLARISMOS

13º ENCONTRO DO BLOG - SEMINÁRIO
Orante e Guia convidado: Manuel J. Gandra

Apresentação do Seminário

Raros foram os dramas humanos que, tal como aquele protagonizado pela Ordem do Templo, suscitaram paixões tão díspares, contraditórias e persistentes.

A copiosa bibliografia, antiga e moderna, disponível, apesar de nem sempre imaculada, constitui indício seguro da perenidade se não do ideário templário, pelo menos da inquietação que enigmas nunca cabalmente esclarecidos, como o do seu lendário tesouro ou do misterioso ídolo que alegadamente adoravam, tem persistido em alimentar.

A possibilidade da sobrevivência da Ordem após a sua suspensão canónica, em 1308, também não é questão despicienda. A avaliar pela profusão de sociedades, umas discretas, outras secretas, que se reivindicam como legitimas herdeiras do Templo, essa parece ter-se tornado, pelo menos desde o século XVIII, pretexto bastante para a reinvenção de inauditos ritos iniciáticos, creditados, de forma quase sempre anacrónica, aos templários.

Tais constatações são verídicas também para Portugal.

Porém, o público não dispondo aqui de alternativas credíveis (uma vez que são raros os investigadores independentes e os académicos que não fogem do assunto, como se diz que o diabo foge da cruz), é compelido a consumir produtos importados, invariavelmente de qualidade duvidosa. Acresce a tudo isto a desvantagem adicional de, geralmente, esses produtos ignorarem, omitirem ou subvalorizarem o papel da Ordem de Cristo, autêntica sucessora e herdeira do Templo, cuja práxis e projecto adoptou, nacionalizando-os.

A negligência e a deserção por parte dos especialistas nacionais tem, por outro lado, facilitado a adopção, bem como a implantação de um elevado número de elucubrações fantasiosas e infundadas, produzidas ora por franco-atiradores, ora por dignatários ou simples filiados em associações neotemplárias portuguesas ou transnacionais.

De facto, salvo algumas monografias e contributos pontuais com direito a destaque, as Ordens do Templo e de Cristo não conheceram ainda quem, numa perspectiva global, sistemática, sustentada (quer tradicional, quer documentalmente) e lusíada se aventurasse a resgatar a sua história, projecto, praxis e património.

A utilidade do empreendimento chegou a merecer, convém recordá-lo, o reconhecimento de autoridades como Pedro A. de Azevedo ou Jaime Cortesão, o qual sublinharia ainda a necessidade de conduzir tal estudo ponderando o quanto do tesouro templário (espiritual, mas também material) terá sido investido na preparação e concretização da expansão marítima, bem como na consolidação do Império português.

Aquilo que se propoê é um fim de semana de reflexão desinibida sobre a herança templária, consoante o seguinte alinhamento:

TEMAS

Ordem do Templo - as origens; ordenação canónica e jurídica (Regra e Estatutos); história institucional; segredos e enigmas;

Templarismos - posteridade legítima (Ordem de Cristo = Ordem Templária de Portugal); usurpações e usurpadores (da tradição maçónica à Nova Era);

Tomar à luz do paradigma hierosolimitano - cartografia do lugar santo, como pólo ontofânico e ontogénico;

Visita à cidade, ao Convento de Cristo e ao Castelo de Almourol.

Documentos a distribuir para análise e reflexão: Regra, Bula de instituição da Ordem de Cristo, Cartulários do Processo contra os Templários, Livros de Cavalaria nacionais, Lusitânia Transformada, etc.

PROGRAMA

SÁB 23/10
10.30 Ponto de Encontro Praça da República
Roteiro Centro Histórico: igreja S. João Baptista, Sinagoga, Moinhos de El-Rei, igreja St Maria do Olival
Almoço na Estalagem de Santa Iria no Mouchão
14.30 Sessão de estudo e reflexão: Ordem do Templo e Templarismos (ver programa detalhado)
Porto de Honra no Posto de Turismo
20:30 Jantar Convento de Cristo, seguido de Tertúlia.

DOM 24/10
10.30 Visita Guiada ao Convento de Cristo
Almoço
15.00 Percurso de Tancos até Almourol (em barco da junta de freguesia reservado para o efeito), seguida de visita guiada ao castelo.

INFORMAÇÕES | INSCRIÇÕES
POSTO DE TURISMO DE TOMAR
ou

9/08/2010

AVE DE SÃO CRISTÓVÃO

Uma Ave Oculta
Autoria: CETHOMAR Círculo SC
(Degraconis e Voltron)


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A pintura mural da Lenda de São Cristóvão na Charola

Nove e sete da noite. O encontro estava combinado junto à estátua de Gualdim Pais. Mesa reservada no restaurante “o Tabuleiro”. A conversa iria ser anotada, memorizada e gravada. Personagens: Degraconis e Voltron.

DG: Então como conseguiste ver a Ave na pintura mural do São Cristóvão? Nunca ninguém me referiu a sua existência. São escassos, senão raros, os escritos sobre essa pintura.

VR: Para dizer a verdade, foi a ave que me descobriu! Senti algo a observar-me na pintura! Olhei, e entre as folhas verdes da árvore, existia uma presença estranha. Era ela… que fazia ali aquela ave? Misteriosa e talvez de grande importância… quem sabe?

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A Ave dissimulada nos troncos da árvore

DG: Misteriosa e oculta! Das centenas de imagens que analisei antes de escrever um dos anteriores posts, nenhuma inclui uma ave na árvore, pelo menos como esta, sozinha. Algumas pinturas incluem-nas, mas julgo serem meramente decorativas ou parte integrante da paisagem em que o pintor enquadrou esse episódio da vida de S. Cristóvão. Esta é diferente. Apesar de oculta tem bastante destaque a partir do momento em que damos conta dela. Na lenda também não consegui encontrar referência explícita à existência de uma ave.
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Pinturas da Lenda de São Cristóvão

VR: Além da ave, se observares bem, de todas essas imagens que recolheste e me deste a ver, conseguirás perceber a presença repetida de um homem com uma candeia na mão! Na pintura mural da Charola também esse homem está presente! É um elemento característico das pinturas de São Cristóvão! Mas se reparares bem na pintura, vais verificar que ele está mesmo em frente do pássaro… até está a olhar para ele! Mas o mais interessante é o que ele segura na mão! Aquilo poderá ser, segundo as minhas conclusões, uma gaiola!

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A suposta candeia que entendemos talvez ser uma espécie de gaiola

DG: Uma gaiola? De facto essa candeia também é uma presença constante na generalidade das pinturas conhecidas. Inicialmente tive algumas dúvidas sobre esse objecto que o “ermita” segura na mão, mas da comparação entre as diversas imagens que pude analisar, concluí, sem qualquer dúvida, que se tratava de uma candeia. O que me permite afirmar com segurança essa conclusão, é o facto de em algumas pinturas essa suposta candeia ser mesmo representada como um facho de luz. Possivelmente a Luz de Cristo, se pensarmos que foi precisamente essa personagem que deu a conhecer Cristo a S. Cristóvão.
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O ermita em diversas pinturas nitidamente com uma candeia na mão
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O ermita com um facho de luz na mão

VR: Pois, mas neste caso…

DG: Podemos então pensar que estamos perante mais uma pintura Portuguesa que, quanto a esta lenda, apresenta alguns aspectos sui generis em relação à pintura europeia. Mas achas mesmo que não se trata de uma candeia e sim de uma gaiola?

VR: Aquilo não é uma candeia! Não existe nenhuma cor que evidencie uma iluminação, e para além disso tem uma espécie de porta pequena aberta na direcção do pássaro!

DG: De facto o seu interior parece ser de um forte negrume. De luz parece nada ter.
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Detalhe

VR: Exacto. Chegas à mesma ideia a que eu cheguei.

DG: Voltando à ave. De que pássaro se poderá tratar?

VR: Já estive a pensar muito nesse assunto! Estudei aquela ave e cheguei a algumas conclusões! O tamanho da ave, o bico e o pescoço comprido são algumas das características que analisei na pintura. Características tais, que quase me fizeram acreditar tratar-se de um abutre, especialmente da espécie grifo. Mas já coloquei de parte essa possibilidade. Outra possível hipótese é ser uma andorinha. Para dizer a verdade, já nem sei se aquilo representa uma ave real ou apenas uma ideia!

DG: Não seria de estranhar ser apenas a ideia de uma ave e não se tratar de uma espécie de ave em concreto. Contudo até sou capaz também de reconhecer uma andorinha como bem disseste.

VR: Então que simbolismo podemos encontrar numa andorinha que nos possa reforçar a ideia?

DG: Possivelmente não será uma andorinha e talvez nunca venhamos a saber o que pretendeu o pintor ali representar. Todavia, só por si já lhe podemos apontar um simbolismo evidente, ou seja, aquele que é usual atribuir às aves.

VR: O qual deve ser alto visto conseguirem voar próximo do céu…

DG: …e longe da terra. Sim, isso levou a que os autores dos bestiários aproveitassem a natureza desses animais para extrair ensinamentos moralizantes elevados.

VR: Então e sobre a andorinha em particular?

DG: Antes de mais, temos sempre que pensar em que tradição se vai interpretar o objecto visto poder diferir bastante de cultura para cultura. Não temos dúvidas que neste caso, estamos perante a tradição cristã, contudo, teremos de pensar se a sua representação é anterior ao Concílio de Trento ou não. Ou seja, sem esta contextualização simples, arriscam-nos a nem chegar próximo do que a imagem pretendia transmitir aos iletrados que a viam.

VR: De facto…

DG: A andorinha, pelo facto de ser uma ave migratória, tornou-se um símbolo da ressurreição de Cristo. Assim como Cristo desaparece e volta aparecer após três dias, também a andorinha se deixa de ver e volta a surgir na primavera.

VR: Espera ai! Queres tu dizer que anuncia então a primavera? Não é sinal de Primavera a presença abundante das flores na pintura! Fantástico!
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Pintura onde se repete a presença de flores

DG: Bem visto. Todavia lembro-te que a lenda refere a árvore ter florido e talvez daí a presença das flores. Volto a repetir que temos ter cuidado com as identificações que tentamos fazer, assim como os sentidos que lhes atribuímos.

VR: Pois…

DG: Conta uma antiga lenda que quando a Andorinha regressou dos misteriosos locais onde se recolhia durante o Inverno, ao passar por Jerusalém, deparou-se com Cristo crucificado, tendo então “vestido” uma capa negra para fazer luto.

VR: Ainda hoje a mantêm vestida então. Achas que a ave pode representar a alma de São Cristóvão?

DG: É uma hipótese. As aves, mais concretamente as suas asas, costumam representar a alma do homem. Se neste caso estivermos perante uma andorinha, até te posso dizer que representaria a alma penitente e dos arrependidos. Esta é uma das interpretações específicas da andorinha. Terei agora dificuldades em explicar porquê, mas podes consultar o Livro das Aves escrito no séc. XII, seguindo a tradição de interpretar simbolicamente e alegoricamente a natureza de vários animais e ainda de seres fabulosos, de pedras etc. Em Portugal surgiu uma adaptação desses manuscritos no Convento do Lorvão.

LIVROS DAS AVES_DIVERSAS GRAVURAS 
Da esq - dir.: Rola, Fénix, Corvo, Andorinha, Codorniz, Águia, Palmeira e Pomba
Livro das Aves, escrito em 1183, Mosteiro do Lorvão

VR: São Cristóvão é sem dúvida uma alma penitente e arrependida. E à árvore poderemos atribuir algum sentido em especial?

DG: Sim, mas acho que não vale a pena tentarmos associar-lhe algum sentido em particular. Caso fosse uma palmeira, o seu sentido seria facilmente apreendido. É uma árvore que só apresenta sentidos positivos e até se associa a Cristo.

VR: Mas não será uma palmeira certamente.

DG: Ainda sobre a ave, podemos pensá-la como a ave-do-paraíso, se bem que essa não tem asas (sorrisos). Não precisa porque no paraíso não existe necessidade de esforço. Não estão sujeitas à penosa lei da gravidade (sorrisos).

VR: Essa é boa! Mas agora que falas de Paraíso penso na árvore do paraíso…. à primeira vista, pela cor do fruto e pela forma da árvore, pensei que fosse uma laranjeira. A laranjeira pertence à família das Rutáceas, que engloba mais de mil espécies, quase todas tropicais ou subtropicais. Caracterizam-se por terem folhas lustrosas, cujas glândulas segregam óleos aromáticos, e pelas flores, que têm cinco pétalas. Mas sabes que a laranjeira não é uma árvore nativa na Europa, assim como não o é na Península Ibérica! Segundo alguns estudos que fiz no passado, a laranjeira foi plantada na península pelos mouros, quando estes dominavam estas terras.

DG: Já agora sabes como se diz Laranja em Turco?

VR: Sim… portukal! E em árabe diz-se portucale, em grego é portokali e em romeno é portocal. Compreende-se que o seu nome é muito idêntico ao nome Portugal. Com esta informação quase chegamos a perceber que o nome do nosso país, oriundo do nome Condado Portucalense, deriva da palavra laranja em árabe. Uma ideia extravagente a juntar a tantas outras.

DG: Queres dizer que Portugal pode derivar de palavra Laranja? Pronto lá se vai a teoria romântica da sua origem graalistica. Como deves saber, existe a ideia entre alguns estudiosos do oculto, Portugal derivar da junção de Porto e Graal. O selo rodado de Afonso Henriques, no seu ver, reforça essa ideia. Estou impressionado com as laranjas! Quando estive na Turquia, achei curioso designarem o nosso país de laranja na língua deles mas nunca imaginei que o fosse em tantas outras línguas. Já agora em Chinês também!

VR: Não, mas apesar de os mouros terem plantado por cá laranjeiras, os portugueses, no tempo dos descobrimentos, trouxeram laranjas da China para a sua comercialização. É por isso que as laranjas são denominadas "portuguesas" em vários países, especialmente nos Balcãs.

DG: De facto, até sou capaz de conseguir ali ver uma laranjeira com as laranjas meias encobertas pela folhagem, o que permite justificar alguma da falta de esfericidade do fruto. Então e as flores? Não são brancas as flores da laranjeira?

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VR: Sim, são! Mas as flores de fundo podem não pertencer à árvore ou pode ter as pintado dessa cor pr questões estéticas! E outro facto interessante é as flores da laranjeira terem cinco pétalas assim como essas flores!

DG: Todavia a lenda fala-nos de uma tamareira!

VR: Sim de facto, mas se observares bem, aquela árvore não tem características de tamareira! Para além disso, não existem tamareiras por estes lugares, como sabes!

DG: De facto uma Tamareira nunca será. Vejo que todas as flores têm 5 pétalas. O pintor deve ter-se inspirado numa laranjeira para esse efeito. Aliás existia um laranjal no Convento. Julgo que visível por detrás da Charola num iluminura quinhentista.

VR: Então vais gostar do que te vou contar a seguir! Sabes que nem todas as flores na pintura têm 5 pétalas! Existem 2, que eu descobri, que têm 6 pétalas!

DG: Não posso. Onde se escondem?

VR: Onde? Acredita que estão elas muito bem posicionadas! Uma em frente da cara de São Cristóvão e a outra mesmo ao pé do pássaro e da gaiola! Será coincidência?

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DG: Não sei o que pensar.

VR: Sabes que simbolismo poderá estar aqui envolvido? Que sabes sobre o simbolismo das flores e das árvores?

DG: Tenho algum conhecimento, mas não é oportuno alongarmo-nos nesse tema. Todavia também te digo que não vale a pena tentar decifrar significados desses elementos, sem conhecer bem a obra de um antigo monge do Convento de Cristo…

VR: Referes-te ao Frei Isidoro de Barreira que escreveu o “Tractado das significaçoens das plantas, flores, e fructos que se referem na Sagrada Escriptura : tiradas de divinas, & humanas letras, cõ suas breves considerações”?

DG: Bem, conheces bem o nome do livro. Nunca consegui decorar o título por inteiro. Infelizmente, só chegou até nós um volume. É essencial para se entender os significados que andavam associados às flores, plantas e frutos, pelo menos numa primeira abordagem. Mas voltando à gaiola! O facto de a gaiola estar aberta, caso seja uma gaiola, indica que espera o pássaro ou que o libertou, não? Pela posição do pássaro, diria que o espera. Terá isso algum sentido ou será apenas um detalhe sem importância ou intenção?

VR: Como tu dirias, nada na arte sacra é aleatório ou sem intenção. Tudo é pensado ao detalhe mas também não consigo concluir por uma hipótese ou outra.

DG: Pois…

VR: Faz-me bastante confusão que em todas as pinturas que analisámos, o objecto que agora pensamos ser uma gaiola ser sempre, e sem margem para dúvidas, um objecto que emana luz e neste caso em nada parece partilhar essa ideia.

DG: Apenas no século XVII, surgem dicionários e tratados que condensam esse vasto reportório iconográfico, para que o artista o possa utilizar de uma forma eficiente, sem correr o risco de não ser entendido. Baliza-se assim o pensamento simbólico às definições que essas enciclopédias obrigavam, em detrimento da imaginação individual de cada criador, verificando-se consequentemente a mera aplicação mecânica desses conceitos. Perdia-se na arte a sensibilidade simbólica em prol de uma objectividade tão característica do pensamento moderno. Visto ser esta pintura mural anterior a esse período, poderá ser produto de uma má interpretação do pintor ou mesmo uma ideia sua desviando-se do que usualmente vemos retratado.

VR: Talvez nunca venhamos a sabê-lo… Quanto a às enciclopédias, referes-te a César Ripa?

DG: Sim, também. Mas antes de César Ripa e da sua monumental obra Iconologia, à que não esquecer, entre outros, Alciato e a sua obra Emblemata.

 CESAR RIPA E ALCIATO
 
César Ripa (séc. XVII) e Alciato (séc. VXI)

VR: Independentemente de leituras simbólicas, já fico contente com a simples ideia de ter descoberto a Ave de S. Cristóvão e a gaiola, que possivelmente manteve-se escondida aos olhos de muitos que deambularam pela Charola nos últimos séculos.

DG: Também fico feliz apenas com esse pequeno detalhe.

VR: E se for ilusão óptica e tudo produto da nossa imaginação?

DG: O pintor não é alguém inspirado, mas sim alguém capaz de inspirar os outros, disse Dali. Talvez seja isso que nos esteja então acontecer!

VR: Foi uma bela inspiração!

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(Parte II - brevemente)

9/01/2010

SINTRA TEMPLÁRIA

Os Misteriosos Subterrâneos
Autoria: CETHOMAR Círculo Sintra Templária
(Degraconis, Lexior e Peninha)

1. Introdução (por Degraconis)
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“(…) Em reforço desta segunda hipótese (da presença templária naquelas casas), cujas confrontações se ajustam muito bem às que constam da carta de venda, encontrámos inesperadamente, no precioso arquivo dos Serviços de Turismo, onde tudo se guarda e nada se perde, um estudo que o espeleólogo Augusto Morgado publicou no Jornal Época de 12 de Agosto de 1972, depois de ter explorado a galeria subterrânea que parte das caves do Cave Paris, uns oito metros abaixo do nível do solo, em direcção ao Palácio Real. Segundo o esquema que acompanha esse artigo e que se reproduz na planta a ponteado, a passagem subterrânea prolonga-se para norte, sob a Praça da Vila, de onde bifurca duas vezes (…) ainda hoje se repara no muro da actual Rua dos Arcos (outrora Travessa dos Fornos) a abertura de uma chaminé de ventilação, cuja profundidade se pode sondar facilmente.  ” (a chaminé)

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Café Paris, Hotel Central, “Chaminé“
e Travessa dos Fornos

O trecho acima transcrito é retirado de um artigo do ilustre Sintrense Francisco Costa intitulado “O Paço Real de Sintra” inserido no Vol. I dos “Estudos Sintrenses” editado pela Câmara. Já conhecedores desta passagem, no citado texto, e em outras publicações que pouco mais fizeram do que transcrever na íntegra as palavras do Francisco Costa, decidimos procurar o citado artigo na ânsia de conhecer por inteiro a descrição dessa investigação levada a cabo pelo Espeleo Clube de Sintra, do qual A.Morgado era presidente.

Insolitamente, na posse do Jornal referido, não encontrámos o dito artigo que nos revelaria mais informação. Todas as referências que conhecíamos relativas ao artigo apontavam a mesma data e o mesmo Jornal. Poderia tratar-se de um lapso por parte do Francisco Costa? (jornal de 12 de Agosto de 72)

Após saturadas investigações conseguimos obtê-lo, e para espanto nosso, não eram apenas aqueles os dados errados mas também, o próprio nome do espeleólogo – não era Augusto mas sim Alexandre. Poderíamos pensar que houve uma dissimulação da parte do Francisco Costa – os outros apenas repetem o erro – numa tentativa de evitar o acesso a esse magnifico artigo, todavia, não cremos que o Francisco Costa o tivesse feito com essa intenção.

Esta galeria no centro da Vila, dava aos defensores do Paço uma saída ou uma entrada oculta, que deve ter caído em desuso quando as casas entregues aos Templários se tornaram independentes dos mea palacia fortificados – segundo Francisco Costa. Como poderão verificar mais adiante ficavam as casas Templárias na proximidade do Palácio Real. (o Paço)

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Na senda das investigações do Alexandre Morgado descobrimos um outro artigo que aborda uma outra passagem subterrânea no Castelo dos Mouros de Sintra, que talvez comprove a lenda que invoca a existência de um túnel que partiria do Castelo e percorreria toda a serra em direcção à Vila Velha ou eventualmente a Rio de Mouro que dista alguns quilómetros de Sintra.

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O artigo sobre o Castelo

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Excertos da obra: Investigação ao castello situado na
Serra de Cintra - Abade Castro e Sousa - Ano de1843

Mais recentemente, nas proximidades do espaço do “Café da Avó”, novos subterrâneos foram descobertos, penetrando serra adentro, possivelmente também obra dos Templários ou dos Mouros, conforme notícia dada à estampa pelo Jornal A Capital. Teria esta entrada, sido descoberta por detrás de uma velha porta de uma dispensa.

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Sobre este último túnel existe a ideia de que a sua entrada foi obstruída ou mesmo destruída em virtude das obras que o edifício tem vindo a sofrer nos últimos anos, todavia, e não querendo atrair visitas indesejáveis ao local – é propriedade privada – deixamos aqui registo do seu interior.

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A porta da dispensa actualmente
murada e interior

2. Os Bens Templários em Sintra

Neste trabalho consultámos várias fontes, umas mais factuais, outras menos, mas que não deixam de ser para nós fontes seguras no objectivo último de comprovar a presença dos Templários em Sintra e resolver alguns dos seus mistérios associados à Serra que desde tempos imemoriais tem sido designada por “ Mons Lunae” ou Monte da Lua , mais precisamente os “túneis” que a perfuram, dando-lhe a semelhança de um “ queijo suíço” . Mas mais importante que todas as fontes consultadas foi a nossa presença e investigação “ in loco” nos locais associados á presença Templária em Sintra, associando laivos de inspiração e saudade proporcionados por esta Ordem que ainda hoje mexe com muita gente , em particular com os autores deste artigo.

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Cruzes Templárias em Sintra

Falando então da presença Templária em Sintra e consultando Francisco Costa no seu “ O Paço Real de Sintra “ verificamos que a fonte mais cabal atestando que a Ordem dos Templários esteve em Sintra é a Carta de Doação (1152) de D. Afonso Henriques e sua mulher, a rainha D. Mafalda, a Gualdim Pais, Mestre Geral da Província Portucalense do Templo, de «Damus tibi prefatas domus: damos-te as sobreditas casas, com as suas herdades cultivadas e incultas, para que as tenhas e possuas em todos os dias da tua vida». (a carta traduzida)

Prefatas domus quer dizer “casas já feitas” e “boas casas”. Aqui, “casas” no sentido de espaço imóvel, tanto podendo ser habitação como terreno culto, bom para semeadura e colheita. Há 3 cópias desta Carta de Doação no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Livro de Mestrados, fl. 66, e Ordem de Cristo, cod. N.º 233, fl. CXXXIII, e cod. N.º 235, fl. 68 v), estando todas datadas da era de 1190, correspondente a 1152 d.C.. Viterbo que viu o original em Tomar, também lhe atribui essa data. (Elucidário, ver Cruz), contudo existe quem afirme que a doação deve ter outorgada cinco anos mais tarde.

elucidário
Elucidário - Selo da Carta de Doação

O Visconde de Juromenha na  sua Cintra Pinturesca (Lisboa, 1838), na página 208 (Casas em Cintra. Doação á Ordem do Templo.) associa na forma de tradução prefa(c)tas domus por “paços já feitos”, o que tem levantado alguma polémica relativamente à data de construção daqueles, devendo-se talvez ler como “casas já doadas”, ou seja, já teriam as casas sido doadas antes da assinatura da doação escrita.

Quanto à doação dos mesmos a D. Gualdim por todos os dias da sua vida, quer dizer: doação perpétua à Ordem do Templo, na pessoa do seu Mestre Geral da Província, enquanto a mesmo existir. Tanto assim é que não foi Gualdim Pais a dispor individualmente dessas casas mas o colectivo dos cavaleiros Templários (in Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1744-1822), Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram. Lisboa, 1865, 1 vol.).

Um outro documento é o da Inquirição aos bens das Ordens e Mosteiros do Termo de Lisboa, que se procedeu no final do reinado de D. Afonso II (1220), ou já em pleno reinado de D. Afonso III (1258), pois que o documento (A.N.T.T., gaveta 1, m.º 2, n.º 18) não tem data. Diz sobre os bens dos Templários em Sintra: «em primeiro lugar umas boas casas na vila (in primis in villa unas bonas casas)», e além delas umas tendas, duas vinhas, uma almoinha, um moinho de água, um pomar no sítio de Almoster (sic) (onde se insere hoje a Quinta da Regaleira) e ainda vários casais no litoral sintrense.

Todos esses bens constituíam a «baylia» da Ordem do Templo em Sintra. Portanto, em Sintra a Ordem não teve Preceptoria (Priorado) mas bailio (Comenda), com jurisdição sobre várias Granjas ou Fazendas suas dispersas pelo território em volta da vila, ou seja, no almosquer, que quer dizer precisamente, em árabe, “arrabalde”.

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Um Cavaleiro em Sintra

(continua)

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