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7/03/2009

PORTA DO HADES

No rasto das misteriosas caves da Charola Templária
Autoria: SCALIBURIS

O texto que se segue foi enviado pelo Scaliburis, um velho amigo do blog, no âmbito de uma conversa que se vinha desenvolvendo no fórum, tendo-lhe sido lançado o repto de ensaiar um texto para publicação de sua autoria. Independentemente da polémica que possa gerar e das questões que levanta, visto ser um tema delicado, somos concordantes em o publicar, destacando desde já o testemunho inédito de um “antigo” e o desenho que dá-nos a conhecer.

Esta história foi-me contada no mesmo local, em duas ocasiões distintas e por pessoas diferentes. Do lugar de Valado dos Frades, hoje Vila, nenhum dos anciãos cuja identidade omito em respeito pela sua memória, se encontra já entre nós. Assim, serei eu a suportar a dúvida do que lhes vou contar.

Foi com enorme admiração que vi publicada no fórum Thomar a foto que identifico com esta história. E friso aqui bem, mais uma vez, que até haver provas do que aqui se conta, não passará de uma história contada por gente antiga.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Porta do Sangue


Uma abertura que se encontra do lado poente da porta do Sangue, na muralha sul do castelo de Thomar. Em cima a servir de verga, a pedra da suposta porta de Hades, o deus do mundo subterrâneo. É visível a serpente com uma cabeça de dragão de cada lado.

Costumava ir passar uns tempos, nos anos 90, em Maiorga, a casa de um amigo do meu sogro, que tinha sido maquinista dos caminhos-de-ferro em Moçambique, na era colonial. Juntávamo-nos todos e íamos a Valado dos Frades, às festas de São Sebastião e da chouriça.

Como sempre, sondava os velhotes lá do sítio para saber sobre as lendas e tradições da região, vício que, reconheço, me acompanha sempre que me desloco a qualquer lugar. São sem dúvida os nossos melhores “livros” de estudo. Refiro-me à tradição oral, que infelizmente, está em vias de extinção. Palavra puxa palavra e das histórias de Valado dos Frades, passando pelas de Alcobaça, fomos parar às de Thomar.


Pelourinho de Maiorga, vendo-se em segundo plano a capela com portal manuelino. Um excelente trabalho de limpeza e recuperação.

Contou-me este velhote que, “ …se dizia antigamente, usar-se contratar no Valado, mestres pedreiros e carpinteiros para trabalhar nas obras do castelo de Thomar. Isto há muitas gerações atrás. Um destes mestres tinha por costume, quando voltava a casa, fazer o registo das transformações que se operavam no interior do castelo pois sabia que assim se iria repetir, até muito do que era antigo ficar irreconhecível ou até desaparecer.
Uma das obras que o impressionava mais era a que desfigurava a bonita e intrigante calçada árabe que os antigos frades do Templo usavam nas suas cerimónias e que conduzia directamente à cave da Igreja do Templo.
Diziam os frades do castelo que Dom Gualdim Paes tinha trazido do Oriente os planos da construção da Igreja que imitava a do Santo Sepulcro e que tinha mandado fazer a calçada ao estilo árabe pois ambas faziam parte da tradição arquitectónica dos islamitas, e serviam não só para as cerimónias religiosas mas também para as investiduras dos novos cavaleiros. Diziam ainda que o Mestre Templário tinha trazido também algumas relíquias e muitos pergaminhos que guardava numa lapa muito antiga, escavada na rocha em forma de sala que havia no lado direito da entrada da cave e que tinha uma porta a que chamavam a porta de Hades e que quando dela falavam se benziam muitas vezes. Essa porta assentava em cantaria de pedra muito antiga cujas colunas laterais tinham esculpido, um dragão de cada lado que chegavam acima e olhavam uma serpente alada no topo.
Reza a tradição que só lá entrava um velho judeu para trabalhar na tradução desses pergaminhos e que contava já, fruto do seu trabalho, vários volumes manuscritos traduzidos para o latim.
Muito tempo depois desmancharam as cantarias e taparam tudo incluindo grande parte da calçada árabe e as pedras trabalhadas nunca mais foram vistas.
Assim o mestre pedreiro deixou em registo, a descrição do seu trabalho até que o tempo se encarregou de as ocultar. Dizem que em 1936, o padre da freguesia do Valado deitou para o fogo um livro velho que tinha encontrado por detrás do retábulo da capela de S. Sebastião e que talvez fosse o livro de registos do mestre pedreiro. Mas as histórias já se espalhavam há muito, através da tradição oral do povo.



Parte do desenho que me forneceram em relação à "nossa porta".A parte de baixo do desenho foi cortada deliberadamente pois contém informação que me pediram para não reproduzir, por não ser oportuno.


Verdade? Invenção do povo? Um dia, quando houver vontade e coragem de repor o velho castelo como era ao tempo do mestre Templário Dom Gualdim Paes, talvez se confirme a veracidade destes contadores de memórias.

Será que a velha pedra que se encontra ao lado da porta do Sangue é uma réplica ou é a que fazia parte da enigmática porta de Hades, o deus dos subterrâneos? As duas cabeças de dragão estão lá, ambas guardando a serpente alada que os sábios do mundo antigo diziam representar o conhecimento, a sabedoria.

Urge recuperar esta pedra e devolver-lhe a dignidade roubada por quem a colocou à saída de um escoadouro.

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Velha calçada árabe que integraria o acesso à cave da Charola Templária do castelo de Thomar

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Sobre o desenho apresentado:

Quem me forneceu o desenho garante-me que um seu familiar o executou aquando de uma exploração que efectuou aos subterrâneos do castelo em 1918. É este senhor que detém a descripção desta aventura do seu antepassado e que mo deu a conhecer. Pode-se ler nessa descripção que partes da calçada, da praceta e dos acessos à cave da charola eram visíveis nestes subterrâneos. O desenho da porta foi executado na altura e descrito como uma segunda porta igual à que foi desmontada, atirada para o entulho e cuja verga acabou no local que sabemos.Pode ser difícil de acreditar mas durante muito tempo, quando o castelo esteve em ruinas e abandonado, foi alvo de explorações deste género por parte de particulares, existindo alguns registos coincidentes quanto ao que existe do que foi deixado da época Templária.Eu próprio, em tempos, por lá andei e digo-te que é um mundo.

Muita gente foi ameaçada e alguns até foram molestados principalmente nos anos 40 pelos que foram incumbidos da reconstrução do património em Portugal e que se tornou....

COMENTÁRIOS NO TÓPICO "DO CASTELO E DO CONVENTO DE CRISTO" DO FORUM

(a partir da página 8)