Visita guiada e palestra
O
culto a Nossa Senhora da Luz em Carnide, inicia-se no século XV e tem como
principal fomentador Pêro ou Pedro Martins, um habitante local que, segundo conta
a história, estaria na Argélia, pelo ano de 1463, onde foi capturado pelos
árabes. Durante o tempo que ficou preso, desesperado, terá começado a rezar a
Nossa Senhora para que o livrasse daquele tormento pelo que durante trinta dias
lhe apareceu uma imagem da Virgem. Em troca da sua liberdade a imagem ter-lhe-á
anunciado que em Carnide junto a uma fonte, onde havia algum tempo aparecia uma
luz (que muito intrigava os locais), acharia uma imagem sua à qual deveria
erguer uma ermida. Pêro Martins foi “miraculosamente” libertado, regressou a
Carnide e junto à Fonte do Machado que estava em “hũ espeso bosque”[1] terá
descoberto a imagem de Santa Maria por baixo de uma pedra. A população local, naturalmente
animada com esta revelação, oferece-se para ajudar na construção de uma ermida no
sítio onde foi encontrada a imagem, junto à Fonte do Machado e consagrada a
Nossa Senhora da Luz, pelas circunstâncias que conduziram à sua “descoberta”.
Na
realidade pouco ou nada se conhece da primitiva ermida, da qual nos chegaram
muito poucos elementos históricos e materiais sabendo-se no entanto que “...é de muito grandíssima romagem, assim de
gente de Lisboa e seu termo, como de todo o Reino, e de estrangeiros que à dita
cidade vêm...”[2]
Durante
o reinado de D. João III, a ermida de Nossa Senhora da Luz foi doada à Ordem de
Cristo dando lugar à construção de uma igreja de maiores dimensões[3], patrocinada
pela Infanta D. Maria (1521-1577), irmã do monarca, que conhecedora das
virtudes do local, das propriedades benéficas da fonte do Machado e com particular
devoção a Nossa Senhora da Luz, irá destiná-la para seu mausoléu. Afirmando o
seu poder económico, político e social, a Infanta delineia para o sítio da Luz
um projecto que parece assentar claramente na criação, em conjunto com a Ordem
de Cristo, de um verdadeiro núcleo espiritual e de auxílio à população local e distante,
reiterado quando edifica à sua custa, a construção de um Hospital[4] para acolher
enfermos pobres e peregrinos.
O
conjunto edificado constituído por Convento e Hospital e a total delegação da
sua administração na Ordem de Cristo, atribui-lhe uma função renovada, na
medida em que não assumindo os contornos militares de outrora, tornava-se
fundamental conceber novos objectivos. Portugal continuava na sua expansão pelo
mundo, nomeadamente na Índia e no Brasil, facto que levava muitos mareantes e
navegadores a rumarem aqui antes de embarcarem, dada a sua grande devoção por
Nossa Senhora da Luz.
Em
1755, os edifícios do Convento e Hospital sofreram graves danos. O Convento é
extinto em 1795 calculando-se que, até 1807, terão aí residido religiosos que assegurariam
o funcionamento do culto e da eucaristia. Com a instalação do Colégio Militar
no edifício do Hospital, em 1814, passaria o restante conjunto monástico a
fazer parte das suas instalações.
O
culto a Nossa Senhora da Luz que nasce em Carnide, é fortemente assimilado no
restante país e no resto do “mundo ultramarino português” através da Ordem de
Cristo que o propaga e implementa. Este conjunto insere-se numa nova dinâmica
da Ordem, ainda pouco estudada, com a reestruturação do Convento de Tomar e a
construção de duas novas casas em Coimbra (Colégio de Tomar) e Lisboa (N. Sr.
Da Luz). Com a destruição do Colégio de Coimbra, Nossa Senhora da Luz torna-se
a segunda casa da Ordem de Cristo ainda existente, assumindo um papel
primordial na história do seu património arquitectónico, urbano, histórico,
monumental e etnográfico.
(Iremos ainda colocar mais dois textos neste espaço de apresentação da visita)
Sem comentários:
Enviar um comentário