A origem desta crónica está na
boca de um velho com mais de noventa anos. Diz ele que quando novo ouviu os antigos
a falar sobre os templários na sombra de um candeeiro. Falava ele até à questão
que dá fundo a esta crónica:
-"Sabe para onde foram os
últimos templários que zarparam com a sua frota do norte de França?”
Os escritos que conheço cercam este tema com delicadeza dando alguns a conhecer que naquela frota que partiu do norte de França ia parte dos valores materiais e documentos secretos da antiga ordem. De acordo com alguns autores, a frota terá tido uma divisão algures no mar do norte, tendo em parte seguido para a Escócia e a restante até um porto perto da Nazaré onde terá ocorrido o desembarque e a continuação de viagem por terra até Tomar.
Esperava uma resposta dentro do
meu conhecimento literário, até que a resposta foi.
- Paio de Pele.
- Onde fica Paio de Pele?
- A Praia do Ribatejo tinha esse nome. Foi lá que eles desembarcaram, foi naquela região onde estes últimos templários franceses em sua parte ficaram a viver.
- Como sabe isso?
- Foram os velhos que me contaram eu era ainda rapaz novo. E digo-lhe mais, o antigo nome da terra “Paio de Pele” está ligado aos templários. Aliás “Paio” vem de “Pais” e “Pele” está ligada a uma palavra estrangeira que significa algo como castelo ou torre.
Nesta conversação partimos da
realidade de que antigamente era possível navegar do mar até ao Zêzere.
E é este o ponto de partida para algo mais. O primeiro passo é descobrir se realmente a Praia do Ribatejo se chamava Paio de Pele, e a resposta é afirmativa. Há documentos que remontam a finais do século XIV, que denominam o local de PAYOPÉLLE. Tal como surge no documento do Frei Zacharias, talvez mesmo o primeiro em que surge escrito pela primeira vez.
Considero provável a presença mais antiga do nome de PAYOPÉLLE, sendo importante destacar que estamos a falar do mesmo século da extinção da Ordem do Templo. Este documento e o ano de 1307 deverão estar separados por cerca de oitenta anos. Sendo provável que o nosso bom português Frei Zacharias tenha conhecido ou ouvido falar dos franceses templários que por ali ficaram a morar. Será que o nosso velho atual tem razão nesta última morada templária?
PAYOPÉLLE o que significa afinal?
De acordo com informação disponível
sobre a Freguesia da Praia do Ribatejo, o nome Pay Pelle surge pela primeira
vez no Foral de D. Manuel I no ano de 1519.
Uma pura e boa curiosidade, Pay
Pelle quase que coincide com o nome de uma marca de pagamentos da atualidade.
Curiosamente como sabemos, os
Templários eram os verdadeiros banqueiros da época. Poderá existir aqui alguma
forma destas duas palavras se referirem a algum tipo de pagamento ou local de
cobrança monetária? Pagar para proteger?
De acordo com a mesma fonte Pay
Pelle foi comenda templária até 1311 e entre 1319 e 1843 foi comenda da Ordem
de Cristo. Onde existe atualmente o cemitério de Praia do Ribatejo terá
existido um castelo da antiga ordem de nome Castelo do Zêzere.
Torna-se cada vez mais
irresistível este nome.
De acordo com outras fontes
populares Paio de Pele provém de Gualdino Pais. No entanto considero esta
origem pouco provável, mas não a excluir.
Depois seguindo a lógica do nosso
amigo, temos “Pay” que provém de Pays (de Gualdim Pays portanto) e Pelle que
diz ser de uma língua estrangeira que a adotou, decerto de origem latina, em
que há ligação direta a uma torre ou castelo. Esta é a explicação do nosso
velho.
De uma forma direta temos as
britânicas torres de vigia chamadas de Pele ou Peel. Do inglês “Pele Towers” ou
“Peel Towers”; torres de vigia cuja denominação é de origem medieval.
Temos aqui o exemplo da escocesa
Wrae Tower de 1320
Teríamos aqui uma nova possível conclusão
que acerta com o raciocínio do nosso amigo, a torre de Pais, de Gualdim Pais.
Seria esta uma referência à torre do desaparecido Castelo de Punhete em
Constância?
Temos um exemplo curioso em
termos de sonoridade, de um tipo de castelo romeno cujo estilo é bastante
recente mas cuja origem deverá estar relacionado com o anterior, de nome
Castelo Peles.
Após uma nova busca pareceu-me
interessante esquecer todos os cenários anteriores e perceber se havia outra
origem, outro sentido mais ligado à comitiva vinda de França.
Olhemos agora para uma origem
francófona, um nome criado pelos templários franceses de 1307.
Traduzindo Pélle, do francês para
o português actual, significa pá. Se considerarmos que Pay provém de pays,
significa país. Dado que considero pouco provável mas não a excluir.
De acordo com uma amiga tradutora
a quem coloquei a questão, mantendo a origem francófona, “Pélle” pode derivar
de “Palle”. E Palle no francês medieval significa uma peça de roupa, um género
de uma capa que serve para colocar sobre a veste. Supondo, de acordo com a
amiga tradutora, que Pay significa pagão, teríamos “Capa pagã”. O que poderia
envolver uma história ou objeto ligado a este nome. Podemos relembrar o deus
grego pã, deus dos bosques e dos campos cujo nome em grego significa “Tudo”.
Aqui se abriria um novo assunto.
Os templários franceses tinham em
mãos uma perseguição e consigo teriam alguns segredos. A criação de uma nova
ordem? Em torno do que podemos criar algo novo? De um objeto que naquele tempo
tinha um significado enorme: a espada. Tomando esta linha de raciocínio temos
outra hipótese, “Pay” pode resultar de “Payens”. Surge aqui outra pessoa. Hugo
de Payens. Tomando que Pélle significa Torre, ficaria Torre de Payens. Agora
vamos olhar para “Pélle” com outra origem. “de Pelle”, ”Payens de Pelle” ou
Payens Pélle. Como comparação surgiu-me o nome da ordem de Santiago Tiago da
Espada, Saint Jacques de l'Épée. E temos Payens l'Épée. Paio de Pele. Pay de
Pelle. A espada de Payens.
Payo Pélle / Payens l'Épée
O simbolismo da espada na era
medieval era enorme.
Ordem de Payens da Espada que
depois se terá diluído após a anunciação da Ordem de Cristo?
O nome do local ficou para
olharmos o passado, mesmo que todo este pensamento esteja longe da realidade
valeu a pena esta verdadeira charada sonora em torno do tema pois traz sempre à
tona outros e mais que de alguma ou outra forma esquecidos se vão relembrando.
Fica em aberto.
Fonte das imagens: Wikipédia
Fonte das imagens: Wikipédia
Nota: Este texto foi-nos enviado para publicação por um ilustre Tomarense que decidiu optar por assinar com um pseudónimo.
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