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1/13/2009

NO ALTAR DE SANTA MARIA

A DESCOBERTA DE UMA PEÇA ANTIGA DA IGREJA
Autoria: JOÃO




O interior do Templo de Santa Maria ao longo da história sofreu muitas reformas que se traduziram nas suas diversas alterações e edificações acopuladas. Hoje Santa Maria não é mais do que o produto da (in)consciência dos homens ao longo da idade média, que em pouco respeitaram as edificações primitivas, alheando-se de valores estéticos no ímpeto de adaptarem os edifícios a valores de ordem funcional.

Dizem-nos as crónicas de antigo que só um altar possuía e que só se viu guarnecida de mais uns quantos com a construção das capelas na nave sul. Se desse antigo altar pouco sabemos, possivelmente por ter sido destruído aquando da reforma da ordem pela Frei António de Lisboa, do altar que se dotou a capela mor no séc. XVIII temos novidades a revelar.



As fotos disponíveis permitem-nos verificar a existência de um altar em talha dourada de estilo barroco. Os relatórios das intervenções em Santa Maria contam que alem de ter havido um rebaixamento do pavimento na capela-mor onde se encontrava esse altar, também o próprio altar foi feito desaparecer. Desaparecer? Mas terá tal elemento sido destruído? Teria sido vendido? Desmontado para lenha e transformado em cinzas?

Mas das cinzas nasce a Fénix!!! Não, não lhe aconteceu nada disso. Ufa!!!

Andava eu nas minha "peregrinações", "vigílias", ou tão somente pelas sombras do que outrora foi Thomar, quando sou encaminhado a mais uma visita ao convento de São Francisco. E como as sombras de Santa Maria são iluminações, dou por mim diante do altar de São Francisco. Estigmatizados são os meus olhos pelo que leio no friso superior desse altar. É latim, mas suficientemente claro no escuro do templo para perceber que estava perante um visão. Não é que as dúvidas assombrassem meu espírito sobre o que tinha descoberto, mas não havia como rebuscar as fotos antigas do altar barroco de Santa Maria para certificar-me da bênção que tinha recebido. Não acredito no acaso, acho que não é mais que a medida da nossa ignorância, mas sem dúvida que foi golpe de sorte.

Não seria a primeira descoberta dos retalhos de Santa Maria, mas esta era sem dúvida de alto valor, não fosse o altar de uma igreja o centro do qual tudo irradia e para onde tudo converge. O altar é o objecto mais sagrado do templo, a razão da sua existência e a sua própria essência, porquanto se pode, em caso de necessidade, celebrar a divina liturgia fora de uma igreja, mas é absolutamente impossível fazê-lo sem um altar. Introibo al altare dei.

O altar é o lugar privilegiado para o contacto com a divindade, o centro de reunião da assembleia de Deus, e neste caso a causa de reunir-me convosco neste artigo.

Se altar do latim altare, significa o lugar onde se coloca o que é oferecido à Deus, significou para mim o contrário; diante aquele altar foi-me oferecido uma alegria, pois é com muito apreço que reúno mais uma peça sagrada de Santa Maria. A peça de um puzzle que ainda está muito longe de estar finalizado.

A comparação das fotos do antigo altar de Santa Maria e as fotos que recolhi deste, confirmam ser o mesmo. O altar teria sido deslocado na década de quarenta para o convento de São Francisco, onde teria oferecido guarida a outro grande vulto do Cristianismo, o próprio São Francisco, mantendo-se ate aos dias de hoje no mesmo local. Encontra-se do lado direito na primeira capela junto à abside da igreja.

Mas ainda não terminámos.

Com ajuda do meu amigo Degraconis, que cedeu-me parte da informação que passo a transmitir, interpretamos a frase em latim que se apresenta no friso superior do altar.

“Oliva Speciosa in campis” Esta frase ressalta desde logo uma remissão para Oliveira, Olival. A palavra Oliva e Campis são de fácil leitura, mesmo para um leigo em latim. Significa a frase completa, se bem que lhe falta o termo “Quasi” no início, “Como uma bela Oliveira no campo” ou então “Qual Oliveira especiosa nos campos”.

Não se trata do altar de Santa Maria dos Olivais ou Olival, que devia a sua denominação a um possível campo de Oliveiras que envolvia a Igreja? Se as fotos já confirmavam a sua identificação, a frase reforçava e surpreendia pela vontade de se revelar. Não podia haver dúvidas.

A expressão latina é retirada do livro bíblico Eclesiástico 24, e refere-se à Virgem Maria:

Elevei-me como o cedro do Líbano, como o cipreste do monte Sião;
cresci como a palmeira de Cades, como as roseiras de Jericó.
Elevei-me como uma formosa oliveira nos campos, como um plátano no caminho à beira das águas (quasi oliva speciosa in campis, et quasi platanus exaltata sum juxta aquas)
Exalo um perfume de canela e de bálsamo odorífero, um perfume como de mirra escolhida;

Somos assolados pelos epítetos conferidos à Nossa Senhora, contudo nenhum outro se lhe equipara como Estrela-do-mar, de que nasceram hinos ou ladainhas sem conto. Ave maris Stella, cantou-se em todos os países da Europa ocidental e foi parafraseado em Português e traduzido em várias línguas. Talvez seja essa uma das interpretações canónicas, no dizer do Degraconis, da estrela no frontão da Igreja de Santa Maria, a par da teoria que a associa ao Rei Salomão. A Rosa que nasce no seio dessa estrela que conhecemos identifica-se com o Sol, “O filho atravessou-a como um raio de luz e a Virgem permaneceu depois do parto. Uma nova estrela gerou um novo sol! Estrela do Mar, porque nos ilumina com a sua graça, na noite do pecado…”, e não é a rosa na cruz ou na estrela um símbolo rosacruciano de Cristo que tem de nascer da matéria?
A

Mais satisfeito fiquei quando me dá a conhecer um texto escrito por um Frei do Convento de Cristo à mais de quatrocentos anos e a quem foi dada licença para se dedicar unicamente à escrita. Um escrito em Português antigo mas que vos dou então a conhecer, visto utilizar a expressão contida no altar.

“A Oliveira foi antigamente confagrada à deosa Minerva, que se pagava de cousas puras, como a oliveira o era: por isso foi preterida a todas as mais árvores por sentença de Pallas. Das principais que na sagrada escritura sao referidas, he ella hua, & assim entra no número daquellas a que se compara a Eterna Sabedoria: Quase Oliva Speciosa in Campis. Santo Augustinho a ella compara a Igreja Catholica: & a mesma Igreja della faz comparação à Virgem Senhora Nossa. Dos significados que tem, he mais conveniente o que primeiro lhe foi dado do Ceo, que he paz (…)

E assim termino, Paz a todos.



COMENTARIOS NO TÓPICO "DO TEMPLO DE SANTA MARIA" DO FORUM


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O Degras especializado em ecologia espiritual cedeu-me as significações que o tal Frei do Convento de Cristo atribui à botânica incluída na transcrição bíblica onde se insere o Quase Oliva Speciosa in Campis.

Cedro – Excelência; Palmeira – Vitória; Rosa – Graça; Oliveira –Paz; Plátano – Alteza; Bálsamo – Misericórdia.

1/05/2009

LIVROS DE PEDRA

Autoria: DEGRACONIS

A abertura do tópico Livros de Pedra não foi acompanhada de nenhum post. Contudo e visto ser um tema de grande interesse optamos por complementa-lo com um pequeno ensaio que levanta algumas questões. Não queremos no entanto confinar esse tópico ao assunto agora apresentado, mas dar algum relevo a um assunto que talvez merecesse maior destaque do que a simples inclusão no fórum.

Determinar a evolução da emblemática Templária e da Ordem de Cristo tem sido alvo de muito controvérsia e encontra-se ainda longe de conclusões definitivas. A cruz templária designada como pátea foi a forma que maior divulgação teve entre os Templários Portugueses, não obstante aparecer no resto da Europa, principalmente em França, mas raramente.

O seu aparecimento em algumas zonas de Portugal levou a que alguns estudiosos atribuíssem essas zonas como possessões ou comendas Templárias, quando tal parecia improvável. Entretanto estudos posteriores concluíram que essas cruzes não tinham origem Templária, mas que era um emblema ou símbolo utilizado no período paleocristão.

Pode-se e tem-se afirmado que a cruz pátea, independentemente da sua origem ainda mais recuada e no oriente, ter servido de modelo à cruz adoptada pelos Templários. O facto dessas cruzes estarem disseminadas pelo território poderia seria uma forma de simular perante o inimigo a presença da Ordem Templária.

Se todos nós já conhecemos os ensaios que atestam a existência dessa cruz em documentos de pedra em períodos bastante recuados, como por exemplo o trabalho publicado do Gandra dado a conhecer na abertura do post, entre tantos outros, nenhum conhecemos que intente numa aproximação similar para as cruzes da Ordem de Cristo. Ok, aqui vamos nós…

A cruz patente num emprazamento realizado pelo Mestre João Lourenço em 1322, é porventura a mais remota representação da cruz da Ordem de Cristo, assim como a cruz gravada em pedra datada de 1357. Esta cruz tem as bases das extremidades dos quarto braços planas. Outra imagem, mas posterior, do ano de 1400 já apresenta a cruz com as extremidades ligeiramente côncavas. Alem destas e de outras posteriores a 1400, conhece-se a cruz que o anjo segura na iluminura da Leitura Nova e que deixa perceber como seria a Charola nessa altura do Infante D. Henrique e D. Manuel. De notar que as variações à cruz são diversas, e este estudo se concentra essencialmente nas formas gravadas em pedra.



Antes de avançar mais temos então que recuar. Recuar para tomar impulso.

As estelas apresentadas no início do tópico do forum são quase todas, senão todas, provenientes da zona de Mértola, faltando no entanto algumas que também se assemelham à cruz dos Templários Portugueses. Darei a conhece-las no fórum. No entanto é de ressaltar que algumas das outras estelas encontradas têm sido esquecidas nestes estudos. Porquê esquecidas? Porque não tem semelhança com o objecto desses estudos que é o de demonstrar que a cruz pátea tem tradição anterior ao sec. XII, pois são do século VI ou VII.

Acontece porém que essas outras estelas têm sido esquecidas porque não se equiparam com as dos Templários, equiparam-se no entanto com as da Ordem de Cristo. Podem ser um modelo que as influenciou, e mesmo que não seja ficam aqui como uma curiosa coincidência.

Repare-se que uma das cruzes, porventura a que pela sua nitidez mais se assemelha à cruz da Ordem de Cristo em período Infantino e Manuelino, encontra-se envolta numa espécie de corda manuelina (e isto mil anos antes do seu aparecimento como estilo decorativo ou arquitectónico).

No estudo do Gandra, ao qual podem aceder através do link colocado num post, podem ver o que se pensa talvez ser a cruz mais antiga da Ordem de Cristo, se bem que não tem legenda e talvez não saibam identificar. Não consigo colocar aqui a imagem. Encontra-se esta num selo pendente, preso por tiras de cabedal datando de 1231. Encontramo-nos diante o selo do designado Mestre do Templo para os três reinos, ou melhor dizendo, Prior do capítulo peninsular daquela ordem. De salientar o facto muito interessante de nesse selo se revelar uma cruz idêntica a da Ordem de Cristo que, como se sabe, veio a nascer da do Templo.

Pode-se então admitir, portanto que em Portugal os Templários já tivessem começado a fazer uso de uma cruz deste tipo. Isto pode ser visto no livro do Marques de Abrantes “Sigilografia Medieval Portuguesa”, que tentarei digitalizar.

Ou seja, podiam ter sido os próprios Templários a produzir uma das cruzes que veio a ser emblema e insígnia da Ordem de Cristo, e fizeram-no quer para o seu próprio símbolo quer para a ordem sucedânea na qual foram reintegrados, recorrendo a símbolos ancestrais encontrados em território nacional. Isto apenas reforça o que anteriormente ensaiei, ou seja, nada nasce do nada. Os templários forem portadores dessa herança simbólica e transmitiram-na às gerações vindouras.

COMENTÁRIOS NO TÓPICO "LIVROS DE PEDRA" DO FORUM

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Nota de rodapé
Não sou muito versado nesta coisa das cruzes e não sei se já existe alguma abordagem semelhante a que faço aqui, ou se até é apenas um delírio meu. Fica ao vosso critério. Ideias excêntricas não têm que ser propriamente falsas mas sim discutidas.


Este post de última hora é apenas um interregno para um outro que se está a preparar sobre Tomar, pois nem estava para ser feito, mas achamos que podia reforçar a ligação entre o blog e o forum.

O título do post é da autoria do Scaliburis, ao qual agradecemos.