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7/28/2011

O TÚMULO DO CONVENTO DE CRISTO

Autoria: Paulo Peixoto | Cethomar
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“Repousa sobre arca tumular em calcário estremenho, decorado com brasões, tem um rosto inexpressivo e veste o hábito da Ordem de Cristo.”
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Após a publicação de um artigo dedicado exclusivamente a um suposto claustro desaparecido do Convento de Cristo, Paulo Peixoto, apresenta-nos o seu segundo artigo de sua inteira responsabilidade, demonstrando mais uma vez, ser criterioso na escolha dos temas que pretende divulgar, optando por motivos do património Tomarense pouco conhecidos dos seus conterrâneos.
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“Quem não tem urna é coberto pelo céu”. Apesar de ser uma referência dos tempos imperiais romanos, pode muito bem ser usada para ilustrar a desvalorização do corpo frente à alma que se viveu até aos fins do século XII. No século seguinte, este panorama mental altera-se bruscamente e a morte passa a ser sentida de outra forma, com maior intensidade e dramatismo. A salvação já não era garantida simplesmente pelo acto de morrer e ao lado do suposto paraíso assegurado convive agora o inferno, tendo contribuído muito para essa mudança de atitude o aparecimento da ideia de purgatório na segunda metade desse mesmo século.
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São perceptíveis estas mudanças perante a morte no conteúdo dos testamentos gerados a partir desse período, assim como, concomitantemente, a crescente preocupação com a escolha do local de sepultamento ou mesmo com a construção do túmulo ainda em vida.
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No século XV a escultura fúnebre reflecte de forma bastante clara o medo da condenação eterna e o receio de não ser reconhecido no além como alguém que se teria movido em vida num universo cristão, surgindo assim, e justificando, as exaustivas decorações ornamentais dos túmulos com sinais religiosos, com descrições de feitos em vida e com a identificação de quem se apresentava naquele fim de hora a esse novo mundo.
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É precisamente sobre um desses monumentais sarcófagos do século XV, outrora no Convento de Cristo, e que expressa na perfeição as preocupações atrás enunciadas, que Paulo Peixoto se dedica e, tendo sido deslocado no século XIX para fora de Tomar, nos irá dar a conhecer fotos recentes e, obviamente, “biografá-lo” e desocultar quem nele se fez sepultar.
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                                                                                        Degraconis
                                                                                    P´lo Cethomar
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7/21/2011

“INSCRIPÇÕES PORTUGUESAS” de Luciano Cordeiro

A DESCOBERTA DA LÁPIDE DE GUALDIM PAIS
Considerações em torno da descoberta -Parte III Parte II  Parte I
Autoria: Degraconis | Cethomar
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Aqui fica o interessante texto de Luciano Cordeiro publicado em “Inscripções Portuguesas”, no qual não só é possível colher informações sobre a inscrição, mas também detalhes da sua (re)descoberta. Apenas transcrevemos o texto no que interessa ao tema.

     “No movimento, um pouco desordenado, diga-se de passagem, das celebrações apotheosicas, centenaes ou não, que ultimamente se tem manifestado entre nós, pensaram alguns cavalheiros de Thomar em promover uma que attrahisse as attenções e a concorrência de forasteiros á formosa cidade do Nabão, bem digna realmente de ser mais conhecida e visitada. Tiveram, então, a feliz idéa de tomar por thema o nome e a memoria do valente Templário portuguez, Galdino Paes, tão deploravelmente esquecido também, e de quem póde dizer-se que foi, alem de fundador de Thomar, um dos mais intrépidos e persistentes cooperadores da fundação de Portugal.

      Sob aquella idéa se reanimou o empenho do meu amigo e distincto director-professor da Escola Industrial d'aquella cidade, sr. Manuel Henrique Pinto, de encontrar a jazida dos restos do glorioso Templario. Aproveito a occasião para dizer, com reconhecimento, que o sr. Pinto tem sido o meu mais dedicado e caloroso auxiliar n'esta colheita de calcos de inscripções portuguezas. Honra lhe seja, que n'isso não é a mim, mas á Historia e ao paiz, que presta um bello serviço.

Obtendo licença para sondar as paredes d'aquella interessantissima e vetusta igreja de Santa Maria do Olival ou dos Olivaes, que por si dava assumpto para uma soberba monographia sobre a historia da architectura nacional, o sr. Pinto, com dois amigos egualmente interessados n'esta pesquiza, começou-a e teve a fortuna de, ás primeiras tentativas, encontrar a pedra (naturalmente um dos lados do sarcophago), em que está, nitida e graciosamente cavada a inscripção de que tirou e me enviou o magnifico calco, em poucos minutos reproduzido pelo lapis primoroso e firme de Casanova. Como se vê, a inscripção não offerece hesitações ou duvidas de leitura ou de contemporaneidade, esta ultima perfeitamente flagrante, para quem conhece a epigraphia tumular do tempo, com as suas cruzes espalmadas (pattées) iniciaes, com as maiúsculas oscillando entre o romano e o gothico, com o seu pautado, até com a sua redacção dos velhos obituarios e livros de calendas, monasticos. Lê-se ao primeiro relance. Que o til ou plica que ornamenta um dos XX da era, não suggira reparo. Tem o mesmo valor que os do e (era), do m (mil) ou dos cc (duzentos): isto é, nenhum tem. O Viterbo do Elucidario já advertiu esta especie de mau habito decorativo, inconsciente.

      A era é indiscutivelmente a de 1233, correspondente ao anno de Christo de 1195. Sempre se lucrou, com a idéa do centenario, ficarmos definitivamente sabendo que o grande Templario morrêra em 1195, a 13 de Outubro. Teria então setenta e sete annos, se também acertou Costa (Hist. da Ord.), quando o dá nascido em 1118. Cedo fizera Galdino a sua iniciação de Cavalleiro do Templo nas longínquas campanhas da Syria; mas, por mais cedo que n'aquelles tempos se fosse homem, é claro que andam erradas algumas datas das suas doações e fundações. Apparecer-nos elle como Mestre,—tibi Magistro Gualdino,—em 1161, isto é, aos quarenta e três annos, na doação das casas e herdades cultivadas e por cultivar junto de Cintra, não repugna, comtudo.”



APÊNDICE

Após a publicação da Parte I deste artigo fomos questionados sobre a continuação do texto que recortámos do jornal “A Verdade” de 1895, nomeadamente quanto à transcrição da Lápide que se terá feito na altura. Aproveitamos o final do artigo para dar então a conhecer a parte que excluímos no que respeita à transcrição, informando que após essa transcrição, informa-nos Vieira Guimarães de uma outra descoberta na igreja. Descoberta essa a que já nos referimos num artigo de Abril de 2010, e onde colocámos uma foto actual para a ilustrar.


7/14/2011

À ÚLTIMA DA HORA

A DESCOBERTA DA LÁPIDE DE GUALDIM PAIS
Considerações em torno da descoberta -Parte II   Parte I
Autoria: Degraconis | Cethomar

Após este artigo concluído e pronto a publicar eis que encontramos Vieira Guimarães em “Thomar - Santa Iria”, talvez a sua melhor obra, a relatar detalhadamente a descoberta da lápide de Gualdim Paes na Igreja de Santa Maria do Olival. Por nada colocar em causa do que escrevemos e pensámos quanto a essa descoberta, optámos por não reformular o artigo nem o rectificar por tal acharmos ser desnecessário.

Tal como foi dito, Vieira e seus companheiros encontraram em livros antigos, descrições e alusões, à existência dessa lápide na segunda capela, queixando-se de que esses escritores não tiveram o cuidado de a reproduzir, tão somente deram notícias do que na mesma se inscrevia - de forma incompleta.

Conta-nos que “grandes foram os disabores nos oito dias antes de a encontrarem, ao fim de trabalhos insanos e de uma resolução energética, pois os zoilos, infelizmente sempre à compita, já nos zurziam com os seus montejos”


E passa então a descrever o episódio:


As suas queixas relativamente aos últimos escritores que deram notícias da lápide deviam ser dirigidas aos autores que enunciámos do século XIX, nomeadamente Vilhena Barbosa, que por diversas vezes foi criticado por não referir as suas fontes (veja-se a questão do claustro que ninguém encontra e que o mesmo diz ter visto. Iremos publicar brevemente um post sobre este assunto). Também nós tivemos algumas dificuldades em obter informações precisas através desses últimos autores, tornando-se isso mais nítido num post seguinte que iremos publicar sobre onde teria sido efectivamente sepultado Gualdim Paes inicialmente.
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7/07/2011

A DESCOBERTA DA LÁPIDE DE GUALDIM PAIS

Considerações em torno da descoberta -Parte I
Autoria: Degraconis | Cethomar
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DA LÁPIDE E DA SUA (RE)DESCOBERTA
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Das diversas lápides e inscrições tumulares existentes no Templo de Santa Maria dos Olivais em Tomar, a de Gualdim Paes, será decerto, a mais conhecida e comentada. Todavia, a sua história já não se apresenta tão conhecida de todos aqueles que a contemplam na segunda capela lateral da dita igreja. Já tivemos oportunidade de divulgar a história da sua descoberta mas, não se tendo desenvolvido o assunto, voltamos de novo a ele, aproveitando o momento para dar a conhecer o que Luciano Cordeiro escreveu sobre a mesma, visto mencionar detalhes relacionados com a sua redescoberta.

Antes de transcrever o texto de Luciano Cordeiro, e visto os recortes de jornal que agora apresentamos neste artigo não explicarem de todo o porquê do empenho do Vieira Guimarães na sua (re)descoberta, apensamos aqui umas palavras nossas.

A sua existência na igreja de Santa Maria do Olival, nomeadamente na capela onde a vieram a descobrir é referida nos séculos anteriores por diversos autores. Todavia, com o passar do tempo, ficou-se sem conhecer o seu paradeiro.

Diz-nos Frei Bernardo da Costa no ano de 1771 o seguinte:

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E mais adiante no texto volta a referir-se ao assunto dizendo que “Na Igreja de Santa Maria dos Olivais Magnifico Mauzoleo, recolhia em si o corpo deste grande homem; e em reedificação, ou concerto, que nesses annos se fez…foi ele desfeito, e recolhidas as cinzas de Mestre tão benemérito a hum archete de pedra; e he quanto memoria temos do dia, e anno, que ele falleceu”. (voltaremos ao sublinhado noutro post)

Portanto, no tempo do Frei Bernardo da Costa, em 1771, era perfeitamente conhecida a pedra funerária de Gualdim Paes, e se restam algumas dúvidas quanto a isso ou quanto à sua localização, podemos verificar na Coreografia Portuguesa do autor P. António Carvalho da Costa, em 1706, semelhante descrição:
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Informa-nos também que foram depositados nessa segunda capela os ossos de todos os Mestres que estavam sepultados em Santa Maria. Os resultados obtidos pelo georadar nessa segunda capela parecem, efectivamente, apresentar a existência de algo no subsolo dessa mesma capela. (Esperamos ainda este ano publicar todos os resultados do georadar efectuados nesse local, assim como sobre outras partes do solo da igreja, nomeadamente sobre a famosa pedra oblíqua, com a devida autorização.)



Por outro lado, Frei António de Oliveira em 1739, na obra “Descripção corografica do Reyno de Portugal” referindo-se à Igreja, não alude à pedra de Gualdim Pais, limitando-se a dizer que nesta igreja se encontram sepultados todos os Mestres do Templo. Contudo acreditamos que é apenas uma omissão, visto já termos dado notícia de que em 1706 já lá se encontrava e nesse local ainda se mantinha em 1771.

Todavia, se Viterbo, na sua obra “Elucidário”, confirma que a pedra continua na mesma capela em 1799, Vilhena Barbosa em 1865 não nos deixa ter a plena certeza quanto a isso, visto não se referir explicitamente a ela mas apenas à do Mestre Gil Martins, pelo que poderá a sua alusão à lápide e epitáfio de Gualdim Paes não ser mais do que uma memória. Porém, estamos em crer que a mesma ainda se mantivesse no mesmo local.


"Elucidário” de Viterbo - 1799

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 De Vilhena Barbosa - 1865


Segunda consta, os túmulos de Santa Maria terão sido destruídos no tempo de D. Manuel I ou de D. João III, conforme está no Tombo de Santa Maria, pelo que se presume ser essa a data em que foram colocados na citada segunda capela os restos mortais dos mestres em simultâneo com a lápide de Gualdim Pais. Todavia, curiosamente, em 1632, Frei António Brandão na “Monarchia Lusitana”, no capítulo “Da Morte de Gualdim Paes...”, tem que socorrer-se de Frei Jerónimo Romam para dar-nos a data da morte do mesmo, não invocando a data constante da lápide nem a existência da mesma.

Por sua vez, Frei Jerónimo Roman, em 1586/87, refere terem sido os mestres sepultados em Santa Maria do Olival dando no entanto apenas três nomes: Gualdim, Vasco Fernandes e Gil Martins. Não refere a placa, mas o facto de apenas referir estes três, dos quais conhecemos as lápides em Santa Maria (excepto Vasco Fernandes que parece estar em Montalvão), leva-nos a pensar ter conhecido a lápide de Gualdim em Santa Maria sem, todavia, dar notícia dela. Refere a data da morte e, se não a conheceu através da placa, é bastante verosímil ter copiado a data do Livro “Dos bens rendas dereitos e escripturas do convento desta villa de Tomar” redigido por Pedro Alvarez de Seco umas décadas antes.

Quanto a Pedro Alvarez de Seco podemos ter certeza de a ter visto na igreja de Santa Maria do Olival, visto no segundo folio do seu livro referir-se a isso e dar a data de 1195 como a de morte do Mestre Gualdim Paes, contudo sem precisar se estava na segunda capela.


Perseguido o seu rasto até à segunda metade do século XVI, lembrámo-nos de procurar em literatura e manuscritos mais antigos na ânsia de saber de facto em que data teria sido colocada nessa segunda capela e eventualmente onde teria estado antes dessa sua nova morada, e também, quiçá, obter referências ao túmulo original do mestre.

As crónicas de Rui de Pina e de Duarte Galvão não lhe fazem referências, restando então, dentro das nossas possibilidades e recursos, procurar no inédito quatrocentista reproduzido do Códice 886 da Biblioteca Pública Municipal do Porto, conhecido como a “Crónica de Cinco Reis de Portugal”, de autor desconhecido, e segundo A. de Magalhães Basto, fonte de informação para as crónicas posteriores dos cronistas atrás citados. De igual forma está carenciada de qualquer registo sobre a morte ou lápide, sendo Tomar citado apenas uma vez nessa crónica recém-descoberta. Também na Crónica Geral de Espanha de 1344 não se verifica qualquer alusão nas partes que interessam à história de Portugal.

Recuar ainda mais nesta procura implicava procurar nos famosos Livros de Linhagens (séc. XIV), mas o único parágrafo dedicado a Gualdim Pais diz-nos apenas que “D. Payo Ramires (pai) casou com irmã de D. Payo Correa o velho, e fege nella o mestre D. Gualdim Paes do Templo e D. Gomes Paes de Piscos (irmão): e este mestre D. Gualdim Paes fez Tomar, e Pombal e Castelo de Almoyrol, e pobrou outros muitos lugares que ganhou a ordem, e foi muito forte em armas e leixou ao Templo o que agora ha, e em Abelamar” não fazendo qualquer referência ao ano da morte.

Podemos então balizar a existência da placa no local onde hoje a conhecemos entre 1542/1570, data do livro de Pedro Alvares de Seco (e do Tombo de Santa Maria) e 1865, ou 1799 seguramente.

Não tardou, no entanto, que se deixasse de saber da lápide de Gualdim Paes, referindo-se a isso o seguinte recorte do jornal no ano de 1895:


Tal foi a incúria pelo património histórico, nomeadamente a consideração pelo fundador da cidade de Tomar, que muitos já consideravam a pedra perdida para sempre ou mesmo destruída. Não quis o destino que assim fosse e em Abril de 1895, devido às investigações dos citados ilustres, foi reencontrada a pedra que hoje conhecemos na segunda capela, onde pelos vistos sempre se manteve, mas nem sempre a descoberto.


Jornal “A Verdade” de Abril de 1895

Possivelmente estaria soterrada ou entulhada, tal como a do mestre Gomes Ramires que foi encontrada somente na década de 40 do século passado debaixo do reboco da parede sul.


Lápide do Mestre Gomes Ramires em
Santa Maria do Olival - 1212

As referidas descrições dos séculos anteriores constituíram um valioso guia para a sua rápida descoberta ainda a tempo das comemorações de 13 de Outubro de 1895 que se avizinhava.
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Diz-nos Luciano Cordeiro que “obtendo licença para sondar as paredes d'aquella interessantissima e vetusta igreja de Santa Maria do Olival ou dos Olivaes… o sr. Pinto, com dois amigos (de certo referia-se a Vieira e Silva Magalhães) egualmente interessados n'esta pesquiza, começou-a e teve a fortuna de, ás primeiras tentativas, encontrar a pedra (naturalmente um dos lados do sarcophago)..”, o que nos leva a pensar ter sido a pedra descoberta no mesmo local indicado pelas descrições mas encoberta por algum tipo de material.

Nesta mesma capela existe uma outra lápide visível, a do Mestre Lourenço Martins, que, a não ser referida nos recortes do jornal, julgamos ter sido descoberta posteriormente, talvez ainda no âmbito dos esforços dos nossos ilustres. Amorim Rosa não desenvolve o assunto mas diz ter sido descoberta também por Vieira e amigos



E para terminar deixaremos aqui o texto da sentida homenagem que o povo de Tomar fez a Gualdim Paes em 1895, a qual podem ler directamente na pedra. Surge esta, aquando das comemorações dos 700 anos da morte do mestre, e fez o povo questão em a colocar na capela onde, segundo essa inscrição, repousam as suas cinzas. Repousarão?



Parte II  -  À ÚLTIMA DA HORA
Parte III - “INSCRIPÇÕES PORTUGUESAS” 
(publicação na próxima semana)

7/01/2011

A DESCOBERTA DA LÁPIDE DE GUALDIM PAIS

Considerações - Três Partes


É intenção do Cethomar este ano dedicar parte dos seus esforços de investigação à figura de Gualdim Paes, como aliás já é perceptível no conto e no índice da Marca de Gualdim Pais (post a ser publicado). Este que agora se apresenta, não tendo enquadramento no post referido, será então o primeiro dedicado a essa grande personagem, não só de Tomar mas de Portugal.


Parte I
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