Contacte-nos através do nosso email:
cethomar@hotmail.com

11/30/2009

QTª DA ANUNCIADA VELHA - MISTÉRIOS POR REVELAR

SS
S Jornal O Templário - edição de 26/11/2009
S
Autoria: Degraconis e Bandarra
Parte II (de III)
Quinta da Anunciada Velha em Thomar (cont.)
Para complementar o filme que agora apresentamos sobre a Quinta juntámos um dos textos que foi enviados por email aos que estão na mailing list.

Se a Arte de Contar e ouvir histórias é por natureza um oceano de palavras, a que se pode contar da Quinta da Anunciada Velha, ainda hoje, é Arte de (Re)viver. E se a Arte é um dos meios que une os Homens, propomos desta vez, que o próximo evento se concretize em antigas possessões Templárias, ou seja, numa Quinta que celebrou outrora o Mistério da Anunciação. S



Todas as quintas felizes escondem um segredo e esta esconde vários. O Obelisco mendicante que anuncia a entrada da quinta é já um prenúncio de quantos mistérios esfíngicos se ocultam neste verde vale. Na verdade nada se sabe em concreto do que seria essa construção cónica e para que fins foi ali colocada, nas não são poucos os “peregrinos” que pernoitam na quinta, que não lhe conheçam o segredo. Vestígios de antigos cultos druídicos que utilizavam agulhas de pedra para controlar as telúricas forças da terra? Reminiscência de uma cultura misteriosa como foi a do Megalitismo que no dizer de Mendes Correia foi iniciada pelo arcaico homem lusitano? Chaminé não se sabe de que forno ou de que Athanor, não obstante ser maciço? Túmulo de um Bispo conta o povo. Mais, antigo símbolo fálico que nestes terrenos, longe da vista humana, seria consentido? Todavia, não será despiciente este último propósito tão pouco ortodoxo e tão alheio a uma Ordem que se separou da original numa tentativa de restaurar precisamente valores mais ascéticos e modestos? De facto, o tosco Obelisco data do séc. XVI, é obra dos monges da Ordem dos Capuchos e talvez não seja mais do que um Padrão anunciador da proximidade dos portões do convento. Uma espécie de cruzeiro na ideia de muitos que o estudaram.



Tanto mistério e ainda nem alcançámos os portões da quinta. Que mistérios esfíngicos? Que histórias se guardam dentro da antiga cerca que abrigava uma comunidade de místicos franciscanos?



Como intróito às escassas palavras que se podem por agora despender vamos já dedicar-nos ao ex-líbris da quinta. A intrigante Torre coroada por coruchéu piramidal octogonal e na qual ainda se consegue vislumbrar antiga arte manuelina e rosas semelhantes a que João de Castilho tanto gostava de usar no Convento de Cristo e usou na designada adega da iniciação, no dizer do Umberto Eco.


Não é esta menos inspiradora para tais estranhas práticas, senão mesmo idealizada num sentido próximo a esse, como seja a da transcendência da morte, tão cara aos exercícios espirituais dos monges franciscanos. Exemplo disso encontramos na singular capela dosossos em Évora ou mesmo nas capelas escondidas que esta Ordem espalhou pela serra da Arrábida.

Mas escondida no seio de um cenário edénico está também a enigmática construção piramidal que aproveitaremos para tertúlia noite fora, não fosse este local – contou-me o proprietário – propicio para o aparecimento de espectros que só a alguns é dado o privilégio de os ver. E se isso não passa de delírios fantasmagóricos de alguns, certo é, terem sido estranhas as circunstâncias relacionadas com a construção de uma piscina junto a este local. De tal forma estranhas que não passou essa construção de uma tentativa pois acabou-se por ceder aos misteriosos desígnios da natureza (sobre)natural.




Esta quinta é de habitação antiga. Conhecida a escritura que em 1192 a transfere para o domínio da Ordem dos Templários, e não por pouca monta – o que deixa perceber já a sua importância – acaba mais tarde por ser transferida para a Ordem de Cristo. Cala-se o tempo de notícias durante uma centena e meia de anos para surgir novas referências documentais à quinta no séc. XV, desta vez, na posse de fidalgos que logo a transferem para a Ordem dos Capuchos. Muitas são as voltas que esta quinta anuncia, e lá volta mais tarde às mãos dos freires da Ordem de Cristo até esta se extinguir com o “Mata Frades “ Joaquim António de Aguiar em 1834.

Chegados aqui podemos falar agora de história viva. Viva porque corre essa história nas veias dos seus actuais Guardiães. Está a quinta ainda na posse de descendentes do estadista Costa Cabral – primeiro Conde de Tomar que adquiriu parte do Convento de Cristo. Acerradíssimo defensor de valores que hoje constituem a base da nossa Constituição da República, António Bernardo da Costa Cabral adquiriu a quinta após os freires conventuais da Ordem de Cristo se terem extinguido.
S

À semelhança da visão que deve ter tido quando inesperadamente se propôs adquirir os bens anteriormente pertença dessa nobre Ordem Portuguesa que deu mundos ao mundo, Costa Cabral, possivelmente conhecedor da antiquíssima história desta quinta, acabou por arrolá-la nos bens que vinha acumular neste concelho. E se conhecia a sua história e talvez a filiasse em tempos primitivos da nossa nação, não saberia concerteza que ainda mais antiga seria a quinta. Existe uma pequena ponte de pedra que ainda à poucos anos se julgava ser obra dos Capuchos, mas para surpresa de todos recuou nas origens em mil anos de história quando a arqueologia a descobre como sendo de engenharia Romana.


Para terminar porque já vai longo o texto da apresentação, e não por falta de história para contar – fica essa para a vivência no encontro – só quero acrescentar que na década de oitenta iniciou-se umas remodelações nos edifícios, no decorrer da qual se descobriu um antigo lagar moçárabe – hoje visitável – junto à fachada que dá para o vale da vinha. Num outro recanto do pátio das habitações e por debaixo destas – que se localizam sobre as antigas, pois sempre foi naquele local que se construiu desde a idade média – descobriu-se um insólito túnel que atravessa subterraneamente as habitações e que poderemos depois percorrer sob inspiração das iniciações dionisíacas, visto ter inicio na adega.

Densa é a bruma que não deixa adivinhar fácilmente de forma positivista o porque de cada um dos testemunhos arqueológicos da tradição portuguesa encontrados no seio desta quinta, mas pode o visitante dilatar a sua imaginação e pelo caminho da subjectividade alcançar a dimensão espiritual e axiológica da história de Portugal que fazem parte da Arte de Contar a história da Quinta da Anunciada Velha em Thomar.


Podem agora pensar que inadvertidamente esquecemo-nos de referir a Capela, mas se escusamo-nos a referi-la detalhadamente é porque a essa caber-lhe-á a Anunciação, pois é essa a razão da designação da Quinta. O Mistério da Anunciação é interior e da experiência que o Degraconis teve da sua estadia só se pode dizer que este evento é a Não Perder.

Não temos disponível fotografias da ponte romana, do lagar moçárabe e do subterrâneo por onde surge a água, mas logo que possível as colocaremos.