Alcochete - Nascimento, História e Património
Autoria: Hugo Martins | Cethomar
O último século tem-se mostrado profícuo em ensaios que reconhecem o carácter messiânico e providencialista do nosso Rei D. Manuel I, não só no plano político e social, mas também nas diversas manifestações artísticas ocorridas no decorrer do seu reinado e sob o seu patrocínio.
Paulo Pereira, Manuel Gandra, Ana Maria Alves, António Quadros, entre outros, demonstram a existência de traços escatológicos judaico-cristãos e marcas simbólicas persistentes na história dos reis portugueses desde os primórdios da nossa nacionalidade e que culminam em termos de expressão plástica no que designamos de arquitectura Manuelina, encontrando o seu apogeu "filosófico-religioso", de uma forma mais perene, na figura mítica que se formou do Rei D. Sebastião.
O Convento de Cristo em Tomar, nomeadamente a fachada onde se encontra a Janela do Capítulo, com toda a sua parafernália escultórica, é talvez por excelência, o monumento que melhor testemunha o contexto profético que marcou o reinado manuelino, seguido pelo mosteiro dos Jerónimos, que tal como o nome indica, local da estrela de Belém, é dedicado precisamente aos três Reis Magos que seguiram a estrela até Àquele que nasceu em local homónimo.
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De encomenda régia, Belém e Tomar, representam respectivamente o princípio e o fim do discurso ideológico do reinado de D. Manuel: Belém está, intimamente ligado com o ciclo da Virgem e da natividade, é precisamente esta igreja dedicada à Nossa Senhora (dos Reis Magos), e Tomar, relacionado com a redenção e realização da promessa divina de Cristo, aliás nome pelo qual é conhecido. E se a estes dois “momentos” se podem associar o alfa e o ómega da visão messiânica manuelina, há que procurar as raízes do mesmo em Alcochete, porventura, diríamos nós, o momento da profecia que os antecede. Não é precisamente em alturas do seu conturbado nascimento, considerado de miraculoso e ocorrido enquanto passava à sua porta a procissão do “Corpo de Deus”, que lhe atribuem o nome que viria a encarnar a sua ideia de pré-destinação de émulo de Cristo e novo Messias, Emanuel, que quer dizer “Deus connosco”, ou “Deus entre nós”, significando de facto “Deus feito corpo”?
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O nome Emanuel é já um prognóstico da missão para a qual estava destinado, remetendo-nos para o profeta Isaías, que no Antigo Testamento anuncia o nascimento de um Rei ao qual dariam o nome de Emanuel, e que mais tarde viria a ser identificado com sendo Cristo.
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Sílvia Leite dá o nome “A Arte do Manuelino como Percurso Simbólico” ao seu ensaio histórico-artístico, e é precisamente ao início desse percurso, digamos messiânico, que Hugo Martins consagra este seu trabalho que temos o prazer de publicar no nosso blog, o qual, inevitavelmente, tal como Tomar, se cruza e muito deve a esse espírito de matriz Franciscano-Joaquimita que influenciou a vida e obra do Rei Venturoso.
Por conseguinte, iremos ser levados de Tomar até Alcochete, local do nascimento “miraculoso” daquele que viria a ser o futuro Rei D. Manuel. Pretende este trabalho dar a conhecer alguns detalhes pouco conhecidos e divulgados, como seja, o local preciso do seu nascimento, que não se encontra escrito em lado algum, assim como a igreja de São João Baptista que partilha aspectos arquitectónicos com a igreja matriz de Tomar, de igual nome, não deixando de dar notícias de alguns outros monumentos desta povoação, servindo de pretexto para a virem conhecer.
E como o mundo é bastante pequeno, ou talvez Tomar bastante grande, existem outros pontos de contacto entre estas duas terras de origens antiquíssimas, sendo exemplo disso o facto do ilustre e considerado Jacome Ratton, ter sido proprietário da Quinta da Barroca D’Alva, a qual esconde uma insólita construção circular e acastelada, numa pequena ilha, e que, segundo as memórias do mesmo, “é de tempos imemoriais”. Não existindo ideias em concreto sobre o significado deste intrigante “monumento”, nem sequer datação, Hugo Martins avança com uma possibilidade de explicação a partir de um outro monumento de Tomar.
E para que se entenda o profundo sentido das “raízes” do rei que ficou conhecido como “O Venturoso”, raízes essas que tanto caracterizam a arquitectura manuelina, a par das cordas e dos troncos da Árvore Seca, e que significam ou aludem a “Segredo”, segundo o “Tratado das significaçoens das plantas...“ proveniente do Convento de Cristo, tomámos a iniciativa de criar um suplemento ao artigo do Hugo Martins, e ao qual atribuímos o título: “De Alcochete a Tomar: Do Emanuel ao Manuelino ou ainda de Belém a Jerusalém”, um pouco a lembrar os longos títulos quinhentistas, o qual decerto não será tão críptico quanto as raízes sobre as quais se esconde o altante da Janela do Capítulo do Convento de Cristo.
E para que se entenda o profundo sentido das “raízes” do rei que ficou conhecido como “O Venturoso”, raízes essas que tanto caracterizam a arquitectura manuelina, a par das cordas e dos troncos da Árvore Seca, e que significam ou aludem a “Segredo”, segundo o “Tratado das significaçoens das plantas...“ proveniente do Convento de Cristo, tomámos a iniciativa de criar um suplemento ao artigo do Hugo Martins, e ao qual atribuímos o título: “De Alcochete a Tomar: Do Emanuel ao Manuelino ou ainda de Belém a Jerusalém”, um pouco a lembrar os longos títulos quinhentistas, o qual decerto não será tão críptico quanto as raízes sobre as quais se esconde o altante da Janela do Capítulo do Convento de Cristo.
E como estamos a falar de terra de touros, que a corrida comece!..
Degraconis - P'lo Cethomar (no dia do "Corpus Christi")
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