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6/23/2011

AS RAÍZES DO REI VENTUROSO

Alcochete - Nascimento, História e Património
Autoria: Hugo Martins | Cethomar


O último século tem-se mostrado profícuo em ensaios que reconhecem o carácter messiânico e providencialista do nosso Rei D. Manuel I, não só no plano político e social, mas também nas diversas manifestações artísticas ocorridas no decorrer do seu reinado e sob o seu patrocínio.

Paulo Pereira, Manuel Gandra, Ana Maria Alves, António Quadros, entre outros, demonstram a existência de traços escatológicos judaico-cristãos e marcas simbólicas persistentes na história dos reis portugueses desde os primórdios da nossa nacionalidade e que culminam em termos de expressão plástica no que designamos de arquitectura Manuelina, encontrando o seu apogeu "filosófico-religioso", de uma forma mais perene, na figura mítica que se formou do Rei D. Sebastião.

O Convento de Cristo em Tomar, nomeadamente a fachada onde se encontra a Janela do Capítulo, com toda a sua parafernália escultórica, é talvez por excelência, o monumento que melhor testemunha o contexto profético que marcou o reinado manuelino, seguido pelo mosteiro dos Jerónimos, que tal como o nome indica, local da estrela de Belém, é dedicado precisamente aos três Reis Magos que seguiram a estrela até Àquele que nasceu em local homónimo.
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De encomenda régia, Belém e Tomar, representam respectivamente o princípio e o fim do discurso ideológico do reinado de D. Manuel: Belém está, intimamente ligado com o ciclo da Virgem e da natividade, é precisamente esta igreja dedicada à Nossa Senhora (dos Reis Magos), e Tomar, relacionado com a redenção e realização da promessa divina de Cristo, aliás nome pelo qual é conhecido. E se a estes dois “momentos” se podem associar o alfa e o ómega da visão messiânica manuelina, há que procurar as raízes do mesmo em Alcochete, porventura, diríamos nós, o momento da profecia que os antecede. Não é precisamente em alturas do seu conturbado nascimento, considerado de miraculoso e ocorrido enquanto passava à sua porta a procissão do “Corpo de Deus”, que lhe atribuem o nome que viria a encarnar a sua ideia de pré-destinação de émulo de Cristo e novo Messias, Emanuel, que quer dizer “Deus connosco”, ou “Deus entre nós”, significando de facto “Deus feito corpo”?
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O nome Emanuel é já um prognóstico da missão para a qual estava destinado, remetendo-nos para o profeta Isaías, que no Antigo Testamento anuncia o nascimento de um Rei ao qual dariam o nome de Emanuel, e que mais tarde viria a ser identificado com sendo Cristo.
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Sílvia Leite dá o nome “A Arte do Manuelino como Percurso Simbólico” ao seu ensaio histórico-artístico, e é precisamente ao início desse percurso, digamos messiânico, que Hugo Martins consagra este seu trabalho que temos o prazer de publicar no nosso blog, o qual, inevitavelmente, tal como Tomar, se cruza e muito deve a esse espírito de matriz Franciscano-Joaquimita que influenciou a vida e obra do Rei Venturoso.

Por conseguinte, iremos ser levados de Tomar até Alcochete, local do nascimento “miraculoso” daquele que viria a ser o futuro Rei D. Manuel. Pretende este trabalho dar a conhecer alguns detalhes pouco conhecidos e divulgados, como seja, o local preciso do seu nascimento, que não se encontra escrito em lado algum, assim como a igreja de São João Baptista que partilha aspectos arquitectónicos com a igreja matriz de Tomar, de igual nome, não deixando de dar notícias de alguns outros monumentos desta povoação, servindo de pretexto para a virem conhecer.

E como o mundo é bastante pequeno, ou talvez Tomar bastante grande, existem outros pontos de contacto entre estas duas terras de origens antiquíssimas, sendo exemplo disso o facto do ilustre e considerado Jacome Ratton, ter sido proprietário da Quinta da Barroca D’Alva, a qual esconde uma insólita construção circular e acastelada, numa pequena ilha, e que, segundo as memórias do mesmo, “é de tempos imemoriais”. Não existindo ideias em concreto sobre o significado deste intrigante “monumento”, nem sequer datação, Hugo Martins avança com uma possibilidade de explicação a partir de um outro monumento de Tomar.

E para que se entenda o profundo sentido das “raízes” do rei que ficou conhecido como “O Venturoso, raízes essas que tanto caracterizam a arquitectura manuelina, a par das cordas e dos troncos da Árvore Seca, e que significam ou aludem a “Segredo”, segundo o “Tratado das significaçoens das plantas...“ proveniente do Convento de Cristo, tomámos a iniciativa de criar um suplemento ao artigo do Hugo Martins, e ao qual atribuímos o título: “De Alcochete a Tomar: Do Emanuel ao Manuelino ou ainda de Belém a Jerusalém”,  um pouco a lembrar os longos títulos quinhentistas, o qual decerto não será tão críptico quanto as raízes sobre as quais se esconde o altante da Janela do Capítulo do Convento de Cristo.

E como estamos a falar de terra de touros,  que a corrida comece!..

                                                                                Degraconis - P'lo Cethomar (no dia do "Corpus Christi")
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6/11/2011

A MILÍCIA DOS CONSTRUTORES DE TOMAR

OS "PATOS BRAVOS" DE TOMAR
Autoria: Pedro Vieira | CETHOMAR


Ninguém colocará em causa, Gualdim Paes, na infância da nossa nacionalidade, ter dado um valioso contributo para a história da arquitectura de Portugal, não só pela edificação do castelo de Tomar mas também pela promoção de mais uma série de outros edifícios de cariz militar que se estenderam pelo território de fronteira recém-conquistado aos sarracenos.

A introdução de algumas características construtivas nos edifícios defensivos portugueses da época, apreendidas durante a sua presença na terra santa, como sejam o alambor e a torre de menagem, entre outras inovações, colocam Gualdim Paes, decerto, entre os “arquitectos” Tomarenses mais conhecidos que ficaram inscritos na história desta cidade, visto todos os outros que conhecemos com obra arquitectónica em Tomar não serem naturais desta povoação nem terem assentado “arraiais” como o terá feito Gualdim Paes, que muita afeição teve a esta terra, e prova disso são os forais que lhe concedeu. É a Gualdim Paes atribuída a fundação de Tomar.

Terão que passar aproximadamente oitocentos anos para que este feito se volte a repetir, e se Gualdim Paes introduziu práticas construtivas essencialmente de cariz militar, a plêiade de Tomarenses que apresentaremos de seguida, aos quais o anónimo Filius Populi atribuiu a designação de “Milícia dos Construtores Tomarenses”, contribuíram para o desenvolvimento urbano e bem estar de Lisboa, visto estarem na origem da industria da construção civil para venda no início do século XX, algo inédito até à altura.

No artigo “Considerações em torno da Descoberta da Lápide de Gualdim Paes” (a publicar esta semana), dá-se notícia de que Vieira Guimarães e Henrique Pinto se fizeram acompanhar por um tal Gil Cotralha, “mestre de pedreiros”, com o intuito de sondar por debaixo do reboco da parede da capela a possível existência da lápide desaparecida. É quase certo estar a referir-se a Gilio F. Cotralha, natural de Tomar e aí residente, e que mais tarde viria a construir um dos actuais edifícios da Alameda D. Afonso Henriques em Lisboa. Foi precisamente Gil Cotralha, Filius Populi de Tomar, e a sua eventual identificação como Gilio Cotralha que levou um amigo do blog a escrever este seu primeiro artigo após tal constatação.

Se a história de Tomar não registou nomes de filhos seus na lista dos grandes da arquitectura portuguesa, chegou a hora de tirar alguns da relativa obscuridade em que têm permanecido, não porque eram intitulados de “Patos Bravos”, ou fossem de facto arquitectos, mas sim porque foram três homens oriundos das freguesias de Tomar a inaugurar uma nova etapa na construção civil portuguesa.

E porque o blog se debruça sobre temas do património histórico, também disso trata a história que este nosso amigo nos vem contar, onde irá demonstrar que alguns dos mais notáveis edifícios existentes em Lisboa, sobejamente conhecidos de todos nós, são de lavra nabantina. Iremos peregrinar pelas ruas desta antiquíssima cidade, mais antiga que Roma, e conhecer o primeiro prédio construído pelos três audazes de que falará adiante, também o prédio do Cotralha, assim como alguns dos que foram edificados pelos que vieram a seguir tentar a sua sorte na capital, caso para dizer que depois de vir um pato vem um bando. Não estaremos em Tomar, é certo, mas terminaremos numa das casas mais emblemáticas da Arte Nova da cidade Tomarense, construída precisamente pelo homem pelo qual começará as biografias sucintas dos três audazes, finalizando com uma entrevista ao mesmo publicada na Gazeta do ano de 1943. 

                                                                                  Degraconis
                                                                               P'lo Cethomar

6/02/2011

O CLAUSTRO PERDIDO

Autoria: Paulo Peixoto | Cethomar
              

É com enorme prazer que acedo prefaciar o trabalho agora apresentado pelo Paulo Peixoto, um dos mais jovens e activos coordenadores do Cethomar, sobejamente conhecido no blog como Voltron, e ao qual devemos muito do que se tem vindo a realizar.

Debruçando-se sobre obras de grande valor e antiguidade, como sejam, os escritos de Jerónimo Roman e Pedro Álvares de Seco, não esquecendo de abordar outros de idêntico valor mas contemporâneos, como seja Salete da Ponte, Amorim Rosa, Vieira Guimarães, entre outros, Paulo Peixoto vem esclarecer um mito que há muito anda esquecido de todos os estudiosos do Castelo Templário. Trata-se do nono claustro referido por Frei Roman que terá existido no Convento de Cristo, e ao que parece nunca foi devidamente explicado nem encontrado. Vilhena refere-o e os Anais citam-no, tal como o leram no livro da “Ínclita História da Cavalaria da Ordem de Cristo” do século XVI, sem no entanto colocarem em causa a sua real existência em tempos recuados.

Paulo Peixoto vai mais longe e surpreendentemente parece que de uma vez por todas traz-nos um desfecho credível a essa história que fez a UAMOC procurar durante cinco anos em vão esse claustro perdido que Vilhena afirma ter conhecido.

                                                                                              Degraconis
                                                                                           P’lo Cethomar

O CLAUSTRO PERDIDO
Do Convento de Cristo


“O termo Claustro ou Crasta deriva do latim Claudo, Claudere que designa fechar. Na realidade a mor parte dos Claustros definem um recinto fechado, ainda que, quando a nós, em termos espaciais é afinal o que estabelece a transição entre o interior e o exterior.”
                                                                                                        Arq. Costa Rosa

       O Convento de Cristo encerra em si os mais belos claustros que existem em Portugal. Todos eles têm histórias e segredos que tornam a sua arquitectura ainda mais bela. É o caso do Claustro Principal, que guarda em si a beleza do renascimento, e o de Santa Bárbara, onde os seus demónios estão sempre atentos a todos aqueles que por ali vagueiam.

       Actualmente existem oito claustros, sendo eles: o da Lavagem, do Cemitério, o Principal, o de Santa Bárbara, da Hospedaria, da Micha, dos Corvos e o das Necessárias.
       Nada disto é novidade, todavia alguns antigos autores fazem menção a um outro claustro que não se consegue identificar. Afinal, que Claustro é esse que ninguém sabe onde está ou onde ficava? A própria UAMOC (União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo) nunca o conseguiu descobrir, apesar de o terem estudado pelas mesmas fontes que aqui apresentarei.
    Em 1886, Vilhena Barbosa escreveu sobre o Convento de Cristo no seu livro “Monumentos de Portugal”. Este refere o misterioso Claustro como sendo o primeiro a ser ali construído.

Proximo da capella mór, para o lado de leste, encontra-se um claustro, pequeno, de construção sólida, com a abobada dos seus lanços achatada, com a cantaria dos arcos tão grosseiramente lavrada, e tão desataviada de adornos; um claustro, em fim, com tantos e taes signaes de antiguidade, que se denuncia aos olhos menos experientes como uma obra dos príncipios da monarchia.” (pag.192)

       Verificamos que o autor o descreve como sendo “pequeno” e de “construção sólida”. Refere ainda ser “como uma obra dos princípios da monarquia” mostrando desta forma os seus “sinais de antiguidade”.

        Vilhena Barbosa localiza o claustro a leste da Charola e ficamos assim com a ideia de que possa ter existido nos Paços Henriquinos. Não é de todo disparatada a ideia, pois ficaria exactamente na área que é povoada desde o tempo dos cavaleiros Templários. O autor, no livro citado, ainda reforça a sua localização nesse local orientando-se pela primeira suposta Casa do Capítulo.

“Entre as obras que mostram antiguidade no Convento de Christo, há uma casa quadrangular, com abobada achatada, sustentada em pilares, e de tão sólida construção, que se conserva sem maior ruína, não obstante as águas da chuva, que dos terrados superiores cáem sôbre a sua abobada ha alguns annos. Esta casa, situada ao sudoeste do primeiro claustro, de que tratei a pág. 190, parece-me ser a primitiva casa do capitulo.”
       
        Vilhena localiza a primeira Casa do Capítulo a sudoeste do Claustro. No entanto, é de salientar que as descrições de Vilhena em relação ao claustro foram estudadas por parte da UAMOC referindo-se a isso da seguinte forma: “Manda a verdade que declaremos que, após cinco anos de estudo do convento, (…) nunca encontramos o tal claustro”. Portanto, o Claustro que Vilhena Barbosa supostamente viu, não passa de uma recolha de informação antiga, não correspondendo à realidade dos seus dias. Tudo leva a crer Vilhena apenas ter visto esse claustro no livro de Frei Jerónimo Romam do século XVI.

Frei Jerónimo Roman (1536-1597) autor do livro “Histórias das Ínclitas Cavalarias de Cristo, Santiago e Avis”, recolhe nas suas páginas informações valiosas sobre Tomar. Este Frei, da Ordem de Santo Agostinho, presenciou a coroação do rei Filipe II de Espanha, I de Portugal, no ano de 1581 nas Cortes de Tomar. No seu livro, Roman fala precisamente sobre este primeiro claustro do Convento de Cristo. Segundo o que consigo entender, durante a sua estadia em Tomar, ainda o Claustro existiria.

Apresenta-se a seguir um excerto do livro de Roman, onde fala do primeiro Claustro a ser construído no Convento de Cristo.

“Quando se começou a habitar este sítio, onde agora é este convento, como já disse que foi do tempo do Infante D. Henrique, pois este mandou lavrar um claustro, o primeiro que houve neste Convento, então só de seguida se começou edifício não muito grande nem sumptuoso que vieram a ser assim, pois o rei D. Manuel deu ordem que todos os frades clérigos vivessem dentro do Convento e para eles mandou construir alguns edifícios.
Existem oito claustros em este Convento, cada um dos quais têm as suas oficinas respectivas para o serviço dos religiosos. O primeiro e mais antigo é o Claustro Velho, que por ser o primeiro e mais antigo se chama assim, e serve de poucas coisas, não tem altos mas têm um médio laranjal excelente e fresco, este que Infante D. Henrique mandou fazer, e está agora entre uns edifícios e casas velhas que serviram de palácio do rei D. Manuel e outros que chamam casas da rainha, porque este rei e rainha tiveram muita afeição a este convento.”

Claustro Velho! É esse o nome que Frei Jerónimo Roman atribui ao primeiro Claustro do Convento de Cristo. Nome adequado por ser o mais antigo.

A Laranjeira é a árvore que mais se associa ao convento ao longo da sua história, sendo ainda hoje possível sentir a sua presença junto à casa inacabada do Capítulo, e segundo Roman até existiria uma cisterna que regaria alguns dos seus laranjais. É referido pelo autor a presença de laranjeiras no Claustro Velho mandadas plantar pelo próprio Infante D. Henrique. Era decerto um lugar agradável!

Frei Jerónimo Roman afirma que o rei D. Manuel e uma determinada rainha, certamente D. Catarina, teriam “muita afeição a este convento”, facto pelo qual o Paço do Infante também é conhecido por Paço da rainha D. Catarina.

O excerto que se segue, continuação do texto acima apresentado, refere o Claustro da Lavagem ficar-lhe a ocidente:

“Andando um pouco para ocidente há outro claustro antigo que é o segundo em antiguidade, o qual ergueu Infante D. Henrique, e tem um claustro alto mandou a pintar toda assim pelas paredes como o alto dos dóceis o rei D. Manuel renovando serve agora de lavatório dos Hábitos dos religiosos aos quais esfregam e lavam suas túnicas e capuzes porque têm junto uma cisterna de água.”

        Recentemente, a Dr. Salete da Ponte debruçou-se sobre as edificações henriquinas dando particular atenção aos designados “Paços do Infante”:

      “Regressando às construções henriquinas e tendo em conta o carácter exemplar de que se deveria resistir a figura do príncipe (indo recolher-se no castelo), interrogamo-nos sobre o lugar onde ele residia. Referências escritas, já da segunda metade do século XVI, mostram-nos que era na área compreendida entre o Claustro da Lavagem e a alcáçova.”

        O excerto transcrito, provém do estudo publicado com o nome de “Abordagem Arqueo-histórica dos Paços do Castelo dos Templários” da Dr. Salete da Ponte, estudo no qual, vai-se socorrer de Pedro Álvares de Seco, visto este descrever cuidadosamente os paços henriquinos, dando-nos a conhecer a existência de um pátio com um laranjal e jardim.

        “Os paços antigos tinham um pequeno terreiro junto à sua extremidade leste e o acesso a eles se fazia-se pelo lance inferior da escadaria que acedia à Charola; entrando por uma porta do piso térreo do Claustro da Lavagem, encontrava-se uma escada conduzindo à sala de recepção no andar nobre dos paços. Outro acesso era por uma porta grande (denominada «Porta dos Arcos»), junto ao referido lance de escadaria, passando sob a sala de recepção e através de outra porta, a qual, por sua vez, abria para um pátio, em cuja face norte existia numa varanda com escada; a oeste era ainda a parede do claustro. As dependências dos paços antigos eram a norte e a leste daquele pátio. Fazia também parte dos paços, adjacente ao primeiro terreiro indicado, um laranjal e jardim. Os paços novos foram construídos na parte norte deste laranjal, que continuou, embora mais pequeno, a existir em frente dos novos edifícios.”

        Os paços antigos são da altura do Infante D. Henrique e os paços novos do tempo de D. Manuel, ficando situados aproximadamente no mesmo local. Alias, já em citações anteriores de Frei Jerónimo Roman, referi as ditas casas mandadas construir por D. Manuel ficarem nos Paços do Infante.

Salete, baseada em Pedro Álvares de Seco, refere um laranjal, possivelmente o mesmo que Roman descreve, e seria este nos Paços do Infante. Só que existe um problema: Salete não refere nenhum claustro! Possivelmente Pedro Álvares de Seco não identifica essa construção como sendo um claustro.

       Portanto, da confrontação das duas descrições do século XVI pelos dois autores referidos, acho estar em condições de afirmar não ter existido propriamente um claustro mas sim um pequeno pátio interior que, por ser possivelmente quadrado, levou a que Frei Roman, em data posterior à descrição do Pedro Álvares de Seco, tenha-o designado como sendo um claustro. As constantes alterações ou “mudanças que todos os dias se fazem” nos Paços, no decorrer do século XVI, pode ter contribuído para atribuições diferentes da parte de cada um dos autores, visto não existir dúvidas ambos estarem a referir o mesmo local. A confirmar ser o mesmo espaço, temos o facto de Roman dizer que “está (esse claustro) agora entre uns edifícios e casas velhas que serviram de palácio do rei D. Manuel” e por sua vez Pedro afirmar “os paços novos foram construídos na parte norte deste laranjal, que continuou, embora mais pequeno, a existir em frente dos novos edifícios".

      Ficam portanto, esclarecidas algumas questões relacionados com este Claustro. Se de facto existiu um nono Claustro, ou melhor, o primeiro, este estaria localizado no Paço do Infante, hoje em ruínas, e talvez seja mais apropriado o designar como um pequeno pátio interior de matriz quadrangular.



Paço do Infante no Convento de Cristo.



 Localização do Claustro/Pátio no século XVI.