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5/28/2011

QUINTA DO CONVENTINHO

HISTÓRIA LENDA E MISTÉRIO
Autoria: Paulo Andrade | Cethomar



A Quinta do Conventinho tem sido palco de encontro de alguns elementos do Cethomar nos últimos meses, não só para desfrutar da beleza dos seus jardins e cascatas mas também para discussão de alguns trabalhos que vieram a ser publicados no blog. São várias as motivações que levaram à escolha deste local e todas elas se relacionam com Tomar.
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Encerra a Quinta do Conventinho algumas curiosidades que facilmente permitem estabelecer um termo de comparação com os mistérios Templários de Tomar, senão mesmo entendê-los. Exemplo disso é a existência de uma assombrosa cripta mesmo por debaixo da capela-mor e à qual se acede através da remoção de uma pequena tampa tumular, sendo a cripta coberta por uma grande pedra semelhante à que encontramos em Tomar na igreja de Santa Maria dos Olivais  designada como a pedra oblíqua, não obstante as reservas que temos quanto à suposta cripta de Tomar. Alias, são três as criptas existentes nesta antiga capela consagrada ao culto do Espírito Santo. Se existe local onde poderemos sentir o que eventualmente as lendas de Tomar ditam sobre a cripta de Santa Maria, esse sítio é a Capela da Quinta do Conventinho, não obstante ser de data posterior.

Mas não fiquemos apenas por aqui, pois não é de somenos importância a lenda que rodeia este local situado em Santo António dos Cavaleiros que refere a existência de um túnel que liga este convento masculino ao convento feminino de Odivelas onde D. Dinis encontrou a sua última morada terrena, e entre os quais se pode desenhar facilmente uma linha recta. Ideia semelhante existe em Tomar em relação ao antigo convento masculino que se situava em Santa Maria e o convento feminino de Santa Iria, todavia sem alguma vez se ter comprovado a existência desse mítico túnel.

Não pense o leitor ficarem por aqui as analogias que apontámos como as motivações para o consagrar aos nossos encontros, e antes de revelar o motivo que levou-nos a convidar o Paulo Andrade a escrever um artigo sobre o convento, há que dar noticia de que no claustro onde foram sepultados durante séculos os freis conventuais do Espírito Santo é possível perceber o que eventualmente se esconde debaixo do lajeado sepulcral do claustro do Cemitério do Convento de Tomar, os quais nunca foram expostos e estudados como os da Quinta do Conventinho.

Não é de excluir das nossas motivações o facto de ser um convento consagrado ao Espírito Santo, o que nos remete indirectamente para as ideias messiânicas partilhadas pelo nosso Rei Poeta e por D. Manuel I, assim como para as solenes festas de Tomar.

A título de curiosidade, há que referir um dos nomes incontornáveis da biografia deste espaço: Alves dos Reis, certamente o maior “burlão” da história portuguesa e possivelmente um dos maiores do mundo, tendo-se tornado numa espécie de cartão de apresentação a quem o visita actualmente.

Por fim, e de forma a não prender por mais tempo no “vestíbulo” deste artigo o leitor ávido por descobrir a Quinta do Conventinho, só nos resta dizer que foi este lugar adquirido, após a extinção das ordens religiosas, por um homem que de igual forma adquiriu parte do Convento de Cristo: António Costa Cabral, o primeiro Conde e Marques de Tomar.

                                                                                  Degraconis
                                                                               P’lo Cethomar

Parte I
Publicação prevista para o fim do mês de Junho.
Eventual possibilidade de visita do local, incluindo a cripta
Max: 30 pessoas. Reserva Obrigatória

5/21/2011

DO TOMBO DA ORDEM DE CRISTO

JÁ PUBLICADO NO BLOG
Informamos que já se encontra publicado no blog este novo trabalho, desta vez de iniciativa do Cetarquivo, encontrando-se dividida em quatro partes. Três dedicadas excluisivamente ao Tombo e uma outra sobre a data da fundação do Castelo, esta última da autoria do Cethomar. Será de todo conveninente lerem as introduções, do Degraconis e Sérgio Tavares, incluidas na primeira parte.





CAPITULARES - parte IV

in Tombo dos Bens, Rendas, Direitos...
Autoria: CETARQUIVO

Algumas das Capitulares do Tombo
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UM TEXTO DESAPARECIDO - parte III

in Tombo dos Bens, Rendas, Direitos...
Autoria: CETARQUIVO


(uma tentativa de leitura do texto desaparecido)

………… que este livro … … … / o dossiê … … … …  que  o soubesse acabar pelo que ficou imperfeito … … (cartoreiras) esperamos sempre que viesse alguém que … … as escrituras que  fizesse dele a perfeição que a obra pede. Nunca se aplicara ao … … …. e … passados mais de cinquenta anos que o livro … um caderno: no qual tempo se perderam muitas folhas e outras se romperam até que no ano de … dois … cartoeiros (escriturários) que vendo a curiosidade do livro e quanto … … … antiguidade e da escrituras da fazenda que nele se …  do … … …  aumentou os cadernos que achou  e os      a … … modo que soube e o fez encadernar parece … que era … aproveitou o que achou inteiro. e que o autor não pedia nada em …  apresenta.  o convento ganha muito em haver memória de sua fundação e dos autores portugueses e mereces que os reis de Portugal sempre lhe fizeram   

DA DATA DA FUNDAÇÃO - parte II

in TOMBO DOS BENS, RENDAS, DIREITOS E ESCRITURAS DA
MESA MESTRAL DA ORDEM DE CRISTO NA VILA DE TOMAR
Autoria: CETHOMAR

 Data da edificação constante do tombo de Pedro Alvares de Seco (fólio 2)

Pedro Alvares de Seco aponta o dia 1 de Março de 1168 da Era de César como data da fundação do Castelo de Tomar, conforme depreendeu da leitura do letreiro inscrito numa pedra que se encontrava encastrada na parede dos paços designados por Henriquinos, colocando no entanto, em causa, a veracidade dessa mesma data, visto não se ajustar às outras datas referidas. Conforme o mesmo escreve, considerar a data de 1168 da Era de César como a da fundação, e ajustados os 38 anos da alteração do calendário ocorrida no séc. XIV, teríamos o ano de 1130 da Era de Cristo, data impossível para esse acontecimento, visto existir factos já conhecidos como sendo de data bem posterior, nomeadamente a nomeação de Gualdim como mestre da Ordem do Templo na província de Portugal, e então não terem encaixe em data ao recuada.

Passados aproximadamente duzentos anos, Frei Bernardo de Costa na sua obra “Historia da Militar Ordem de Cristo”, volta a invocar a mesma data conforme inscrito no letreiro citado, o qual leu e chegou mesmo a transcrever de igual. Alias, Frei Bernardo de Costa, além dessa data de 1168, em determinada passagem do seu tombo refere ainda a data de 1178, notoriamente um engano da sua parte induzido pela leitura do texto que podem ver no inicio deste artigo, onde o “s” do “cesenta” se assemelha a um “t”.


Antes de prosseguir, há que dar destaque à advertência de Oliveira Martins nas suas aulas quanto ao estudo dos livros produzidos no século. XVI, nomeadamente os conhecidos pelo nome de “Leitura Nova”, dizendo-nos que esses “volumes são preciosas obras de arte pela ornamentação que ostentam e pela perfeição caligráfica, mas nem sempre primam pela correcção das transcrições. Por isso, antes de fazer fé em qualquer documento da “Leitura Nova, deve o estudioso acautelar-se e averiguar da possível existência do original. Todavia, grande parte desses documentos só existe naquela colecção (…)”. Iguais reparos encontramos no presbítero secular Dr. João Pedro Ribeiro, um dos escritores mais eruditos de Portugal e verdadeiro precursor de Alexandre Herculano nas investigações históricas dos documentos existentes pelos arquivos e cartórios do reino, e que chega ao ponto de dizer que “os erros de data dos Livros Leitura Nova do Real Archivo são tão frequentes quanto o numero de datas que neles se transcreveu”.

Então mas a data inscrita é de facto a de 1168? Será possível que estes dois autores, que conviveram de perto com a sua presença no castelo, não conhecerem bem a data constante na pedra, que aliás é facilmente legível? Imiscuímo-nos de citar outros autores que tenham caído em semelhante erro por não serem tão relevantes para a história do castelo de Tomar.

Antes de explicar o engano da parte destes dois autores, iremos recuar até ao tempo de Gualdim Pais, e a partir dai explicar como surge a pedra que ambos leram erradamente, ou à qual não deram suficiente atenção na sua leitura.
No século XII, data da fundação do castelo, Gualdim Paes inscreveu a data do acontecimento num pedra que se encontra ainda hoje na torre de menagem. Trata-se de um lintel de uma porta para o primeiro piso da torre só acessível por meio de uma escada amovível, como ditavam as regras militares da altura. A inscrição, com o passar dos anos, foi-se degradando, chegando mesmo a perder parte do seu texto pela mutilação que sofreu na sua parte inferior. Pode o leitor, ficar a saber, a título de curiosidade, ser essa mesma pedra um aproveitamento de uma Ara funerária romana, onde é possível ler na sua parte voltada para baixo uma outra inscrição com mais de mil anos que a da comemoração da fundação do castelo.



Torre de Menagem onde está o letreiro do tempo de Gualdim Paes
 e onde o aspado é mais evidente – Inscrição romana virada abaixo.

A determinada altura, possivelmente no século XIII, por ordem de alguém foi o texto dessa pedra da torre de menagem, transcrito para uma nova pedra, constituindo-se como uma réplica da original. O motivo de tal acção não há maneira de o saber, mas possivelmente surge do facto da pedra da torre estar francamente em risco de se perder, ou eventualmente, uma forma de dar noticias da fundação do castelo em lugar mais central, visto a cópia ter sido colocada em local francamente mais visível e próximo do centro da vida social. Não só se fez uma cópia integral do texto como se acrescentou mais notícias da história daquele castelo. Foi colocada na fachada dos Paços da Rainha e só posteriormente assentou no local onde se encontra hoje.

Foi esta cópia que ambos os autores referiram como tendo sido aquela de onde tiraram a data que apontaram como a da fundação do castelo.


Aparentemente a data que se pode ver é a de MCLXVIII (1168) mas o “X” apresentado na data não é semelhante aos restantes que surgem no decurso do texto. Trata-se de um “X” “aspado”, o que multiplica o “X” (de valor 10) por 4, dando-lhe então o valor de 40 e não de 10. Portanto a leitura da data deveria ser de MCLXXXXVIII, ou seja, o ano de 1198, e se a essa data retirar-mos os tais 38 anos obtemos a data de 1160, actualmente considerada como a da fundação. (existe ainda a questão de ser 1160 ou 1161, mas essa é uma outra história para outra altura)

 Verifica-se mais facilmente o “X” “aspado” na pedra original, mas não deixa de ser verificável também na cópia, pelo menos para quem esteja familiarizado com textos antigos, pelo que muito nos causa admiração, Pedro Alvares de Seco não ter feito uma correcta contagem. Não temos neste momento a certeza se foi por não saber que o “X” “aspado” tem o valor de 40, ou se a causa se deve a descuido seu quando a viu, não tendo olhado atentamente para a original que estava nas proximidades. Mais nos admira, ter levantado muitas dúvidas quanto a essa data e não se ter dedicado a tentar perceber que erro poderia estar a ocorrer.

Quanto a Frei Bernardo de Costa, o qual não nos causa tanto espanto em ter cometido o mesmo lapso de leitura, pode muito bem ter sido influenciado pelo texto de Pedro Alvares de Seco, do qual se socorreu para elaboração do seu tombo sobre a historia do Ordem do Templo e da Ordem de Cristo. Todavia o facto de ter feito uma transcrição para o seu tombo do próprio texto constante na pedra duplicada, onde não “aspou” o “X”, pode levar-nos a pensar não ter dado conta ou não saber de tal prática antiga.


Transcrição do letreiro feita pelo Frei Bernardo de Costa
 onde não se verifica o “X” aspado

Se acreditarmos no que João Pedro Ribeiro afirma, poderemos crer tratar-se de facto de um desconhecimento da parte de muitos dos que estavam incumbidos de transcrever documentos antigos no séc. XVI e não só nesse século pelos vistos.


Resta-nos dizer que a inscrição original, em virtude da mutilação sofrida perdeu as ultimas palavras do texto, estando no entanto reconstituídas na copia que se fez.

DO TOMBO DA ORDEM DE CRISTO - parte I

Autoria: CETARQUIVO
Do Tombo dos Bens, Rendas, Direitos e
Escrituras da Mesa Mestral da Ordem de
Cristo na vila de Tomar.

Antes de dar lugar à publicação promovida pelo coordenador do CETARQUIVO, deixamos aqui uns pequenos reparos ao seu conteúdo para que o leitor perceba a sua importância.

As duas imagens conhecidas da Charola, anteriores ao século XVII, correspondem a iluminuras de dois livros quinhentistas. Uma das imagens, retirada dos designados livros "Leitura Nova" (Fig 1), dá-nos a conhecê-la pelas mãos de um anjo e talvez seja a mais difundida. A outra, menos divulgada, está reproduzida em alguma literatura, nomeadamente nos Anais da UAMOC, todavia, sempre a preto e branco e sem deixar perceber de que modo se insere no livro. Trata-se de uma iluminura de uma letra capitular e ao contrário do que se possa pensar, é bastante preenchida de cor. Estamos em crer ser a primeira vez que se publica esta imagem da Charola contextualizada no texto que a rodeia e colorida conforme está no original (Fig 2).

Fig 1                                  Fig 2

É necessário, antes de prosseguir, pedir algumas reservas quanto à sua representação: Trata-se somente de uma tentativa de reconstituição de como teria sido anteriormente a D. Manuel I e não como efectivamente era na altura, visto no decorrer dos séculos ter sofrido obras que alteraram o primitivo oratório da fortaleza. Já não possuía a porta que se vê na imagem, tendo dado lugar à janela que conhecemos actualmente e nem a cobertura era a mesma.

Se desenhada com base em memorias ou porventura em algum desenho entretanto desaparecido não há maneira de o sabermos, não deixando no entanto de ser um valioso documento histórico, nem que seja pela ideia que se tinha da mesma em tempos anteriores.

Outro aspecto de interesse especial, e que está ainda mal explorado, é o que concerne ao Tombo de Santa Maria dos Olivais. São diversas as alusões ao dito tombo e para o qual o autor contribuiu com um texto, não obstante os seus autores mais profícuos terem sido Gaspar Garro (de letra gorda e grossa), que o iniciou, e Bartolomeu de Almeida que o finalizou. Denota-se deste modo, a relação que existe entre os dois tombos no que diz respeito a informações pertinentes sobre os assuntos tratados em ambos.

Ainda sobre o mítico Tombo de Santa Maria e sobre o qual muito se tem especulado quanto aos segredos que encerra, aproveitamos o momento para dizer que existe a ideia de que se tenha perdido, preocupação manifestada pela UAMOC quando se refere ao mesmo dizendo que anda por ai aos tombos já naquela altura. Não está perdido e encontra-se em relativamente bom estado.

A titulo de curiosidade, podemos realçar que no Tombo de Santa Maria, de 236 fólios, pode-se recolher informações relacionadas com os túmulos destruídos “sem aver disso necessidade”, segundo a opinião do autor, e é precedido de um texto ao qual atribui a designação de “Vestíbulo” do livro (16 fólios), claramente num sentido metafórico, porque tal como nos vestíbulos “se acha qualquer notável e preciosa matéria de que no livro se trata…”. Visto não ser esta a matéria de agora avancemos adiante.

Após esta introdução estar concluída e o trabalho do Cetarquivo pronto a publicar, o Sérgio Tavares, manifestamente surpreso (não era para menos), informa-nos que existe um texto escondido e aparentemente imperceptível no primeiro fólio, e que possivelmente iria conseguir dá-lo a conhecer. Até ao presente momento ainda não obtivemos notícias do seu teor, mas a certeza, da parte do Sérgio Tavares, de que, seguramente, irá conseguir publicar quase a totalidade do que se esconde nessas letras que nos passaram despercebidas. Poderia ser simplesmente o decalque da página seguinte ou a tinta da página anterior mas já nos foi garantido não o ser. Ficamos então muito ansiosos por tal, e para não tardar esta publicação, iremos o incluir muito brevemente num post no seguimento deste.
Na parte final deste texto inclui-se algumas das espectaculares capitulares do Tombo, onde alias se pode verificar duas interessantes imagens, a nosso ver, de D. Manuel I e D. João III, e para as quais se pede a vossa maior atenção, com realce para a primeira capitular do lado esquerdo, por ventura a de D. Manuel.

Não sendo uma publicação critica da parte do Cetarquivo optámos por fazer um pequeno reparo numa publicação à parte, guardando para outro post uma análise mais exaustiva em conjunto com as descrições de Frei Jerónimo Roman.

Só nos resta assim congratular o Sérgio Tavares por esta iniciativa e ficamos aguardar mais algumas publicações relacionadas com este Tombo, visto ter-nos sido dito haver outras partes de interesse superior para os estudos que o Cethomar vem promovendo através do Blog.

                                                                                           Degraconis
                                                                                        P’lo Cethomar

1. Introdução

O CETARQUIVO, cujo âmbito é o de apoiar os diversos núcleos de trabalho do CET (o CETHOMAR por enquanto é o único ainda divulgado publicamente), vem por meio deste post dar a conhecer a primeira de várias publicações cujo objectivo é expôr parte do importante acervo documental que têm vindo a reunir ao longo dos últimos anos, sendo o objecto deste agora publicado de especial interesse para o CETHOMAR o qual agradeço, na pessoa do Degraconis, o apoio na sua elaboração.

No momento de entregar ao público o presente texto, cumpre-me mencionar que obra tão vasta e complicada não se afigurou obra fácil. Conhecedor das limitações em termos de recursos e habilitações em paleografia para semelhante tarefa, não espero como tal, ser isento de críticas, incluindo-me nas primeiras fileiras dos leitores que possam tecer ásperas críticas a este trabalho de actualização de um texto arcaico de caligrafia e pontuação bastante diferente do nosso português corrente, o qual deve obedecer a regras convencionadas por mim desconhecidas.

Humildemente, estimo no entanto, aparte do proveito que seja possível do trabalho realizado, que o leitor lhe traga correcções que lhe pareçam aproveitáveis para a dignidade que o texto merece. Caso já tenho sido feito semelhante trabalho, o qual não conheço, muito agradeço indicação do seu paradeiro.

Não pretendo tecer considerações sobre o seu conteúdo e autor, visto ser apenas uma publicação com o intuito de divulgar.

Convém no entanto informar os leitores, tratar-se de um Tombo encomendado por D. João III, administrador do Mestrado da Ordem de Cristo, ao Pedro Álvares (1492-1581), cavaleiro da Ordem, por Alvará dado em Tomar em 1542, conforme escrito no fólio inicial, aqui transcrito, não obstante a sua feitura ser bastante posterior.

Acompanha esta publicação um apêndice com algumas das belíssimas capitulares que surgem ao longo do texto. Este tema será aprofundado futuramente. O CETARQUIVO publicará em forma de catálogo a totalidade das capitulares que se encontram patentes neste tombo. Lembro que o pdf inclui notas minhas de rodapé ao texto que não foi possível colocar no blog. O pedido do pdf deverá ser efectuado por email.

                                                                           Sérgio Tavares
                                                                  Coordenador do Cetarquivo


2. Tombo dos Bens, Rendas, Direitos e ...


(carregar 2x para alta resolução e possível leitura)

"De El Rei faço saber a vós doutor Pedro Alvares do meu desembargo e juízo das causas do convento desta vila de Tomar que por meu regimento vos tenho mandado que fizésseis demarcação das heranças e propriedades do dito convento e igrejas desta vila e dos bens e heranças que pertencem à mesa mestral na dita vila e seu termo / e porque agora serão informado que a dita demarcação é feita vos mando que façais tombo de todas as ditas heranças e propriedades do dito convento e igrejas e da mesa mestral / os quais tombos fareis em livros encadernados apartados sobre e no principio de cada livro será trasladado este alvará para se saber como os ditos tombos se fizeram por meu mandado, e assim mesmo fareis tombo dos bens que pertencem à vigaria desta vila de Tomar e às comendas do convento pela dita maneira, e este alvará mando que se cumpra posto que não seja passado pela chancelaria sem embargo da ordenação em contrário, Jorge Rodrigo o fez em Tomar a seis de Maio de mil e quinhentos e quarenta e dois anos.
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(na parte inferior da página descobri um texto apagado que consegui reconstituir
 em algumas das suas partes. Está públicado no post seguinte)

Da invocação da igreja do convento e do seu fundador. Folio 2


(Fólio onde se insere a imagem da Charola)

A igreja deste convento é da invocação do bem-aventurado São Tomás Arcebispo Cantuáriense (de Cantuária) do Reino de Inglaterra e ao fazer deste tombo não se achou nem pôde saber quem a edificou nem em que tempo/ pode ser que foi por negligência e descuido do Dom prior que era ao tempo que se mudou o portal principal dela que sabia estar da parte do levante entre a torre da capela de São Jorge e a dos sinos em cujo lugar agora está a fresta grande rasteira de vidraças por não guardar ou mandar trasladar o letreiro que devia estar sobre ela / como está o nome do edificador e tempo em que se edificou o castelo sobre o portal grande dos arcos debaixo da sala dos paços. E posto que ao presente não se saiba ao certo de quem a edificou nem em que tempo / pudesse crer por prováveis razões e conjecturas que o mesmo edificador do castelo que foi o mestre D. Gualdim a edificou / o que não pode ser senão depois de feito o castelo muitos anos / porque este castelo foi começado de edificar pelo dito mestre no primeiro dia de Março da era de mil e cento e sessenta e oito / que fora o ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo mil e cento e trinta, tirados os trinta e oito anos que a era de era de César precedeu o dito nascimento: ao qual tempo não era, nem dai a mais de trinta anos foi canonizado este bem-aventurado santo / a cuja honra e sob cuja invocação se fez esta igreja / porque o papá Alexandre terceiro que o canonizou foi eleito no ano do nascimento do senhor de mil e cento e cinquenta e oito e canonizou-o no sétimo ano de seu pontificado / e não se podia dedicar igreja à sua  honra e sob sua invocação senão depois de ser canonizado / pelo que está manifesto que depois de se começar de edificar o castelo se passaram trinta anos ou mais antes que se pudesse edificar esta igreja, e que o mesmo Dom Gualdim que edificou o castelo a edificasse parece porque era vivo ao tempo que se o dito santo canonizou e viveu depois vinte e nove anos porque faleceu na era de mil e duzentos e trinta e três segundo se mostra pelo epitáfio da sua sepultura que está em Santa Maria do Olival que foi no ano do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo mil e cento e noventa e cinco / e é bem de crer que homem tão grande edificador que tantos castelos edificou quis dar fim e remate à sua inclinação de edificar juntamente com sua vida em fazer e acabar o mais nobre edifício de todos quantos fez assim por ser dedicado ao culto divino como por a obra ser muito melhor na forma e fortaleza que todas as outra que fez,

Primeira parte do tombo do convento.


Forma e fortaleza desta casa,
A capela desta igreja está em meio dela e é uma charola oitavada e em cada oitavo fica seu arco vão / e parece que se fez assim para o altar estar no meio dela e se poder ver Deus de todas as partes ao redor / e sobre cada arco está uma fresta para claridade do alto da capela e cada um dos oito pilares que estão entre arco e arco têm incorporadas quatro colunas / as duas que estão de frente uma da outra em cada arco não sobem mais que até à volta deles e as outras duas que estão uma da parte de dentro da capela e outra de fora sobem até as voltas das abóbadas da capela e do corpo / o corpo cerca a capela de redor e é de tanta largura sua circunferência quanta é a do diâmetro da capela / e fez-se o corpo com engenhosa e graciosa invenção em dezasseis vãos sendo a capela em oitavos / e a cada um dos oitavos da capela respondem dos dezasseis do dito corpo / cada um dos quais e tamanho como cada um dos oitavos nem mais nem menos / e em cada canto destes dezasseis vãos está meio pilar com sua coluna incorporada do modo e forma dos da capela e sobe até à volta da abóbada e de cada coluna nasce seu arco sobre que se firma a abóbada: dos quais oito respondem às outras oito colunas da capela / os outros oito acabam em represas sobre as frestas da mesma capela / e nos panos de entre pilar e pilar do corpo estão oito frechas em sua proporção e altura / um dos panos com fresta e outro sem ela e algumas destas frestas do corpo estão agora tapadas por causa das obras que depois se fizeram / as paredes são de onze palmos em grosso / afortelezadas com 16 fortes botareos da parte de fora em que estribão os dezasseis arcos da abobada. Foi feita esta igreja sem coro e só com dois portais / dos quais o mais pequeno fica dentro do cerco que vêm do castelo a esta igreja e à mão direita da entrada deste portal vai pelo grosso da parede uma escada para o andar de cima da abobada / o outro portal era o principal e estava contra o levante para fora do dito cerco entre a torre de São Jorge e a dos sinos onde agora está a frecha de vidraças rasteira de que fica dito / e desta maneira e forma deixou o edificador esta casa e formoso e muito gracioso templo / esperando pelos prósperos e claros tempos D’El Rei D. Manuel da gloriosa memória que os tem / e D´El Rei D. João nosso senhor seu filho para o adornar como fizeram espiritual e temporalmente com tão religioso e devoto culto divino e tão sumptuosas e tais obras que assim aos naturais como aos estrangeiros que as vêem alevantam os espíritos à contemplação dos bens da glória divina.

Para que foi edificada a igreja do convento. Fólio 3


Que esta igreja não foi edificada para ser mosteiro e convento de religiosos como agora é senão para oratório privado e fortaleza.
Manifesto está que esta igreja não foi edificada para ser convento dos religiosos do Templo que o castelo e cerca desta vila e edificaram e povoaram de começo / porque tinham nela seu convento que era a igreja de Santa Maria do Olival como tenho dito no tombo dela / mas as causas e fim porque se podiam mover o dito mestre D. Gualdim e religiosos a edificá-la / deviam ser para os que estivessem em guarda deste castelo / em tempo que disso houvesse necessidade tivessem oratório em que ouvissem missa e orassem e juntamente fortaleza / a qual no lugar onde esta igreja está edificada lhe era necessária por ser muito mais alto que o lugar onde está o castelo que lhe fica sujeito / em tanto / que tomado este lugar / com pouca dificuldade se tomaria o castelo / e pode ser e assim parece que nesta necessidade de terem fortaleza neste lugar se viram o mestre D. Gualdim e seus cavaleiros no ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo mil e cento e noventa / no qual tempo os mouros os tiveram cercados por seis dias neste castelo como se mostra pela segunda parte do letreiro que está sobre a porta dos arcos debaixo da sala dos paços e por mim dito no tombo de Santa Maria do Olival e daquele tempo parece muito conforme a verdade que se o dito mestre Dom Gualdim foi o edificador desta casa (como é de crer) a começou de edificar e teve tempo para a acabar antes do seu falecimento / porque viveu depois cinco anos como se mostra pelo epitáfio de sua sepultura já atrás dito. E a dedicá-la à honra e sob nome e invocação deste santo o moveriam à santidade de sua vida e os milagres que o Senhor Deus por ele fez depois de sua morte cuja a fama por toda cristandade resplandecia em vida do dito mestre …