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5/27/2015

GUIA TEMPLÁRIO DE PORTUGAL - Almourol/Cardiga.

Lançamento de novo livro do Prof. Manuel J. Gandra
Dia 30 de Maio -  Entrada livre - Em Almourol e Barquinha

Caríssimos,

Recordo que no próximo sábado, 30 de Maio realizarei uma visita guiada ao castelo de Almourol, a qual terá início pelas 14.30 h. Os interessados deverão dirigir-se para o cais de el-Rei, em Tancos, e não para o cais junto do castelo como antes noticiei. às 17.30 h terá lugar no Cntro Cultural da Barquinha a apresentação do volume do Guia Templário de Portugal sobre Almourol e Cardiga. Aos que desejem adquirir o livro sugiro que façam a sua reserva contactando-me para o e-mail manueljgandra@gmail.com, pois a edição é limitada a 102 exemplares e o ritmo das encomendas faz antever a possibilidade de não haver exemplares disponíveis no dia da apresentação. Aguardo-vos em Almourol, ou na Barquinha. Abraço.  
Manuel J. Gandra







5/22/2015

ALMOUROL LENDÁRIO I (versão draft )

Imagens antigas & raras 
Autores: Rui Gonçalves e Paulo Peixoto

"Parco em memórias militares, Almourol acha-se, contudo, envolto num halo de mistério e magia. Consoante a tradição oral das gentes da região, um complexo sistema de túneis ligavam-no a lugares circunvizinhos, o mais extenso dos quais (c.12 km) comunicava com a Vila Velha da Atalaia"
in "Guia Templário de Portugal" de Manuel J. Gandra






(carregar nas imagens para ampliar)

Várias têm sido as imagens publicadas no nosso grupo do Facebook Cethomar, quer por nós próprios, quer por terceiros. De forma a conceder-lhes alguma perenidade e a que não se percam nos confins do grupo para sempre, decidimos recolher as mais interessantes e aproveitar o momento para juntar várias outras que havíamos reservado para um futuro artigo. Não iremos informar mais do que a data de cada uma delas, se bem que existam dúvidas a respeito de várias. Todavia, em virtude do acervo ser constituído por algumas imagens raramente vistas, relativamente a essas não deixaremos de escrever breves considerações, de forma a que o leitor consiga perceber a sua proveniência, autor ou data concreta. Será o caso desta primeira publicação em que seleccionámos cinco do séc. XIX, data em que parece surgir pela primeira vez gravuras de Almourol, isto se excluirmos uma estilização do séc. XVIII, e à qual fazemos referência mais adiante.

Dividiremos as publicações por períodos cronológicos, desde o inicio do séc. XIX até 1965, privilegiando no entanto os anteriores a 1945. Visto o vasto espólio disponível e facilmente acessível a partir desta data, escusamo-nos a publicar mais do que meia dúzia de imagens, e estas apenas para que se tenha uma ideia das alterações ao monumento e à sua envolvente. 

Quer a DGEMN, a Torre do Tombo, o Arquivo Militar e o Municipal de Lisboa, entre outros, estão bem recheados de fotos a partir da década de trinta, pelo que o leitor ávido de ver mais fotos poderá socorrer-se destes mesmos arquivos públicos. Também a partir da década de quarenta, António Passaporte, dedica-se à produção de postais (ColecçãoLoty), desistindo em meados da década de sessenta em virtude do editor Centro de Caridade de N. Sr.ª do Perpétuo Socorro (Porto) ter-se lançado na produção massiva de postais coloridos. Colecções onde se pode encontrar muitas imagens de Almourol.


A primeira gravura apresentada, menos rara do que as restantes, é da autoria de Robert Ker Porter e surge inserida na sua obra “Letters From Portugal and Spain : Written During the March of the British Troops Under Sir John Moore :With a Map of the Route, and Appropriate Engravings”, publicada em 1809, data que tem sido atribuída à representação.

Ilustra esta, a carta n.º VI datada de 7 de Novembro de 1808 redigida na cidade de Abrantes. Se levarmos em consideração que a carta anterior indica o dia 19 de Outubro e com referência à cidade de Lisboa, podemos balizar a sua produção, ou pelo menos dos esquissos que lhe tiveram subjacentes, entre estas duas datas, ambas ainda em 1808.

Porter na carta n.º VI (pág.78), descreve todo o percurso efectuado entre Lisboa e Abrantes, indicando ter passado por Santarém, seguido para a Golegã, e atravessado para a margem contrária do rio Tejo no local de Punhete. Após passagem por Tancos avista então a ilha de Almourol, e descreve o local conforme excerto seguinte:

Excerto da carta VI de Porter escrita em 7.11.1808

De acordo com informação recolhida na obra “A Muse of Fire: Literature, Art and War”, de Arnold D. Harvey (pág. 15), Sir John Moore havia convidado Porter a acompanhá-lo numa expedição a Espanha (e Portugal) em 1808 e informa também que os originais das suas gravuras se encontram na Sala de Pinturas do British Museum.

Volta esta a surgir na obra “The Military Memoir and Romantic Literary Culture, 1780-1835” (pág.100) de Neil Ramsey, se bem que se trate de uma reprodução de qualidade inferior, onde chega a comentar a presença de soldados Ingleses na periferia do cenário, aliás é este o tema do livro.

Do lado esquerdo parece surgir representada a Vila de Tancos, à qual Porter se refere, destacando-se a presença de um edifício religioso e algum casario. Trata-se provavelmente da Igreja Matriz. A sua configuração e orientação parece-o reforçar, não obstante estar actualmente a torre sineira na sua frontaria e não na retaguarda.


Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de Tancos, em 5.07.1909.

Porter no texto, inclusive, informa que em Tancos existiria um ou dois edifícios religiosos: certamente a igreja matriz e a Igreja da Misericórdia, esta orientada na direcção do rio.


O livro “Travels through Portugal and Spain, during the Peninsular War” de William Graham, publicado por editor de Bridge Street em Londres na data de 1820, inclui um mapa desdobrável e seis gravuras, das quais, a segunda gravura apresentada é uma delas.

No prefácio existe indicação de que pelo facto da obra não ter sido escrita com intenções de publicação, lhe acrescenta valor relativamente a outras já com esse propósito. Descreve William Graham o itinerário percorrido desde Dublin, com intenções militares, serviu este o exército do General Wellington durante a guerra peninsular, até regressar a Inglaterra, tendo passado por Portugal, Espanha e França. "Chegado a Lisboa em 17 de Novembro de 1812 percorre o Norte do país, sobretudo a região das Beiras, passando em seguida por toda a zona litoral entre a Figueira da Foz e o Porto, atravessando depois as povoações entre Guimarães e Bragança e cruzando finalmente a fronteira para Espanha de 26 de Maio de 1813. São descritas, a par e passo, todas as terras por onde o autor se detém, bem como as distâncias entre elas, a sua localização geográfica e o tipo de paisagem. Devido ao objectivo da viagem e às funções específicas de W. Graham como membro da Comissão de Abastecimento das tropas britânicas, o relato é caracterizado por bastante precisão e objectividade e não são feitas grandes análises sobre as características da cultura e do povo de Portugal".

Posto isto, e apesar da obra só ter visto a luz do dia em 1820, a gravura ou o seu esboço, terá sido realizado entre o ano de 1812 e 1813, e se acreditarmos ter sido feita no local na altura em que passou por Almourol, podemos a datar como sendo do dia 9 de Dezembro de 1812.

A respeito de Almourol diz-nos o seguinte: “No dia 8 de Dezembro de 1812, continuámos para a Golegã, a catorze milhas, e no dia 9 para Punhete (Constância), a doze milhas. A estrada para estes lugares era excelente; pas­sámos por vários bosques de oliveiras e a cerca de meio caminho descemos uma grande encosta, onde a espessa folhagem das árvores quase fechava o caminho. Fomos obrigados a subir de novo, e depois de alguma dificuldade escalámos o topo, que era muito escarpado. Tendo andado cerca de uma centena de jardas, chegámos a uma curva da estrada onde a vista era extraordinariamente bela. Dando a volta, atingimos uma pequena ponte (em Tancos) sobre um riacho que corria para o Tejo. À nossa frente estava o Tejo, que se expandia num grande lago. No centro estava uma ilha verde, juncada com as veneráveis ruínas de um palácio mourisco (castelo de Almourol), do qual conseguíamos distinguir as torres que restavam em vários lugares. Estendia-se ao longo de um grande espaço. De um modo geral estávamos todos muito entretidos com o nosso passeio. A estrada torneava o lago até ao lado oposto, cerca de duas milhas, e era tão macia quanto a fina areia podia tomá-la. Por todos os lados aparecia uma diversidade de bosques, despontando aqui e acolá, e, para fechar e dar vida à cena, surgia na parte detrás uma linda aldeia onde quase todos eram pescadores. Isto oferecia a vista mais formosa que tínhamos visto desde que tínhamos deixado Lisboa” (tradução obtida no blog  Atalaia-barquinha de Fernando Freire, no qual podem ver a descrição, quer de Punhete, quer de Tomar)

Esta segunda gravura retrata Almourol de forma insólita, o que pode eventualmente indicar ter sido desenhada após a sua passagem por Almourol, mas nunca posteriormente a 1820, data da publicação. A inserção de uma ponte imaginária do lado esquerdo, pode demonstrar que existiu apenas uma intenção de ilustrar o texto quando se decidiu pela sua publicação. No entanto, em conversa com Manuel João Pedro Silva, ex-autarca da Câmara Municipal da Barquinha e ex-presidente da Junta de Freguesia da Praia do Ribatejo, exímio conhecedor da zona e de quem nos socorremos para fazer identificações,  levantou-se a hipótese de ter sido obtida a partir de uma memória visual onde se incluiu a ponte da Ribeira de Laveiros ou de Tancos. Não é de excluir que possa ser uma outra qualquer da região. São diversas as ribeiras e as pontes existentes na zona similares à representada. De sublinhar que o curso da Ribeira da Atalaia e de Tancos surgem no primeiro "Mapa de Portugal" desenhado por Fernando Álvares de Seco em 1560, o que demonstra a importância destas.


Aliás, parece que estas duas primeiras gravuras antigas da fortaleza perfilham dessa mesma estranheza. Terá sofrido substanciais alterações entre o início do séc. XIX e a data das gravuras produzidas pelo Conde de Mello em meados do séc. XIX e a publicada na "Ilustração Portugueza" em 1858? Serão estas duas últimas uma recriação do que Almourol teria sido, só se tendo eventualmente verificado intervenções no final do séc. XIX? Se levarmos em conta a gravura do Coronel Andrew Leith, datada provavelmente de 5 de Janeiro de 1809, ou seja, um ano após a primeira gravura apresentada e três anos antes da segunda, teremos de concluir por falta de fidelidade da parte destes artistas à realidade, não obstante, na de Leith ser possível avaliar a degradação que o monumento padecia à época. Sobre a imagem de Leith, perspectivada provavelmente do adro do extinto Convento do Loreto - local de uma vista pitoresca, segundo o autor - dedicaremos alguns parágrafos no artigo seguinte.

 in "A narrative of the Peninsular War"
by Sir Andrew Leith-Hay, London, 1839
(Sir Andrew havia estado em Almourol em 1809)

Voltando à questão das intervenções, a DGEMN apenas as refere a partir da data de 1939, mas Coronel Garcês Teixeira em artigo publicado na revista "Serões", em 1907, alude a intervenções que haviam ocorrido no Castelo há menos de meio século, por parte das Obras Públicas (MOP? criado em 1875). Eventualmente a obra “Renascença Artística e Práticas de Conservação e Restauro Arquitectónico em Portugal, Durante a I República, Fundamentos e Antecedentes" de Jorge Custódio, que no Vol. I apresenta uma resenha histórica, pode referir-se ao assunto, mas a escassez de tempo não nos permite folhear as suas aproximadas 2000 páginas e as notas de rodapé.  Seja como for, é conhecida uma campanha arqueológica no castelo em 1899, altura em que se descobre mais de duas dezenas de artefactos enterrados, alguns ainda da Era Romana.  


Artefactos descobertos em Almourol

Curiosa é a referência ao Castelo de Almourol, ou simplesmente "Torre d’almourol", conforme designa a "Carta das Correições de Tomar e de Coimbra..." de princípios do séc. XVIII, indiciando o eventual estado de degradação das restantes torres que ladeiam a torre de menagem, como sendo de origem mourisca. É sabido que muitos dos monumentos portugueses, antes de ter surgido uma verdadeira história da arte em Portugal nos finais do século XIX, com Joaquim Vasconcelos, eram abusivamente conotados com arquitecturas de feições orientalizantes, onde a arabizante se apresenta como uma sub-categoria, e muito próxima de nós culturalmente. Vários são os estrangeiros, e não só, que referem o Mosteiro dos Jerónimos como uma arquitectura de influência mourisa e a fachada da Janela do Capítulo do Convento de Cristo de feições orientais. Aliás o próprio William Graham refere-se a Belém como “the Moorish Convent” (pág.11).

No entanto Almourol está longe de apresentar qualquer característica Manuelina, estilo que pelo seu exotismo originou as catalogações referidas. Podem no entanto, estes autores, estarem influenciados por estas atribuições arquitectónicas, ou no caso de Almourol, terem sido informados por autóctones de que se tratava de uma fortaleza do período da ocupação sarracena, até porque era usual atribuir-se a estes tudo o que era desconhecido ou que tivesse antiguidade tal que não se lhe conhecesse a origem. O próprio nome é muito sugestivo e pode contribuir para essa atribuição, não obstante uma interpretação mais erudita como a de David Lopes na obra “Nomes Árabes de Terras Portuguesas” (pág.166). O próprio Joaquim Leite de Vasconcelos pensa o topónimo Almourol como derivado de “moura” ou “mouro” com o significado de “pedra alta”, conforme nos atesta Antónia Coelho e Alfredo Costa na obra "Imagens de Vila Nova da Barquinha". A Literatura lendária, e não só, que versa Almourol entre o séc. XVI e o séc. XIX, reflecte semelhante ideia, denotando-se uma reciprocidade de influências.

Também é curioso não existir quaisquer referências nestes autores estrangeiros às lápides que se encontram em Almourol e em locais bem expostos, onde se consegue extrair a sua autoria e datação.


A respeito da terceira gravura não conseguimos encontrar dados biográficos do autor que auxilie a resolver a questão da sua origem ou se eventualmente resulta de uma representação esboçada in locus.

A autoria do desenho e da litografia, conforme informa a gravura, é de I. Salcedo e o editor A. Ronchi. Do lado direito verifica-se a seguinte inscrição: “ Lit. Donon”, apesar de inscrição em lado oposto já indicar claramente o autor do “dijubo” e da “Litografia”. Tratam-se de Isidoro Salcedo y Echevarría, Achille Ronchi e Julio Donón, os quais na década de setenta parecem ter trabalhado por diversas vezes juntos em Madrid, onde a editora Ronchi y Cía estava instalada.

Conseguimos apurar a data de c.1860 mas quase todas as outras obras conhecidas de Salcedo estão datadas da década seguinte, estendendo-se até à década de oitenta, pelo que nos parece mais credível a datar como sendo de c.1870.

Porém, viemos a encontrar esta mesma imagem, com diferenças mínimas, já publicada em 15 de Maio de 1857 no “El Museo Universal", um periódico Espanhol, mas não colorida nem com a qualidade desta. A assinatura do desenho, ou do responsável pela xilogravura, no entanto não coincide com o indicado para a versão posterior e colorida. O texto referente à imagem, surge na edição seguinte datada de 30 de Maio, dedicando apenas um pequeno parágrafo a Almourol, cujo título é o de “Um prato de presunto”, resultado de um episódio ocorrido na altura.

Gravura do "El Museo Universal" de 15.05.1857

Não deixa o artigo de referir-se também às povoações das imediações, como sejam, Constância e Tancos, entre outras, estendendo-se na descrição de uma curiosa história recolhida no local relativa a um “palácio sumptuoso de belissima arquitectura e rodeado de grandes jardins e terras de trabalho", próximo da Barquinha. Certamente o Palácio da Quinta da Cardiga.

Quinta da Cardiga - Séc. XVIII 


Pelo interesse que o relato alcança, somos obrigados a tecer algumas considerações antes de prosseguir para a imagem seguinte. Diz-nos o autor que havia perguntado pelo proprietário do palácio a um dos marinheiros, que de imediato se apressa a informar de que o dono havia sido em tempos, pobre como ele era. De seguida conta então a história, tendo o autor tomado notas.Não há muitos anos, que o L...hoje por nome L...de C…(não conseguiu perceber os nomes ditados) passou por um convento que havia um quarto de légua (antiga) para baixo da Barquinha: e ele ia muito mal arranjado, era pobre, e diziam ser da província de Vailencia. Sentou-se de frente do dito convento, e dissera: ai! este convento ainda há-de ser meu. Todo o seu dinheiro e toda a sua riqueza eram seis vinténs que trazia no bolso. Finalmente embarcou para a Índia e negociando na escravatura de pretos, diz-se, que ainda de brancos, trouxe de lá muito dinheiro, mandou fazer do Convento a quinta; e hoje tem muito dinheiro e terras”

Segundo o relato, tratava-se inicialmente de um convento. Poderia ser o do Loreto, mas um quarto de légua para baixo da Barquinha (o que será para baixo?), parece indicar a Cardiga, apesar de não ter sido propriamente um convento, mas ter pertencido a uma ordem religiosa, à Ordem de Cristo. Os nomes que o autor não conseguiu registar devem ser o de Lamas e Lamas de Covacich.

A informação dispersa encontrada na internet, no entanto sem fontes pelas quais possamos atestar absoluta credibilidade - apenas nos diz “segundo reza nas histórias da família" - permitiu-nos fazer a seguinte reconstituição: Maria Luiza Lamas Covachic em conjunto com o seu marido António Zagallo Gomes Coelho, herdou a Quinta da Cardiga, tendo-se este dedicado à sua gestão por tempo inteiro. Em 1892 venderam-na (aos actuais proprietários) e mudaram-se para a “Casa do Patriarca” na Atalaia, para onde deslocaram as mobílias da Cardiga. Isto indica-nos que havia pertencido, ou sido adquirida, por um dos ascendentes de Maria Luiza, ou a Emília Firmina Bigoti Covacich, sua mãe, ou a Nicola Kovačić (Covachic), seu avô, e pai de Emília. Este, natural de Ragusa, chegou a Portugal com treze anos sem saber uma palavra de português, tendo no entanto enriquecido com o fruto do seu trabalho. Emília teria casado com José Lamas, oriundo da localidade de Lamas d’Orelhão. Este em novo teria ido para Lisboa trabalhar, e por duas vezes se deslocou à Índia a serviço do seu patrão. Quando regressou investiu as suas economias numa pequeníssima loja onde vendia chá da Índia, ensinando a fazê-lo (a primeira loja em Portugal onde se vendia chá), tendo vindo a enriquecer consideravelmente. O apelido dele era Gonsalves de Sousa mas com o passar do tempo foi substituído pelo o de "Lamas".

Apesar da história contada pelo marinheiro estar romanceada, é possível encontrar na suposta "história da família", vários pontos de contacto, nomeadamente a questão da pobreza, da Índia e das próprias iniciais dos nomes dos proprietários, e obviamente, a ligação à história da Cardiga. Ficamos no entanto na dúvida se a questão ficou resolvida, mas deixaremos para outros mais próximos da realidade a validação.

De volta à gravura..a identificação da mesma com sendo do Castelo de Almourol não parece levantar muitas dúvidas, quer pela legenda “Castillo de Almorol” inscrita, quer pelas evidências representadas. Almorol é uma das várias grafias de Almourol ao longo dos séculos (Almoriol, Almourol, Amurol, Almorol, Almourel e Almoirel).E se isso não bastasse, a legenda e o texto da imagem de 1857, a original, ou a que serviu de modelo a Salcedo mais tarde, dissipa qualquer dúvida que possa subsistir.

Com respeito à povoação destacada do lado direito, inicialmente pensou-se tratar-se de Constância, apesar da perspectiva não corresponder à realidade, nem existir no cenário as ruínas da antiga torre, ou castelo, também assim designado, de Punhete, e que muitos artistas do século XIX não deixaram de incluir nos seus desenhos.

Imagens de Constância no séc. XIX

Ou seja, geograficamente não é possível avistar Almourol do local de Constância. Posteriormente, levantou-se a hipótese do aglomerado ser a povoação do Arrepiado, o que parece mais credível, e para isso contribuiu a legenda da quarta imagem apresentada que parece coincidir na perspectiva, assim como a opinião abalizada de Manuel José Pedro Silva.


Em 26 de Fevereiro de 1852, M. José Júlio Guerra, Brigadeiro Graduado de Engenharias e Obras Públicas, foi encarregado por portaria oficial de levantar planta do rio Tejo para se proceder às demarcações das suas margens e melhorar as condições de navegabilidade entre Abrantes e Vila Velha. Resultou deste processo moroso, a publicação da obra “Estudos chorographicos, phisicos e hidrographicos da bacia do Tejo comprehendida no Reino de Portugal, acompanhados de projectos e descrição das obras tendentes ao melhoramento da navegação dªeste rio e protecção dos campos adjacentes”, da sua autoria, e por Ordem do Governo em 1861.

Tal como indicado no título, acompanha esta obra, material suplementar, onde se encontra a quarta imagem publicada. Surge inserida como ilustração da “Planta do Rio Tejo desde o Porto da Cereja até Villa Nova da Barquinha”, onde também é possível verificar semelhantes imagens de outras localidades, destacando-se em primeiro plano, desenho da ponte do caminho de ferro sobre o rio Tejo na zona da Praia do Ribatejo. As outras são: a Vila de Tancos e a sua ribeira, possivelmente onde se situa a suposta ponte imaginária da segunda gravura apresentada, a Vila de Constância e a foz do rio Zêzere, marcando presença a antiga Torre de Punhete, e por fim a Vila da Barquinha. 



O ponto de perspectiva desta imagem é similar com o da terceira gravura e informando a legenda de que a povoação é a localidade do Arrepiado, não é despiciente deduzir que a povoação representada primorosamente na terceira gravura também o seja.

A nossa última gravura, assinada e datada, pertence à Fundação da Casa de Bragança. Encontra-se inserida na obra “English Art in Portugal” e informa-nos como data da sua produção o ano de 1874. O Autor: Isais Newton. 

Na verdade trata-se de Isaías Newton, um pintor romântico dos Séculos XIX e XX (1838-1921), discípulo de Anunciação. Cultivou a paisagem e a marinha. Figurou nas Exposições Trienais da Academia Real de Belas-Artes (1856), nas Exposições da Sociedade Promotora de Belas-Artes (1863), do Grémio Artístico (1891) e da Sociedade Nacional de Belas-Artes (1903), de acordo com a informação extraída do “Dicionário de Pintores e Escultores” de Fernando Pamplona. Participou em 1903 numa exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes ao lado de outros pintores, conforme informa a obra “Para a História do Club Setubalense (1855-2010)”.

Acompanha a legenda da pintura o seguinte texto: "The setting for Robert Southey's "Palmerin of England" was a romantic stop along the upper tagus river for English travellers."

Nota: As datas inscritas nas imagens são da nossa autoria e sempre que possível reflectem a data da passagem do autor pelo local e não a data de publicação, independentemente de ter sido esboçada na altura ou posteriormente por memória visual.

Iremos em breve publicar artigos dedicados aos seguintes períodos cronológicos:
Anterior a 1900: 15 imagens
1901-1920: 30 imagens
1921-1945: 25 imagens
1946-1965: 15 imagens