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4/21/2009

O MISTÉRIO DAS PEDRAS DE SANTA MARIA

Uma foto inédita da Torre
Autoria: João e Degraconis

“Nas obras de reparação dos rebocos exteriores da torre sineira da igreja de Santa Maria dos Olivais nos anos 30, puseram a descoberto catorze pedras de secção rectangular, embutidas nas paredes - quatro em cada uma das faces maiores e três em cada uma das menores - parecendo restos de cachorros que houvessem sido propositadamente cortados”

São estas as notícias que podemos recolher nos anais da UAMOC e que o leitor já deve ter lido num post anterior. Contudo talvez ainda não as tenha identificado, apesar de visíveis nos dias de hoje.

Antes(dir) e depois (esq) de descobertas. Acima da porta vê-se as 4 pedras (esq)

Vista lateral onde consta 3 pedras.

Após descobertas por debaixo do reboco que as encobriam adiantou-se a hipótese de em tempos terem servido de apoio a andaimes de madeira com o intuito de aumentar o poder defensivo das torre militar como era usual na idade média. A sua baixa altitude em relação ao solo fez essa ideia ficar de parte.

Igualmente parece não ter pertencido à galilé que existia junto a Santa Maria, visto a descrição conhecida decorrente da visitação de 1510, a situar na proximidade do pórtico da igreja. Porém julgamos que a descoberta dessas pedras (cachorros cortados) teve repercussões na imaginação de quem fez o desenho do esboço que abaixo apresentamos. Por conseguinte, serviriam esses cachorros de suporte ao telhado.

Revista O Século de 13 de Janeiro de 1932
Tentativa de reconstituição. Como podem ver o telhado confina no local dos cachorros descobertos naquele período.

Parece-nos a nós e aos ilustres da UAMOC este desenho ser um ideia sem fundamento, até porque a altura é excessiva para esses efeitos.

Oscilantes, somos da opinião de que esses cachorros podiam ter tido funções relacionadas com um eventual adarve que rodeasse a torre em virtude de estarem muito próximos do topo da torre no tempo dos templários, a ser desse tempo a origem da fortificação. Lembramos que esta só se viu acrescentada com os seus últimos dois pisos no tempo de D. João III ou dos Filipes.

Aliás, existe opiniões de que a actual porta parece ter sido antes uma janela, assim nos diz J.M.A Sousa. Somos mais inclinados a dizer ter sido a entrada do edifício, que à semelhança do que acontece em Almourol e na torre de menagem do castelo, se encontrava bastante acima da cota da soleira, só acessível por meios amovíveis, de forma a que invasores se vissem em dificuldades para aceder ao seu interior. Portanto não será descabido pensar que em tempos idos estaria o solo abaixo do que está hoje, mesmo não atingindo o nível da porta da igreja (a profundidade dos sepultamentos encontrados no perímetro deve-nos poder dar uma ideia quanto a esse nível).

Correm por Tomar alguns rumores de que pode a torre já ter tido um piso inferior, ou mesmo ainda existir secretamente. Conforme já nos foi relatado por fontes inquestionáveis, existe uma sala inferior e interna na torre de menagem do castelo templário, à qual se pode aceder unicamente a partir do piso onde se encontra a pedra que relata a fundação do castelo em 1 de Março. Teria esta semelhante esquema?

O livro de J.M.Sousa “Noticia descriptiva e histórica da cidade de Thomar” em 1903 descreve de que “corre em Thomar por tradicção que entre o castelo e a egreja de Santa Maria tinham os templários uma via subterrânea que ia desembocar n’aquella torre; outros dizem que dentro da egreja”.

A título de curiosidade também informamos que verificou-se numa sondagem às fundações da torre na década de oitenta, as paredes terem uma orientação ligeiramente diferente da sua base. Pensa-se que podem estas estarem ortogonalmente orientadas como as estruturas romanas da zona.

Terminados estes preliminares confessamos não serem estas as pedras que constituem a razão maior deste ensaio. São outras. E se o ilustrador se serviu dessas pedras-cachorros para (re)construir um alpendre, imaginando-o, servimo-nos nós de outras para "edificar" um castelo.

São muitas as descrições antigas que todos nós já devemos ter lido, mas infelizmente nem sempre conseguimos as ver porque entretanto houve alterações e não se chegou a tirar fotografias. Por vezes quando pensamos que ficou perdido o testemunho ilustrativo, miraculosamente surge uma gravura ou mesmo uma foto. Foi o que aconteceu. (mas ainda não é a foto seguinte)

Nesta foto são visíveis as pedras no chão mas poderiam estar relacionadas com as obras. Pode-se também já ver os “cachorros” cortados.

Esta foto que está acessível nos arquivos da DGEMN apresenta umas estranhas pedras no chão junto à porta da torre sineira, porém e visto o cenário ser de obra julgámos serem essas, eventualmente, material relacionado com a intervenção que estava a decorrer. O assunto ficou encerrado por ai.

Todavia, a semana passada o João enviou-me uma das suas fotos para ilustrar um post que se iria fazer dedicado à evolução da Igreja de Santa Maria dos Olivais ao longo dos tempos, dado estar agora renovada e com novas feições. Nessa foto constatamos novamente o aparecimento dessas mesmas pedras, e sendo essa foto bastante anterior às obras que a foto acima mostra, deduzimos que as pedras eram uma presença antiga junto à torre.


Foto inédita onde se verifica a presença das pedras junto à entrada. A perspectiva do edifício também é única.
Repare-se também que uma das janelas no segundo piso ainda está fechada. As fotos da DGEMN não chegam a ter datas tão recuadas. (foto cedida pelo João)

Detalhe das pedras e pela primeira vez conseguimos ver a porta da dependência do lado esquerdo.

Não só as encontramos na torre mas também junto à janela da igreja, mesmo ao lado da antiga cruz. Já as conhecíamos mas pouca importância demos à sua presença. Agora, e fazendo parte integrante de um conjunto mais vasto, obrigava-nos a repensar que pedras seriam essas. Servirem de assentos pareciam-nos uma função demasiada simples para justificar a sua presença, até porque são bastantes as que se encontram no envasamento da torre.

As pedras junto ao adro e o Sr. Alvazil com o livro das sentenças.

Estariam estas pedras relacionadas com o alpendre publicado na revista "O Século"? A ideia desse alpendre é descabida e como tal não as podemos pensar como parte desse conjunto. Seriam no entanto resultado da desmontagem da antiga galilé que sabíamos ter existido? Ou mesmo da cadeira de pedra que uma memória antiga diz ter existido naquele local junto à fachada onde se ia sentar o alvazil ou o juiz nomeado pelo mestre dos templários para administrar as justiças?

Antes de prosseguirmos para as conclusões a que chegámos vamos inteirarmo-nos do discurso de alguns autores para perceber que ideia se tinha dessa edificação antes do século XX.

“Defronte d’esta egreja há uma torre quadrangular, onde estão collocados os sinos; não foi este o seu destino primitivo, nem se pode bem saber qual elle fosse, assim como não é fácil determinar a epocha da sua construção, a porta parece que foi uma janela; se assim é, os seus fundamentos devem estar ao nível da egreja e n´este caso remonta à epocha dos romanos. Seria então um reducto de qualquer fortaleza?(…) poderia ser uma dependência do convento (…) então será obra dos Templários? Com que fim?” (J.M.Sousa pag 180)

Após visualizarmos vezes sem conta essas peculiares pedras durante esta semana, a páginas tantas, começamos a pensar que a sua forma perfeita e a sua disposição corrida paralela à parede da torre lembrava uma espécie de ameias. Mas estas não costumam estar no chão mas sim no topo das fortificações.

A boa memória e os amplos documentos que possuímos confirmaram de que de facto estávamos diante as antigas ameias da torre, ou pelo menos o que se pensava ser. Foi extasiante pensar que as tínhamos descoberto e tal não era fruto da nossa fantasia.


Esta história faz-nos lembrar a novela do coro alto que existia em Santa Maria. Faz anos que andamos a tentar obter fotografia ou ilustração das descrições que conhecemos mas ainda não conseguimos nos satisfazer com o que já se obteve. Das ameias dispostas junto à torre podemos agora ler e ver em pleno. Dúvidas ou imagens obscuras sobre o que o Vilhena nos descrevia são agora uma visão clara.

Na continuação do texto poderemos ler sobre a sua possível função:


A foto é inédita, não a conhecemos em nenhuma publicação nem no acervo fotográfico da DGEMN, dá-nos uma perspectiva da igreja e da torre até então desconhecida. Conseguimos com bastante nitidez ver a porta de uma divisão que julgamos ter servido para arrumos, e que posteriormente foi demolida, mantendo-se no entanto ainda por muitos anos as restantes edificações anexas que só serão demolidas na intervenção da década de trinta. Permite de igual forma, ver de perto o espaço vazio onde se mais tarde se descobriu a porta manuelina que também só no séc. XX se meteu a descoberto.

Não é oportuno publicar agora uma outra foto, ainda mais antiga do que esta e que julgamos ser do período das obras de 1889 ou anterior ainda, mas podemos desde já adiantar-vos que este espaço vazio foi em tempos coberto por um alpendre. Trata-se talvez da foto mais antiga que conhecemos e que aproveitaremos para especular sobre o antigo coro alto de Santa Maria.

Foto antiga da DGEMN anterior às obras do séc. XX mas onde já não consta a dita dependência nem as pedras nem o tal alpendre da nossa outra foto. O muro do lado direito também já não está completo. Curiosamente a cruz também desapareceu. Desta última daremos paradeiro logo que essa “caça” termine.

Será que estas pedras são parte do conjunto?
Este muro encobre uma das bases da antiga galilé, hoje já visível.

Porta Manuelina


Bem longe já vai esta digressão pelo passado. Não sabemos se de facto aquelas pedras podem ter sido as ameias da torre e fazemos algumas reservas quanto a isso, mas seja como for, serve este post de ilustração ao que os nossos antepassados viam nesses curiosos e intrigantes assentos, já que se limitaram a descreve-los no Archivo Picttoresco sem nos darem possibilidade de os ver. Sabiam lá eles que iriam desaparecer passado meio século.

Santa Teresa D'ávila que assumiu Santa Maria como sua mãe adoptiva, inspirada nos livros de cavalaria, imagina a morada da Alma ou do Esposo (Cristo) como um Castelo Interior, alias título de uma das sua obras literárias. Esperamos com a descoberta das Ameias ter fortalecido a imagem que todos temos de Santa Maria, Mãe dos Cavaleiros Guardiães. Com o Altar já vos presenteamos num outro post. A Cruz brevemente. Tudo a bem da construção do Templo original, quiçá interior também.

COMENTARIOS NO TÓPICO "DO TEMPLO DE SANTA MARIA" DO FORUM

UMA CARTA DO FILÓSOFO DESCONHECIDO

O blog recebeu uma carta de um anónimo sem qualquer possibilidade de saber a sua proveniência. Trata-se de um texto manuscrito cujo conteúdo se apresenta como polémico e de difícil compreensão. Não temos dúvidas quanto ao seu valor e não deixaremos de o publicar apesar de algumas vozes dissonantes aconselhar-nos a não o fazer. Cumpriremos com a vontade do intrigante remetente que nos solicita que a publicação do texto seja feita no dia de São Saturno.
(Será neste espaço inserido o texto)