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1/28/2011

1/26/2011

UMA INESPERADA TESTEMUNHA

Dois testemunhos de quem viu o São Cristóvão na Ponte
Autoria: CETHOMAR Círculo SC
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Ninguém ignora que as nossas investigações, por vezes vastas e complicadas, são instigadoras de novas descobertas. Vários foram os postes dedicados a São Cristóvão: ao que se encontra na pintura mural da Charola, por vezes interpretado como cinocéfalo; à estátua que podemos ver no claustro do cemitério e que estaria outrora na ponte velha, mas que julgamos ter demonstrado, a nosso ver, ser uma equívoca identificação, vindo este artigo reforçar os argumentos anuídos; e ainda ao São Cristóvão que de facto permaneceu na ponte velha entre o século XVIII e XIX.


É deste último que daremos novas notícias, sem contudo fazer grandes reparos, visto já o termos feito em local próprio no Blog. Todavia fazemos aqui uns parênteses:

Todas as referências conhecidas publicamente, e também as que acrescentámos anteriormente no post  dedicado-lhe, reportam-se a testemunhos orais relativos à estátua que teria estado num dos extremos da ponte velha. J. M. Sousa não a viu pessoalmente mas conheceu-a pela tradição oral dos que ainda lhe conheciam referências, e que talvez até a tivessem conhecido, acreditar nas descrições deste e, Vieira Guimarães, também não teve contacto com a mesma, limitando-se a repetir o que teria apurado junto aos antigos Tomarenses da sua época.

Pois bem, posto a carência de descrições directas de quem a tivesse conhecido no respectivo local ou mesmo noutro, vimos com este pequeno post, visto o próximo a ser publicado ser excessivamente longo, dar-vos a conhecer menções a essa estátua por quem a viu pessoalmente e escreveu algumas impressões quanto à mesma.

Ponte Velha – 1780

Poderão achar estranho, os ilustres autores Tomarenses, os quais, J. M. Sousa e Vieira Guimarães, não terem mencionado esses testemunhos, quando dedicaram-lhe algumas considerações, e aos quais podemos acrescentar Amorim Rosa por também não os ter usado para ilustrar a descrição que fez dessa antiga presença de São Cristóvão na ponte. Na verdade, os dois primeiros, não poderiam ter conhecido esses testemunhos, e quanto ao último autor, talvez não tivesse tido a sorte de cruzar-se com esses escritos. Adiante irão entender o motivo.

Apresentemos então a nossa testemunha inesperada: Robert Southey, um dos mais notáveis escritores ingleses da época. Poeta e escritor, nasceu em Bristol em 1774 e morreu em Greta Hall, Keswick, em 1843. Amigo de Samuel Coleridge, esteve em Portugal em 1795 - seu tio, o reverendo Robert Hill, era capelão em Lisboa - e depois novamente em 1800 e 1801. Grande admirador de Portugal e da nossa literatura, possuía uma notável biblioteca de livros portugueses. Foi ainda autor de outras obras, como The History of Brazil (1810-1819) e History oh the Peninsular War (1823-1832).


Robert Southey tinha por hábito tomar notas sobre as suas viagens, e no dia 1 de Março de 1801, esteve em Tomar, tendo registado no seu diário impressões sobre o que viu e sentiu nesta terra Templária, que aliás conheceu relativamente bem. Não só dá-nos conta dos notáveis monumentos, mas refere também um pouco do seu quotidiano nas curtas passagens por Tomar.

Interessa-nos por agora, dar-vos conhecer as suas menções quanto à estátua, escusando-nos por agora às considerações que tece sobre a designada Adega da Iniciação do Convento de Cristo – serão essas informações motivo para um outro post.

“(…) junto à ponte e na mesma margem do rio, ainda se vê a janela de onde lançaram Iria, depois de assassinada. A sua estátua está junto dela. (…). Há uma estátua numa das extremidades, tão desgastada pelo tempo, que a tosca aparência da criança que está nos seus braços seria insuficiente para identificá-la como São Cristóvão sem a ajuda da tradição. As pernas estão esburacadas sem piedade, porque se considera que alguns dos grãos da perna de S. Cristóvão, tomadas num copo de água, são um remedo excelente para as sezões. (…)” in “Journals of a Residence in Portugal, 1800-1801”

Inédito ficou este diário até 1960, pelo que, estariam os autores anteriores a esta data, vedados a tal informação. Deve-se a sua publicação ao Dr. Adolfo Cabral, o qual devemos congratular conforme descrito no documento seguinte:


Mas não fiquemos por aqui. A nossa compulsiva leitura do seu legado literário, após conhecermos estas referências, através do Prof. Dr. Carlos Veloso e Prof. Doutor António Ventura, que não se debruçando sobre este tema, divulgaram esta publicação do Dr. Adolfo Coelho, levou-nos a identificar mais uma referência por parte do Robert Southey à ponte e à estatua num outro seu escrito, este no entanto publicado em 1865:


“Em Tomar está uma estátua de St. Cristóvão na ponte: três grãos da sua perna, tomados num copo de água, são a cura certa para a “ague” (malária); e a pobre perna de St. Cristóvão está bastante gasta por esta repetida prática” (nossa tradução –The Life and Correspondence of Robert Southey – publicado em 1865).

Estas valiosas e importantes informações – pela primeira vez estamos na presença de um testemunho de alguém que terá mesmo tocado a estátua – leva-nos a ir buscar uma parte que excluímos dos anteriores postes dedicados a este tema, dado que agora poderemos refutar a ideia enunciada por J. M. Sousa no livro “Noticia descriptiva e histórica de Thomar” de 1903, um dos melhores livros já feito sobre Tomar.


Já o tínhamos citado a propósito da estátua que se encontrava na ponte das Ferrarias, visto este tecer considerações em redor desta, considerando-a de período bastante afastado, romana talvez, mas excluímos as referências que o mesmo faz à estátua de São Cristóvão, visto a sua inclusão no post citado, poder suscitar algumas dúvidas no leitor.

Diz-nos que essa estátua que se achava na ponte seria a de São Estêvão, mas apontando as nossas investigações para ideia contrária e consequentemente negar essa atribuição, não a tomámos em consideração na altura.

As descrições que nos levaram a escrever este post, são então, argumento suficiente para refutar a ideia de tratar-se de São Estêvão, dado que Robert Southey, apesar de não conseguir identificar a estátua pelo estado em que se encontrava, nos informar que o povo a tomava como São Cristóvão. Poderemos pensar que a estátua, por eventualmente ser muito antiga, possa ter sido simplesmente rebaptizada pelo povo, mas não teria J. M. Sousa meios para conseguir afirmar a sua ideia e, apesar de não estar a figura de São Cristóvão associado a curas, ao contrário de São Estêvão, é de iconografia muito diferente, a qual não inclui menino algum. Por este motivo não será inverosímil tratar-se do Santo que nos tem guiado durante tantos postes.

Artigos do Blog relacionados:
SÃO CRISTOVÃO DA CHAROLA
Parte I - Uma história com pés e cabeça
Parte II - O santo que não se aguentou nas pernas
Parte III - Um insólito São Cristóvão

A SAGA DE SÃO CRISTÓVÃO
Parte IV - Uma estátua de fazer perder a cabeça
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A AVE DE SÃO CRISTÓVÃO
Uma Ave Oculta
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