Contacte-nos através do nosso email:
cethomar@hotmail.com

9/18/2012

NOSSA SENHORA DA LUZ DA ORDEM DE CRISTO

CONVENTO E HOSPITAL DA ORDEM DE CRISTO (Lisboa)
Visita guiada e palestra


O culto a Nossa Senhora da Luz em Carnide, inicia-se no século XV e tem como principal fomentador Pêro ou Pedro Martins, um habitante local que, segundo conta a história, estaria na Argélia, pelo ano de 1463, onde foi capturado pelos árabes. Durante o tempo que ficou preso, desesperado, terá começado a rezar a Nossa Senhora para que o livrasse daquele tormento pelo que durante trinta dias lhe apareceu uma imagem da Virgem. Em troca da sua liberdade a imagem ter-lhe-á anunciado que em Carnide junto a uma fonte, onde havia algum tempo aparecia uma luz (que muito intrigava os locais), acharia uma imagem sua à qual deveria erguer uma ermida. Pêro Martins foi “miraculosamente” libertado, regressou a Carnide e junto à Fonte do Machado que estava em “hũ espeso bosque[1] terá descoberto a imagem de Santa Maria por baixo de uma pedra. A população local, naturalmente animada com esta revelação, oferece-se para ajudar na construção de uma ermida no sítio onde foi encontrada a imagem, junto à Fonte do Machado e consagrada a Nossa Senhora da Luz, pelas circunstâncias que conduziram à sua “descoberta”.

Na realidade pouco ou nada se conhece da primitiva ermida, da qual nos chegaram muito poucos elementos históricos e materiais sabendo-se no entanto que “...é de muito grandíssima romagem, assim de gente de Lisboa e seu termo, como de todo o Reino, e de estrangeiros que à dita cidade vêm...”[2]

Durante o reinado de D. João III, a ermida de Nossa Senhora da Luz foi doada à Ordem de Cristo dando lugar à construção de uma igreja de maiores dimensões[3], patrocinada pela Infanta D. Maria (1521-1577), irmã do monarca, que conhecedora das virtudes do local, das propriedades benéficas da fonte do Machado e com particular devoção a Nossa Senhora da Luz, irá destiná-la para seu mausoléu. Afirmando o seu poder económico, político e social, a Infanta delineia para o sítio da Luz um projecto que parece assentar claramente na criação, em conjunto com a Ordem de Cristo, de um verdadeiro núcleo espiritual e de auxílio à população local e distante, reiterado quando edifica à sua custa, a construção de um Hospital[4] para acolher enfermos pobres e peregrinos.

O conjunto edificado constituído por Convento e Hospital e a total delegação da sua administração na Ordem de Cristo, atribui-lhe uma função renovada, na medida em que não assumindo os contornos militares de outrora, tornava-se fundamental conceber novos objectivos. Portugal continuava na sua expansão pelo mundo, nomeadamente na Índia e no Brasil, facto que levava muitos mareantes e navegadores a rumarem aqui antes de embarcarem, dada a sua grande devoção por Nossa Senhora da Luz.

Em 1755, os edifícios do Convento e Hospital sofreram graves danos. O Convento é extinto em 1795 calculando-se que, até 1807, terão aí residido religiosos que assegurariam o funcionamento do culto e da eucaristia. Com a instalação do Colégio Militar no edifício do Hospital, em 1814, passaria o restante conjunto monástico a fazer parte das suas instalações.

O culto a Nossa Senhora da Luz que nasce em Carnide, é fortemente assimilado no restante país e no resto do “mundo ultramarino português” através da Ordem de Cristo que o propaga e implementa. Este conjunto insere-se numa nova dinâmica da Ordem, ainda pouco estudada, com a reestruturação do Convento de Tomar e a construção de duas novas casas em Coimbra (Colégio de Tomar) e Lisboa (N. Sr. Da Luz). Com a destruição do Colégio de Coimbra, Nossa Senhora da Luz torna-se a segunda casa da Ordem de Cristo ainda existente, assumindo um papel primordial na história do seu património arquitectónico, urbano, histórico, monumental e etnográfico.

       (Iremos ainda colocar mais dois textos neste espaço de apresentação da visita)



[1] Soveral, Frei Roque do, Historia do Insigne Aparecimento de Nossa Senhora da Luz e Suas Obras, p. 12.
[2] Araújo, António de Sousa, ob. Cit., p.14.
[3] Início das obras a 13 de Junho de 1575 e conclusão em 1626.
[4] Início das obras em 1601 e inauguração a 23 de Abril de 1618.