Contacte-nos através do nosso email:
cethomar@hotmail.com

3/19/2010

O SONHO DE UMA COISA: THOMAR

CRÓNICA DO EVENTO
NOTÍCIA NO JORNAL "O TEMPLÁRIO"
DIA 18 DE MARÇO 2010

(carregar na imagem para ler)

A cidade de Tomar comemora este mês de Março os 850 anos da fundação do Castelo dos Templários, conforme inscrição lapidar na torre de menagem que invoca o dia 1 de Março de 1160 como data de início da construção. Como não poderia deixar de ser, o Blog Cavaleiros Guardiões de Santa Maria do Olival (http://blog.thomar.org), também se associa às festividades promovendo mais um encontro entre os participantes do blog e demais interessados, tendo escolhido este fim de semana em virtude de corresponder ao dia 1 de Março do anterior calendário Juliano usado na época medieval. Com efeito, que local poderia ser mais privilegiado para servir de palco a mais um encontro do que o Castelo?
S

Muitos são os que já tiveram a oportunidade de contemplar a Janela do Capítulo no Convento de Cristo, mas tantos não serão os que possam invocar tê-la visto com o contorno preto de um céu cheio de estrelas. Assim foi este evento.

Recebidos pelo Frei Expedito – o fantástico João Patrício - monge conventual que reside naquele espaço monacal desde tempos imemoriais, foi o grupo sujeito aos dardos do Cúpido que se esconde na aduela superior que fecha o arco do pórtico principal. Iniciados então na “doutrina do Amor” começou a vista guiada pela amabilíssima Maria da Luz, que levou o grupo por uma viagem nocturna pela história de Tomar. História essa, que se confunde com a própria história de Portugal, senão mesmo com a do mundo, não tivesse sido aquele local, berço do “sonho de uma coisa”: os Descobrimentos.
S

A luz era parca mas suficiente para iluminar o caminho daqueles que marcaram presença neste encontro com o passado, da qual emergiram para espanto de todos, estadista e figuras a quem indubitavelmente se deve parte da história de Tomar. João de Castilho vagueava pelos dormitórios do Convento quando se encontra com o grupo, e após contar a sua história de forma eloquente reúne o grupo numa das salas com o próprio Gualdim Pais, fundador do Castelo Templário. Sem dúvida que se tratava de uma teatralização, mas a julgar pelas expressões dos participantes diríamos que tínhamos recuado até ao século XII. De figura herculeana e modos rudes – quantos não se assustaram com a sua voz altiva – desvendou-nos o quanto ardil teve que ser nas suas aventuras e desventuras contra os sarracenos. E como nestas coisas dos Templários e das Cruzadas há que sentir o que era ser cavaleiro, Gualdim Pais investiu as crianças participantes com a espada que serve para combater o fanatismo e a ignorância. Coragem e Honra foram os valores que transmitiu aqueles que virão a ser os protectores do património quando se tornarem homens. Um dos momentos altos da noite para todos nós e principalmente para os pequenos.
S


Longa já ia a viagem quando soou a hora de recolher junto ao Claustro dos Corvos para se iniciar o banquete anunciado. Após o brandir da espada de Gualdim Pais chegou a vez dos garfos e das facas. Arroz Conventual e Fatias de Tomar adornaram o espírito Templário que inevitavelmente se entranha mas não se estranha em tão sublime lugar, uma espécie de preparação para o momento tão desejado da noite, as apresentações por parte dos especiais convidados para o evento.

João Fiandeiro da APTC Associação Portuguesa de Turismo Cultural – afinal de conta era de turismo cultural que se tratava este evento – o Prof. Doutor Fernando Larcher, presidente do GACC – Grupo de Amigos do Convento de Cristo – também o grupo é de certa forma “amigo” deste monumento – a sua esposa Prof. Doutora Madalena Larcher que iria apresentar um inédito da Ordem de Cristo, o Mestre Rui Gonçalves, também do IPT – Instituto Politécnico de Tomar – e por fim mas não menos desconsiderados, o Luís de Matos e Sérgio Veloso, o primeiro para fazer uma Resenha Histórica das Ressurreições Templárias dos últimos séculos e o segundo para dar a conhecer uma banda desenhada sobre a biografia de Gualdim Pais que se espera publicada no decorrer deste ano.

Diversas são as lendas que rodeiam inúmeros factos relativos a Tomar, dos quais o mais sobejamente conhecido é a ideia de que existiria – ou existe – um túnel que ligaria a Igreja de Santa Maria do Olival ao Castelo Templário. Dá-nos conta dessa lenda oral que corre por tradição entre o povo, os ilustres, J.M.Sousa no livro “Noticia Descriptiva e Histórica da cidade de Thomar” de 1903 e Amorim Rosa no livro “História de Tomar” de 1965, por exemplo. De certo trata-se de uma efabulação criada a partir das histórias recambulescas dos mistérios Templários, mas não deixa de fazer parte do “sonho de uma coisa”: Thomar.

S
Muitos dos participantes partilham da mítica que rodeia a figura dos Templários mas não se coadunam com fantasias que se olvidem de tentar comprovar a verdade que se possa esconder por detrás dessas suposições. Imbuídos desse espírito científico tiveram então a honra de contar com o Mestre Rui Gonçalves para divulgar os resultados das primeiras Investigações Georadar na Igreja de Santa Maria dos Olivais e com o Prof. Larcher para nos enquadrar historicamente perante os resultados e abordar a história de Tomar. Apesar de serem ainda as primeiras investigações com esse aparelho, a requerer ainda mais intervenções e estudos, pode-se quase concluir que existem ainda vestígios soterrados de anteriores edificações, fundações essas que corresponderiam à igreja ou convento Beneditino do século VIII que as crónicas dão notícias, motivo pelo qual Gualdim Pais teria escolhido aquele lugar para erigir um templo dedicado à Nossa Senhora de Anunciação e que serviu de Bailia, Convento e Panteão aos mestres da Ordem Templária.

S
Segundo os mesmos, não se verificou a existência de qualquer cripta ou túnel, mas nem por isso o sonho morreu, tão somente deu a conhecer – possivelmente – os restos mortais dos mestres do passado. Apesar de conhecida a localização onde D. João III e Frei António de Lisboa teriam depositado os ditos ossários no século XVI, outrora em Mausoléus, não se podia no entanto, com certezas, saber se ali estariam ou mesmo de que forma. Apontou o goeradar a existência de umas “caixas”, não obstante carecer de confirmação, que possivelmente serão cofres onde se lhes deu o descanso eterno.

Serão estes resultados, após estudos mais detalhados e minuciosos, alvo de publicação segundo indicação dos promotores dessa investigação, que alias não procuravam através dessa prospecção concluir pela existência ou não de criptas ou subterrâneos, tão só comprovar o que os documentos do Arquivo da Torre do Tombo relatavam quanto ao original templo de monges “negrados”.

A hora avançada, e com muita pena, não permitiu que se realizassem as restantes apresentações, mas nem por isso sentiu o grupo que a “cruzada” não tivesse comprida. Sentiram os participantes muita honra em ter contado com a presença de pessoas de grande credibilidade nestes assuntos históricos e muito honrado ficou também com a presença da Dra. Iria Caetano – directora do Convento de Cristo – que na qualidade de zeladora desse monumento presenteou-nos com uma visita para conhecer então quem eram os Cavaleiros Guardiões que trimestralmente fazem uma incursão pelo concelho.


Para terminar esta história só nos resta glosar uma das frases da intervenção do Prof. Doutor Larcher que diz algo semelhante a isto: “muitos podem procurar o tesouro templário e pensá-lo como algo material ou escondido, mas o verdadeiro tesouro da Ordem do Templo ou da Ordem de Cristo, como sucedânea da primeira, está à vista de todos. É o património legado à humanidade e a sua grandiosa história”.



Foi neste tesouro que passámos a noite em prol da salvaguarda, protecção e promoção da cidade de Tomar. Divulgar e viver os monumentos e a sua história é garantir que os pequenos "iniciados" pela espada de Gualdim Pais os poderão dar a conhecer aos seus netos…. Que a memória deste evento seja digna dos poemas com que o João Patrício nos deleitou durante a noite no seio da poesia que João Castilho lavrou em Pedra.

(Texto dedicado a Maria da Luz, João Patrício e Isabel Nogueira)

ENTREVISTA
NO JORNAL "O TEMPLÁRIO"
DIA 18 DE MARÇO 2010

De onde nasce a ideia do Blog dos Cavaleiros Guardiões?

Acho que essa resposta deveria ser dada pelos seus fundadores, não obstante terem contado com a minha acerradíssima participação desde os primórdios do Blog. Talvez este facto legitime-me a responder-lhe que tudo parte da ideia de criar um veículo que permitisse dar a conhecer a história de Tomar e os seus mistérios. Não existe em Tomar nenhum outro blog que tenha tanto enfoque nos intrigantes factos que rodeiam esta cidade Templária. Inevitavelmente, e visto um dos seus fundadores ser das áreas do restauro e conservação, foi o blog o meio usado para fazer denuncias sobre atentados ao património. Hoje mantêm a mesma filosofia e procura através da divulgação do património Nabantino protegê-lo das negligências de algumas entidades para com este.

E o Tesouro Templário?

Estamos aqui na Igreja de Santa Maria, pelo que posso revelar-lhe que o Tesouro Templário esconde-se aqui mesmo. Aqui, mas também ali no cimo daquela colina. Se no entanto fechar os olhos e pensar na história dos Templários também lhe poderei dizer que esse Tesouro está em si. Não me leve a mal mas o que quero dizer é que apesar de existir muita gente ávida de encontrar esse tesouro escondido algures numa comenda ou num castelo, na verdade maior tesouro não poderá ser do que os feitos da Ordem. A sua história, o seu património e também a mítica que tem preenchido o sonho de muitos dos que aqui vem.

Os responsáveis do blog hoje não são por inteiro os fundadores. A determinada altura o Ricardo Azul retirou-se. Tem alguma coisa a dizer disso?

A minha entrada é posterior à sua saída e tardia em relação a esse momento. Posso no entanto adiantar que não se tratou de nenhuma querela entre os responsáveis na altura, tão só a indisponibilidade do Ricardo para continuar o árduo trabalho que vinha desenvolvendo em redor do Blog, não obstante nem sempre as opiniões entre eles convergirem. Podemos dizer que essencialmente foram motivos profissionais que estiveram envolvidos. Hoje é um jovem com o seu próprio negócio. Saliento no entanto que foi incansável no trabalho que desenvolveu, foram dezenas e dezenas de postes colocados no blog no seu tempo. Os postes de Santa Iria são um exemplo disso.

Que futuro para o Blog e para o grupo que hoje reúne à sua volta?

Antes de mais quero inscrever nesta entrevista algo que nos entristece a todos: A representação ou participação de Tomarenses nestes eventos e no próprio blog é escassa. Não sei se será de estranhar mas é um facto que não conseguimos explicar. Quanto ao futuro não o consigo prever. Adivinho que o crescimento que tem sido exponencial de evento para evento em termos de participação poderá vir a trazer alguns condicionamentos quanto à organização dos encontros. Como poderemos levar cem pessoas a visitar a torre de menagem? Como poderemos instalar cem pessoas na Quinta da Anunciada Velha? Desta vez tivemos mesmo que ocupar mais do que uma residencial. Entende? Designamo-nos muitas vezes como grupo, o que deve dar ideia de uma hierarquia ou organização, mas em boa verdade somos um grupo bastante informal, e por ventura bastante jovem. Tocam as trombetas para reunir em Tomar para um evento e lá se encontram todos em Tomar. É engraçado. Tal é a força que atrai tanta gente. Julgo que o nosso papel será o de continuar a divulgar o património de Tomar, assim como denunciar através do blog, do jornal ou através de carta às entidades competentes, eventuais problemas ou atentados ao que hoje se pode considerar o tesouro templário que se encontra à vista de todos. Todavia talvez exista umas ideias para o futuro mas será precoce falar delas por agora.

Que papel pensa ter no seio do Blog visto ser o que tem mais visibilidade?

Simplesmente sou um dos elementos organizadores destas coisas. O que anda de picareta na mão e cabeça na Charola.
S