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7/31/2008

A Galilé de Santa Maria dos Olivais

Nas obras de reparação dos rebocos exteriores da torre sineira da igreja de Santa Maria dos Olivais nos anos 30, puseram a descoberto catorze pedras de secção rectangular, embutidas nas paredes - quatro em cada uma das faces maiores e três em cada uma das menores - parecendo restos de cachorros que houvessem sido propositadamente cortados.

Não nos parece fácil descobrir qual tivesse sido o primitivo destino desses cachorros. A relativamente pequena altura a que estão acima do solo, parece indicar que tem de ser posta de parte a ideia de terem servido de apoio aos andaimes de madeira, com que era uso na idade media, aumentar o poder defensivo das torres militares.

Igualmente nos parece não ter pertencido à galilé que existia em 1510 junto a Santa Maria.

A discrição dela, consta no livro de visitação feita naquele ano, é registada a no livro 123 da Ordem de Cristo (Arquivos da Torre do Tombo) e é como se segue:
«Diante da porta principal te hun alpendre armado sobre dous grandes arcos de pedraria cuiberto e forrado de livei de castanho sobre as asnas em quadrado aguas e mais diante tem outros dous arcos de pedraria descubertos»

Com estas indicações, resumidas mas claras, a única reconstituição em planta que nos parece plausível é a que indicamos no esboço que aqui apresentamos, feito sem escala.

Gostaria de saber se alguém tiver a revista O Século de 13 de Janeiro de 1932, nos pudesse facultar uma copia do desenho que lá se encontra sobre este tema teríamos todo o gosto em publica-lo aqui no blog para todos vermos como era a possível galilé de Santa Maria dos Olivais.
Aqui está a tão desejada imagem. Um agradeçimento em especial ao Sr. Pedro Pinto por ter tido a magnifica amabilidade de enviar a imagem!

Cumprimentos

7/17/2008

O "Cavaleiro da Ilha do Corvo" e a descoberta dos Açores

Caro(a)s amigo(a)s:

Para despertar o apetite, como proposta de leitura para férias, permitam-me esta sugestão:

Folheiem “O Cavaleiro da Ilha do Corvo” (ed. Temas&Debates/Círculo de Leitores) e “escandalizem-se” q.b. com dados pouco ou nada conhecidos –e outros escamoteados – sobre as antigas navegações no Atlântico. Ou seja, os descobrimentos pré-Portugueses.

Conceito estranho em 500 anos de História pátria.
Camões mandou calar a “musa antiga”. Agora é o momento para navegar “por (alguns) mares já antes navegados”.

D. Manuel I despachou os destroços da Estátua para os fundos do armazém que existia no Paço da Ribeira...

E assim se foi tecendo o Império com as malhas da meia-verdade. A nossa parte cumpriu se bem; mas não apaguemos os méritos dos outros, os nossos “egrégios bisavós”.

Apreciem e divulguem esta “provocação”. Chocante ? A História é para se ir reescrevendo. Nunca foi um livro fechado

Cumprimentos,

Joaquim Fernandes
Universidade Fernando Pessoa

Quem descobriu os Açores, afinal?

O historiador Joaquim Fernandes, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, lançou o romance «O Cavaleiro da Ilha do Corvo», no qual defende, baseado em factos documentados, que a descoberta do arquipélago dos Açores ocorreu muito antes da chegada dos portugueses.

O professor universitário recorda como os navegadores portugueses que chegaram à pequena ilha do Corvo, nos Açores, em meados do século XV, encontraram ali uma intrigante estátua de pedra, representando um cavaleiro com traços característicos do norte de África.

A notícia, normalmente ignorada nos relatos oficiais, tem no entanto uma fonte histórica autorizada: Damião de Góis (1502-1574), o grande humanista português do Renascimento, que descreve, com algum detalhe, no capítulo IX da sua Crónica do Príncipe D. João, escrita em 1567, as circunstâncias em que o inesperado monumento - «antigualha mui notável», como lhe chama - foi achado no noroeste da pequena ilha, a que os mareantes chamavam «Ilha do Marco».

O cronista refere que a descoberta ocorreu no período a que classificou de «nossos dias», ou seja, no seu tempo de vida, provavelmente entre os finais do século XV e os inícios de XVI, no decurso do reinado de D. Manuel I e durante as primeiras tentativas de colonização da ilha do Corvo.

O monumento era «uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.»

Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D'armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o Inverno passado, refere o cronista.

Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber, acrescenta.

A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.

As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.

Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigação bibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.

No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícita ostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules... Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, faz referência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o que credibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para um simples rumor ou lenda...