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2/27/2009

UM HINO A THOMAR

EM HOMENAGEM AO DIA 01 DE MARÇO – DIA DA CIDADE
Autoria: O blog

“Por Tomar, Com Tomar”
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À primeira vista poder-se-à pensar que, sentir Tomar, é conhecer os locais que serviram de palco a alguns dos mais importantes acontecimentos nacionais e por onde andaram alguns dos mais marcantes estadistas portugueses. Poder-se-à pensar que é percorrer a Corredoura, onde ainda se pode sentir o cavalgar dos cavaleiros, sobretudo em dias ventosos. Ou que é descer ao Templo de Santa Maria dos Olivais, no qual, outrora, se encontravam os mausoléus dos Templários, onde ainda hoje, dizem, se pode ouvi-los sussurrar. Ou mais ainda, que é caminhar pela Mata dos Sete Montes, em direcção ao principal baluarte Templário em território português, que aumenta em tamanho e imponência, em noites de lua cheia. Há ainda quem diga que é circular pela Charola e observar as pinturas quinhentistas, ou sentir o silêncio monástico nos corredores do convento da Ordem de Cristo. Há quem diga que Tomar é muita coisa, há ainda quem fale de tesouros e fantasmas, segredos e aparições, desaparições e maldições. Há quem diga tudo e mais alguma coisa de Tomar, e muito ainda ficará por dizer. E, no entanto, o mais importante é aquilo que não se diz simplesmente porque não existem palavras para o descrever. É aquilo do qual emergiram todas as coisas que fazem de Tomar aquilo que é. É a beleza, é o sonho, é a fé que despertou nos homens que a fundaram e construiram e a povoaram de sonhos e de mitos. É aquilo que responde à pergunta: porquê Tomar? A resposta foi-nos dada em Igrejas e Conventos, em pintura, arquitectura, escultura, em parques e jardins, com a esperança de que ao contemplá-los, ao compreendê-los e ao vivê-los, possamos descobrir aquilo que Tomar é na realidade. No fundo tudo isto é Tomar, porque só em Tomar poderia tudo isto existir e, é para que possa continuar a existir, que surgiram os Cavaleiros Guardiões de Santa Maria do Olival. Para que Tomar não se torne apenas em mais uma memória, em mais um mito, em mais uma lenda. Para que se preserve Tomar e as suas pedras, a sua história e as suas igrejas, os seus segredos vivos e a sua beleza transparente. Para que as futuras gerações possam, também elas, pensar Tomar, contemplar Tomar, passear em Tomar, viver Tomar por elas próprias.


Festas da Fundação Cerimónias Oficiais e outras actividades
PROGRAMA 2009:


· 27 Fevereiro, 21h30, Cine-Teatro Paraíso: Madredeus & A Banda Cósmica
· 28 Fevereiro, 21h30, Cine-Teatro Paraíso: Concerto pela Banda Filarmónica Gualdim Pais
· 1 Março, Praça da República: Cerimónias Oficiais
o 10h30 – Missa de Acção de Graças na Igreja São João Baptista
o 11h30 – Hastear das Bandeiras no Edifício dos Paços do Concelho com deposição de coroas de flores na estátua de D. Gualdim Pais
o 12h00 – Cortejo-Romagem ao túmulo de D. Gualdim Pais, na Igreja Santa Maria dos Olivais
o 12h30 – Almoço para convidados e participantes no Salão dos Bombeiros Municipais
· 1 Março, 15h30, Auditório da Biblioteca Municipal: Lançamento do livro “Contos Nabantinos” de Manuel da Silva Bonet
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2/17/2009

TOMAR SOBRE O MANTO DE SANTA MARIA

ANALISE CRIATIVA DE UMA PINTURA - PARTE I
TB sobre A CHAROLA DO CONVENTO DE CRISTO
Autoria: DEGRACONIS


Pois é meu caro amigo João, só poderíamos ter escolhido um quadro que nos levasse a fazer mais uma viagem mental por estes mundos, à semelhança da imagem que afinal não era a estrela de Santa Maria mas a de uma outra igreja qualquer, a qual brevemente abordaremos. Como diz o Rui Ferreira, muita conversa poderemos ter a partir do quadro. Tivéssemos tempo e letras para isso.

Alguém já nos facultou um link que permite facilmente perceber a similitude entre a construção circular da pintura e a nossa Charola Templária. Era ai que queríamos chegar com a semi-publicação da foto. Aguardávamos o desenvolvimento do tema do Manto para depois então avançarmos charola acima. Mas pelos vistos não há charola que espere lol (charola também é nome vulgo para ambulância pelo que o Azul me disse).

O interesse pelas edificações de planta circular que surge no século XIX, não apenas pela sua raridade em relação às outras construções, mas também pela sua aura de misticismo, leva à defesa da teoria de que era hábito essa forma nas construções Templárias. Contudo se na verdade tal não tem correspondência plena com a realidade, em Tomar efectivamente tem, pois temos uma rotunda templária oitavada.

É sobejamente conhecida a tipologia do Templo de Salomão pelas descrições bíblicas que nos dão conta da sua forma rectangular, contudo o parco conhecimento histórico e arqueológico de Jerusalém gerou muita confusão na imagética do homem medieval, justificando-se desse modo, muitas vezes ser invocado o Templo de Salomão como protótipo de algumas construções de planta centralizada. O Templo de Salomão tinha sido destruído um milénio antes da propagação das igrejas pela Europa fora, tendo os cruzados encontrado no local desse antigo templo uma construção circular conhecida como a Cúpula do Rochedo. A confusão acentua-se bastante em virtude de ser essa construção, após a chegada dos cruzados, designada como Templum Domini, Templo do Senhor, havendo mesmo quem pensasse ser aquela construção islâmica sobre as ruínas de Salomão, o templo original.


Cúpula do Rochedo

Com o passar do tempo começam as crónicas dos cruzados a designar a Mesquita de Al-Aqsa como Templo de Salomão e a Cúpula do Rochedo como Templum Domini (continuando-se porém a pensar ser este o verdadeiro local do templo de Salomão), ambas na esplanada das mesquitas e contruidas no século VII. Uma com forma circular, como já vimos, e a outra com forma rectangular, que se apropriava mais às descrições bíblicas do Templo de Salomão.

Mesquita de Al-Aqsa onde os Templários se instalaram

Contudo, e apesar de os Templários terem a sua sede no Templo de Salomão (na verdade era o palácio de Salomão), optaram por escolher outro santuário como seu emblema - o Templo do Senhor - provavelmente porque o termo “templum” era partilhado pelos dois principais monumentos da esplanada. Qualquer que fosse a razão, o selo da Ordem carregava a imagem do Templo do Senhor e a inscrição “Sigillum Militum Templum Christi”.


Selos Templários da época de Gualdim Pais


Para agravar a confusão do pensamento medieval europeu, a par da Cúpula do Rochedo, existia em Jerusalém mais uma construção circular, o Santo Sepulcro. Portanto pelo facto de serem duas edificações centralizadas leva à identificação de ambas no imaginário ocidental.

Santo Sepulcro que inspirou na Europa uma série de Igrejas

A Charola em Tomar tanto pode ter tido como arquétipo uma ou outra, como ambas, mas com o alongamento da Charola no tempo de D. Manuel poderemos pensar que seria identificada inicialmente com Santo Sepulcro, na medida em que as construções circulares ou poligonais possuem conotações funerárias – e lembrem-se que possuía a Charola uma espécie de lanterna dos mortos – metamorfoseando-se mais tarde em replica do Templo Salomónico. Porém os selos que conhecemos do ínicio da ordem (sec XII-XIII) refletem a Cúpula do Rochedo e não o Santo Sepulcro, pelo que devemos ter algumas reservas na determinação da verdadeira intenção dos Templários Portugueses com a construção da Charola.

Antigos desenhos da Charola em Tomar

Mas não ficam por aqui os paralelismos entre a sagrada Jerusalém e Tomar na medida em que a própria cartografia de Tomar reflecte outras possibilidades simbólicas com a terra prometida. Se em Jerusalém o Vale de Jeosafá onde corre o rio Cedron separa a cidade, nomeadamente a Cúpula do Rochedo e o Santo Sepulcro do Monte das Oliveiras, em Tomar o rio Nabão de igual modo separa a Charola da Igreja de Santa Maria dos Olivais, sita a nascente como o monte palestiniano homónimo. Torna-se o terreno dos olivais que envolvem Santa Maria a réplica do Horto das Oliveiras.

Curiosamente podemos também verificar possibilidades simbólicas entre o quadro do Enguerrand Quart com a disposição da urbe nabantina. No citado quadro temos uma divisão que consiste em dois aglomerados populacionais murados e separados por um curso de água, sendo evidente a separação entre o que apresenta um teor militar com uma espécie de Charola e o outro que apresenta um teor de carácter religioso com a inclusão de igreja. Conhecemos a mesma tipologia em Tomar, com a Charola de um lado da margem do rio Nabão e do outro lado do rio a Igreja de Santa Maria. É conhecido o possível significado desses aglomerados do quadro, Roma e Jerusalém, mas não deixa de ser interessante a analogia que podemos traçar com Tomar, não fosse por demais evidente a similaridade da Charola de Tomar com a do quadro. Aliás ressaltou de imediato ao João e a mim.


Parte inferior do quadro onde se ve as duas urbes separadas por uma porção de água

O que interessa reter e será deveras interessante é que a pintura reflecte o imaginário do pintor, talvez apoiado em algumas descrições e desenhos, pois nunca este se deslocou a Jerusalém, reflectindo então a suposta “Charola” do Enguerrand a ideia generalizada que o homem ocidental tinha dos monumentos da terra santa, ou seja, idealizou uma charola semelhante à que em Tomar foi construída, talvez também esta a materialização de uma ideia que se generalizou na idade média, não obstante ser do nosso conhecimento a permanência do Gualdim Paes em terras do médio oriente. Tal como em Tomar, a Charola não se posiciona em lugar central da fortificação, mas sim num dos seus confins, aproveitando as barreiras naturais.

Fui também alertado pelo João para a semelhança entre o Cristo que na pintura se encontra dentro de uma igreja e o Cristo que actualmente se encontra no cruzeiro dos dormitórios do Convento em Tomar. Sabemos e podem verificar na foto que esse mesmo Cristo foi em tempos peça do altar da Charola, tendo sido deslocado para o cruzeiro no século passado, o qual se encerrou com uma porta tipo grade no ano de … Não sabemos no entanto quanto tempo permaneceu na Charola.

No Convento de Cristo em Tomar

Mas não se ficam por aqui as analogias. Se já citámos as relacionadas com a Charola há que voltar agora a Santa Maria, tal como em tempos o devem ter feito constantemente os Templários e os cavaleiros da Ordem de Cristo. O Cristo do quadro é uma imagem da missa de São Gregório, onde Cristo surgiu da hóstia para incrédulo de uma descrente. E não guardava a igreja de Santa Maria a relíquia de São Gregório que Gualdim Pais trouxe do oriente antes desta tomar guarida no convento e depois no Tesouro da Sé de Lisboa, onde ainda hoje pode ser vista. Pois é!!!! Mais um facto curioso. Não tarda montamos aqui um enredo do tipo Dan Brown. Não se trata do mesmo São Gregório mas são homónimos e do mesmo período. Não se trata da mesma figura de Cristo mas não deixou de nos impressionar visualmente pela sensação de “deja vu”.

Julgo que a trindade representada no quadro tem fundamento teológico na unidade de Deus que se manifesta de uma forma Trina, sendo talvez uma inovação plástica na forma de representação do Pai e Filho, caso a iluminura apresentada no fórum pelo Leon seja de data posterior, e que creio ser um extremo da ideia da unidade da Trindade, pois vemos Pai Filho e Espírito Santo decalcados uns dos outros.

"Quem me vê, vê também o Pai.(...) (João 14,15 e 16)

Note-se também o detalhe das pontas das asas na boca das figuras (muito haveria a dizer)

"Não credes que eu estou no Pai e o Pai está em mim?" (João. 14,15 e 16) "Eu estou no Pai e o pai está em mim" (João. 14, 11) "Eu e o pai somos um" "O Pai está em mim e eu no Pai" ( João.10, 30 e 38).

Mesmo Platão, anterior a estas questões teológicas cristãs afirmava na sua obra “República” que “o três é um, e o um é três".

Mais umas palavras teria ainda acrescentar, ate porque como diz o Luís de Matos, um pouco de cultura nunca é de mais, tal é riqueza da pintura apresentada. Talvez posteriormente se possa dar continuação ao tema.

Especiais agradecimentos ao João por algumas fotos que ilustram o post.


COMENTARIOS NO TÓPICO "CHAROLA DO CONVENTO DE CRISTO" DO FORUM

2/05/2009

O MANTO DE SANTA MARIA

NOVA AQUISIÇÃO PARA A IGREJA
Autoria: O blog
Nem só de descobertas vive o blog, mas de invenções também. Desta feita, e após o martírio da Páscoa no ano passado com os pregos nas colunas, da separação da Mãe do Filho pela deslocação do crucifixo do quadro para o altar, é a entrada junto ao pórtico do templo agraciada com um manto de veludo vermelho de grandes dimensões.

Atentos no zelo pela igreja não podíamos deixar de vos dar a conhecer esta nova “invenção” que não censuramos ao contrário das outras para as quais levantámos vozes criticas que chegaram a ter destaque jornalístico.

Não temos informação que nos permita escrever sobre o que levou à colocação desse pano ou cortina na entrada da igreja. Não nos é estranho o acesso às igrejas ser barrado por portas, muitas vezes parte integrante do coro alto, nem por mantos ou cortinas que interditem a visibilidade das igrejas de uma perspectiva exterior.




Contudo esta inovação irá obrigar a uma adaptação do discurso de quem guia os visitantes ao interior da igreja. A saber, é usual à entrada sermos alertados para “a igreja que se esconde como nas entranhas da terra mãe”, uma visão que nos lembra o quanto temos que “descer” no nosso próprio ser para encontrarmos o nosso verdadeiro eu ou promover um encontro epifânico.

O facto de ser uma das poucas igrejas em Portugal onde se desce por intermédio de tantos degraus, vista de fora, provoca a “sensação psíquica de regresso ao útero da terra, às águas genesíacas de Nossa Senhora, para se ir beber o leite espiritual e renovar a alma”. Porém agora será essa suposta sensação interrompida pelo manto. Se essa barreira agora permite barrar o frio que no inverno se possa sentir vindo do exterior, tonando mais confortável ou suportável a participação nos cultos litúrgicos regulares em Santa Maria, subscrevemos tal solução em vez de se fecharem as portas (do céu). Pode tambem encontrar a sua razão de ser em questões relacionadas com a privacidade do culto que não ficaria assim tão exposto aos trauseantes que por ali passem naquela altura.

Visão anterior ainda sem o manto, em que se podia "afundar" o nosso olhar no interior de Santa Maria

Aproveitamos o momento para lembrar o quanto o pórtico é deveras importante no seio do conjunto que constitui uma igreja. Transpor o limiar, passar a porta, encerra um mistério de “passagem”. Apesar de ser um acto tão mecânico quanto o fazer o sinal da cruz, há que parar e dar atenção ao valor de transpor a porta. Dai a sua importância decorativa que é verificada por todos que visitam uma igreja românica ou gótica; a sua excessiva decoração realça o simbolismo que se pretende transmitir ao crente. “Quão venerável é este lugar! Não é ele senão a Casa de Deus e esta a porta do Céu”.

A porta, síntese do todo o templo, onde o arco tal como a absíde representa o mundo celeste e a base rectangular, tal como a nave, o mundo terrestre, é um símbolo cósmico, talvez patente nas esferas que circundam todo o friso do pórtico de Santa Maria, materializando o “ciclo celeste, o movimento do céu, ou seja, a actividade do Verbo no mundo”.

Quando a determinada altura na idade média se optou por colocar uma grande rosásea sob o grande portal, tornando-se em arco triunfal, transformou-se mais ainda numa janua coeli que resplandece o sol divino.

Por conseguinte, a entrada da igreja com o seu tímpano celeste, constitui pela sua simbólica, em conjunto com o altar, o lugar de uma teofania, que não deve ser esquecido pelo crente que nesse momento passa deste mundo para o mundo do “além”, do profano ao sagrado.

No entanto alertamos que a Igreja (ou Templo) de Santa Maria tem vindo nos últimos anos a sofrer algumas degradações, das quais o precário telhado que deixa as águas “divinas” permear o seu interior se apresenta preocupante, quanto as águas “genesíacas” que insistem em brotar do solo no lado norte. Esta água não é novidade dos dias de hoje, pois já á trezentos anos se dizia que “…se descem dezasete degraos, & por esta causa he muyto húmida a parede da nave do norte…”

Esperemos que o manto vermelho não tenha que vir a servir para amarfanhar essas Águas, tão imensas quanto o MANTO de SANTA MARIA que a todos Abriga, Protege e Consola.


Esconde-se debaixo do Manto de Santa Maria muitos mistérios. Levante-se o Véu.