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2/14/2011

A MARCA DE GUALDIM PAIS - PARTE I

E os Misteriosos Subterrâneos
Autoria: CETHOMAR
(Degraconis)
S
Como intróito publicamos uma história, dividida em quatro partes, e que servirá de mote ao texto do post propriamente dito. Fazemos agora uma pré-publicação desse texto de introdução, o qual foi desenhado conforme a realidade histórica que apurámos no âmbito da investigação em causa. Naturalmente algumas partes são ficcionadas mas no seu geral está de acordo com os documentos que iremos apresentar como conteúdo do texto da investigação.


A MARCA DE GUALDIM PAIS
(primeira parte)

"Não é possível falar do nascimento de Fernando Martins sem antes falar de Gualdim Pais, já que ambos os homens estão ligados por um nexo de causalidade tão grande que a existência do primeiro sem o segundo parece-me impossível.


Hoje, há luz de todos os anos que vivi e de tudo o que presenciei, posso dizer que fui o homem que melhor conheci Gualdim Pais embora não fossemos particularmente amigos ou íntimos. De facto, não nutria pelo homem nenhum sentimento de profunda estima e amizade nem, em algum momento, abstive-me de criticá-lo por qualquer coisa que possa ter dito e feito. Mas quis Deus que eu estivesse presente em grande parte da sua vida e, neste momento, não posso desejar que assim não fosse.

Gualdim Pais era um homem. Não era extraordinário nem grande nem particularmente generoso e, se não fosse a posição que um dia veio a ocupar e que mais tarde exigiu que se fizesse dele um símbolo, podia perfeitamente ter passado incógnito pela história, como tantos antes e depois dele. Claro que tinha algumas qualidades que lhe valeram o título de Mestre da Ordem do Templo em Portugal. Era um bom guerreiro que tinha alguns conhecimentos de estratégia militar e tinha fé, coragem, ambição e alguns amigos poderosos, entre os quais o Rei D. Afonso Henriques. Mas os amigos nem eram muitos, ou pelo menos amigos que pudessem ser considerados verdadeiramente como tal.

Desenganem-se, eu não fui seu amigo. Porque haveria de o ser? Era um homem gordo e insolente cuja única coisa que gostava mais que combater era comer. E também de beber e de jogos de azar, e de mulheres. Gualdim adorava mulheres. E com o passar dos anos e à medida que aumentava o seu poder ele ia piorando. Os seus ataques de ira iam-se tornando cada vez mais desmedidos e mais frequentes. Não sabia perder e não sabia beber. E depois de qualquer excesso tinha por hábito ir até à capela com a esperança de remendar os seus erros. Tinha um medo terrível do inferno e à medida que a morte se ia aproximando maior era este medo.

No entanto os poucos amigos que tinha eram-lhe completamente fiéis e desculpavam o seu comportamento atribuindo-o às vicissitudes de um temperamento incompreendido que apenas lhe servia para mascarar a sua verdadeira natureza. Ele retribuía essa fidelidade. Estava sempre presente quando um dos seus amigos tinha necessidade e sempre pronto a defendê-los numa luta quer a razão estivesse do seu lado ou não e independentemente do perigo que pudesse correr. Era generoso com eles, à sua mesa nunca faltava comida nem bebida. Era um bom organizador e sabia gerir o dinheiro e expandir o património.

A maior parte dos homens que comandava tinham uma confiança irrealista nas suas capacidades. Corriam histórias das suas façanhas na batalha de Ourique e na Palestina, a maior parte delas inventadas e, quase seguramente, espalhadas por ele. Queria inspirar temor e respeito, queria que os seus amigos o admirassem e inspirar terror nos seus inimigos. Ninguém lhe pode tirar o mérito de ter conseguido o que queria.

No fundo o semblante de Gualdim Pais mudava conforme a posição de quem olhava para ele e o tamanho das suas sombras dependiam da hora do dia. Era difícil ter uma visão completa daquele homem que suscita em mim, simultaneamente, um sentimento de repulsa e de atracção.

Mas a questão que se segue é qual é a sua ligação com Fernando Martins, já que ambos nunca se cruzaram nem nunca se conheceram. Já que ambos os homens são tão diferentes que têm apenas em comum o facto de comungarem da mesma fé e que esta crença os levou em viagens pelo mundo fora embora um tenha lutado com a espada e o outro com a palavra.

A ligação é muito subtil e é normal que escape ao olhos de alguém que não tenha presenciado de tão perto os acontecimentos que a criaram e que eu tive a fortuna de observar. Uma ligação tão importante quanto fundamental para desvendar os segredos quer de um quer de outro e talvez compreendê-los melhor.


Parte II

(Texto: Velho do Restelo - Investigação histórica: Degraconis)

7 comentários:

Anónimo disse...

Sem comentários. Irei aguardar pelo restante.
Berta

Anónimo disse...

Inveja da grandesa desse grande Homem....
Mas enfim, reconheceu as suas qualidades, apesar de ter exagerado nos seus defeitos.

Aguardo pelo resto.
Pode ser que me surpreendam...

Ass:
5º Mestre da Ordem do Templo de Portugal

CLUNY disse...

Como um dos Cavaleiros Guardiães de Santa Maria do Olival, tive a honra de poder ler este trabalho na sua totalidade.

Nunca tinha lido um trabalho que me prendesse tão afincadamente a leitura como este.

Esta forma de escrita na primeira pessoa transporta-me á época, faz-me imaginar as ocorrências, os gestos acalma-me a alma, ao contrário da repudia provocada aos olhos de alguns, que fazem dos seus ídolos santidades imaculadas sem pecado ou vícios.

Entendo-os que ver Frei Gualdim Pais descrito desta forma que os choque. Afinal qual é a criança que não se choca, quando descobre que o Pai Natal afinal é alguém próximo e não vem de trenó.

Sejamos lógicos, pensemos!

Gualdim viveu numa época conturbada, difícil, envolto em guerras rodeadas de sangue, dor, perdeu amigos, é plausível que o Gualdim fosse mais perto da realidade aqui descrita do que da realidade imaginada e sugerida pelos romances cavaleirescos descritos em livros ou filmes da época.

São Agostinho de Hipona viveu na sua juventude actos de rebeldia, roubo, escravo das suas paixões sexuais, só por volta dos seus 32 anos se converteu ao cristianismo durante o episódio ocorrido junto a uma Figueira, em Milão. E no entanto meu Deus! O Homem foi Santo, um dos Quatro Doutores da Igreja.

Porque seria Gualdim perfeito se São Agostinho não foi?

Daqui retemos o seguinte, o Homem é e sempre será um Homem com os seus pecados e as suas qualidades. Se assim não fosse seria um Deus e nem aqueles que por devoção, penitência ou milagres que se tornam Santos se elevam a tal estatuto, porque seria Gualdim Pais perfeito?

Tenham uma mente aberta e pensem de forma lógica. O choque muitas vezes é apenas uma passagem de um primeiro nível de um entendimento para um seguinte.

Anónimo disse...

Atão quando lemos o resto?

RUI GONÇALVES disse...

Hoje estou sem tempo mas amanhã (ou hoje de noite) ainda se publica mais qualquer coisa.A ideia era ser tudo publicado dia 1 de Março mas já vi que existe alguma ansiedade... de quem gosta e de quem não gostou. se alguém quiser o texto na integra basta o pedir para o nosso email cethomar@hotmail.com
Ps: Visto ser 4 partes será a última então publicada no dia 1 conforme se pensou. Quanto ao post propriamente dito está mais complicado.. é um post quase tão grande quanto o de St Bárbara que teve que ser dividido em 15 partes.

Anónimo disse...

Excelente tributo ao fundador de Tomar.
Os meus parabens.
Estão todos convidados para a tasca do Aurélio.
A primeira rodada é minha.
As ganzas levam voces!

Unknown disse...

Vergonhoso