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7/07/2011

A DESCOBERTA DA LÁPIDE DE GUALDIM PAIS

Considerações em torno da descoberta -Parte I
Autoria: Degraconis | Cethomar
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DA LÁPIDE E DA SUA (RE)DESCOBERTA
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Das diversas lápides e inscrições tumulares existentes no Templo de Santa Maria dos Olivais em Tomar, a de Gualdim Paes, será decerto, a mais conhecida e comentada. Todavia, a sua história já não se apresenta tão conhecida de todos aqueles que a contemplam na segunda capela lateral da dita igreja. Já tivemos oportunidade de divulgar a história da sua descoberta mas, não se tendo desenvolvido o assunto, voltamos de novo a ele, aproveitando o momento para dar a conhecer o que Luciano Cordeiro escreveu sobre a mesma, visto mencionar detalhes relacionados com a sua redescoberta.

Antes de transcrever o texto de Luciano Cordeiro, e visto os recortes de jornal que agora apresentamos neste artigo não explicarem de todo o porquê do empenho do Vieira Guimarães na sua (re)descoberta, apensamos aqui umas palavras nossas.

A sua existência na igreja de Santa Maria do Olival, nomeadamente na capela onde a vieram a descobrir é referida nos séculos anteriores por diversos autores. Todavia, com o passar do tempo, ficou-se sem conhecer o seu paradeiro.

Diz-nos Frei Bernardo da Costa no ano de 1771 o seguinte:

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E mais adiante no texto volta a referir-se ao assunto dizendo que “Na Igreja de Santa Maria dos Olivais Magnifico Mauzoleo, recolhia em si o corpo deste grande homem; e em reedificação, ou concerto, que nesses annos se fez…foi ele desfeito, e recolhidas as cinzas de Mestre tão benemérito a hum archete de pedra; e he quanto memoria temos do dia, e anno, que ele falleceu”. (voltaremos ao sublinhado noutro post)

Portanto, no tempo do Frei Bernardo da Costa, em 1771, era perfeitamente conhecida a pedra funerária de Gualdim Paes, e se restam algumas dúvidas quanto a isso ou quanto à sua localização, podemos verificar na Coreografia Portuguesa do autor P. António Carvalho da Costa, em 1706, semelhante descrição:
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Informa-nos também que foram depositados nessa segunda capela os ossos de todos os Mestres que estavam sepultados em Santa Maria. Os resultados obtidos pelo georadar nessa segunda capela parecem, efectivamente, apresentar a existência de algo no subsolo dessa mesma capela. (Esperamos ainda este ano publicar todos os resultados do georadar efectuados nesse local, assim como sobre outras partes do solo da igreja, nomeadamente sobre a famosa pedra oblíqua, com a devida autorização.)



Por outro lado, Frei António de Oliveira em 1739, na obra “Descripção corografica do Reyno de Portugal” referindo-se à Igreja, não alude à pedra de Gualdim Pais, limitando-se a dizer que nesta igreja se encontram sepultados todos os Mestres do Templo. Contudo acreditamos que é apenas uma omissão, visto já termos dado notícia de que em 1706 já lá se encontrava e nesse local ainda se mantinha em 1771.

Todavia, se Viterbo, na sua obra “Elucidário”, confirma que a pedra continua na mesma capela em 1799, Vilhena Barbosa em 1865 não nos deixa ter a plena certeza quanto a isso, visto não se referir explicitamente a ela mas apenas à do Mestre Gil Martins, pelo que poderá a sua alusão à lápide e epitáfio de Gualdim Paes não ser mais do que uma memória. Porém, estamos em crer que a mesma ainda se mantivesse no mesmo local.


"Elucidário” de Viterbo - 1799

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 De Vilhena Barbosa - 1865


Segunda consta, os túmulos de Santa Maria terão sido destruídos no tempo de D. Manuel I ou de D. João III, conforme está no Tombo de Santa Maria, pelo que se presume ser essa a data em que foram colocados na citada segunda capela os restos mortais dos mestres em simultâneo com a lápide de Gualdim Pais. Todavia, curiosamente, em 1632, Frei António Brandão na “Monarchia Lusitana”, no capítulo “Da Morte de Gualdim Paes...”, tem que socorrer-se de Frei Jerónimo Romam para dar-nos a data da morte do mesmo, não invocando a data constante da lápide nem a existência da mesma.

Por sua vez, Frei Jerónimo Roman, em 1586/87, refere terem sido os mestres sepultados em Santa Maria do Olival dando no entanto apenas três nomes: Gualdim, Vasco Fernandes e Gil Martins. Não refere a placa, mas o facto de apenas referir estes três, dos quais conhecemos as lápides em Santa Maria (excepto Vasco Fernandes que parece estar em Montalvão), leva-nos a pensar ter conhecido a lápide de Gualdim em Santa Maria sem, todavia, dar notícia dela. Refere a data da morte e, se não a conheceu através da placa, é bastante verosímil ter copiado a data do Livro “Dos bens rendas dereitos e escripturas do convento desta villa de Tomar” redigido por Pedro Alvarez de Seco umas décadas antes.

Quanto a Pedro Alvarez de Seco podemos ter certeza de a ter visto na igreja de Santa Maria do Olival, visto no segundo folio do seu livro referir-se a isso e dar a data de 1195 como a de morte do Mestre Gualdim Paes, contudo sem precisar se estava na segunda capela.


Perseguido o seu rasto até à segunda metade do século XVI, lembrámo-nos de procurar em literatura e manuscritos mais antigos na ânsia de saber de facto em que data teria sido colocada nessa segunda capela e eventualmente onde teria estado antes dessa sua nova morada, e também, quiçá, obter referências ao túmulo original do mestre.

As crónicas de Rui de Pina e de Duarte Galvão não lhe fazem referências, restando então, dentro das nossas possibilidades e recursos, procurar no inédito quatrocentista reproduzido do Códice 886 da Biblioteca Pública Municipal do Porto, conhecido como a “Crónica de Cinco Reis de Portugal”, de autor desconhecido, e segundo A. de Magalhães Basto, fonte de informação para as crónicas posteriores dos cronistas atrás citados. De igual forma está carenciada de qualquer registo sobre a morte ou lápide, sendo Tomar citado apenas uma vez nessa crónica recém-descoberta. Também na Crónica Geral de Espanha de 1344 não se verifica qualquer alusão nas partes que interessam à história de Portugal.

Recuar ainda mais nesta procura implicava procurar nos famosos Livros de Linhagens (séc. XIV), mas o único parágrafo dedicado a Gualdim Pais diz-nos apenas que “D. Payo Ramires (pai) casou com irmã de D. Payo Correa o velho, e fege nella o mestre D. Gualdim Paes do Templo e D. Gomes Paes de Piscos (irmão): e este mestre D. Gualdim Paes fez Tomar, e Pombal e Castelo de Almoyrol, e pobrou outros muitos lugares que ganhou a ordem, e foi muito forte em armas e leixou ao Templo o que agora ha, e em Abelamar” não fazendo qualquer referência ao ano da morte.

Podemos então balizar a existência da placa no local onde hoje a conhecemos entre 1542/1570, data do livro de Pedro Alvares de Seco (e do Tombo de Santa Maria) e 1865, ou 1799 seguramente.

Não tardou, no entanto, que se deixasse de saber da lápide de Gualdim Paes, referindo-se a isso o seguinte recorte do jornal no ano de 1895:


Tal foi a incúria pelo património histórico, nomeadamente a consideração pelo fundador da cidade de Tomar, que muitos já consideravam a pedra perdida para sempre ou mesmo destruída. Não quis o destino que assim fosse e em Abril de 1895, devido às investigações dos citados ilustres, foi reencontrada a pedra que hoje conhecemos na segunda capela, onde pelos vistos sempre se manteve, mas nem sempre a descoberto.


Jornal “A Verdade” de Abril de 1895

Possivelmente estaria soterrada ou entulhada, tal como a do mestre Gomes Ramires que foi encontrada somente na década de 40 do século passado debaixo do reboco da parede sul.


Lápide do Mestre Gomes Ramires em
Santa Maria do Olival - 1212

As referidas descrições dos séculos anteriores constituíram um valioso guia para a sua rápida descoberta ainda a tempo das comemorações de 13 de Outubro de 1895 que se avizinhava.
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Diz-nos Luciano Cordeiro que “obtendo licença para sondar as paredes d'aquella interessantissima e vetusta igreja de Santa Maria do Olival ou dos Olivaes… o sr. Pinto, com dois amigos (de certo referia-se a Vieira e Silva Magalhães) egualmente interessados n'esta pesquiza, começou-a e teve a fortuna de, ás primeiras tentativas, encontrar a pedra (naturalmente um dos lados do sarcophago)..”, o que nos leva a pensar ter sido a pedra descoberta no mesmo local indicado pelas descrições mas encoberta por algum tipo de material.

Nesta mesma capela existe uma outra lápide visível, a do Mestre Lourenço Martins, que, a não ser referida nos recortes do jornal, julgamos ter sido descoberta posteriormente, talvez ainda no âmbito dos esforços dos nossos ilustres. Amorim Rosa não desenvolve o assunto mas diz ter sido descoberta também por Vieira e amigos



E para terminar deixaremos aqui o texto da sentida homenagem que o povo de Tomar fez a Gualdim Paes em 1895, a qual podem ler directamente na pedra. Surge esta, aquando das comemorações dos 700 anos da morte do mestre, e fez o povo questão em a colocar na capela onde, segundo essa inscrição, repousam as suas cinzas. Repousarão?



Parte II  -  À ÚLTIMA DA HORA
Parte III - “INSCRIPÇÕES PORTUGUESAS” 
(publicação na próxima semana)

1 comentário:

Anónimo disse...

Boys by name and ushered them into a book lined study where already.