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8/04/2011

TORRE DE PUNHETE–parte III

NOTÁVEL VILA DE CONSTÂNCIA
AUTORIA:  CETHOMAR

4. DE PUNHETE A CONSTÂNCIA

A actual Vila de Constância, foz do rio Zêzere, antigamente domínio da Ordem do Templo, até ao século XIX teve um nome bastante diferente: Punhete e os seus habitantes eram (ou deviam) ser designados por Punhetenses. A Etimologia dessa antiga designação atribuída à esta notável vila deriva de “Pugna Tagi” significando literalmente “pelega” ou “combate” no Tejo, designando então a “bulha” que estes dois rios travam neste local onde se cruzam, e nisto estão de acordo Gaspar Barreiros na sua Coreografia de 1561, Frei Bernardo de Brito, Paiva de Andrade em 1616 no seu Exame das Antiguidades e Rafael Bluteau em 1712, entre outros, repetindo-o P.e Veríssimo de Oliveira na sua descrição da Vila.

Legenda: Rafael Bluteau (1712-28), Diogo Paiva de Andrade (1616)
 Coreografia Português Sec. XVIII e Padre Veríssimo José de Oliveira em 1830
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O Zêzere, que no século XIV também teve o nome de Dura, engrossava-se com o rio Nabão, o qual era navegável, e chegando a Punhete, onde se lançava no Tejo, em tempos de cheias ouviam-se os “roncos” desse embate do rio Zêzere, “soberbo e medonho” a muitas légua e “tal era o ímpeto das águas (do Zêzere) que na longura de mil e quinhentos metros ainda conservava a sua cor azulada”, segundo Miguel Leitão de Andrade.

Miscelânea de Miguel Leitão de Andrada de 1629
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Portanto, não será de estranhar que os autores citados pensassem que o nome de Punhete fosse uma evocação daquelas “batalhas” e de facto, diversos documentos, atestam a “braveza (do Zêzere) e crescimento de águas” que provocavam frequentemente acidentes junto ao Tejo. O alagamento da vila e sua navegabilidade pelas ruas permite atribuir-lhe seguramente o merecido epíteto de “Veneza do Ribatejo”.

A primeira imagem é da casa de Camões retirada da investigação
da Casa dos Arcos e onde se pode identificar vestígios manuelinos
As restantes três fotos são do arquivo fotográfico de Constância
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Todavia o nome da Vila não era motivo de orgulho dos seus habitantes e, D. Maria em 1836, permite que esta, pelo seu comportamento heróico e tenaz frente ao invasor francês, alterasse o nome para Constância e fosse apelidada de “notável”, título com o qual também Tomar foi agraciado.

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Não terminaremos este capítulo sem fazer uma referência à etimologia do rio que aqui se lança. Segundo Miguel Leitão de Andrada, natural de Pedrógão Grande, o nome de Zêzere provém da árvore “zenzeiro”, espécie de salgueiro, que abunda nas suas ásperas e alcantiladas margens. Todavia, Miguel Leitão de Andrada, também nos dá conta de uma lenda que dava uma origem diversa ao nome, e justificava, simultaneamente, a génese do próprio rio. Socorrendo-se da mitologia romana, descreve como a deusa Vénus, irritada com as constantes lutas na disputa de uma bela princesa, transforma o gigante Zacor, num rio tempestuoso, o Zêzere.

Escreve este autor: "...e o primeiro que fez foi converter o gigante Zacor em rio da mesma sua natureza, soberbo e arrogante, e de verdes e negras ágoas quaes erão as cores do seu rosto, medonhas: e dizem, que porque Zacor era terrível e forte guerreiro, que temperado o ferro nestas suas ágoas, o faz mais duro e cruel". Do nome do colosso de Ozecaro, nome da personagem tempestuosa, deriva Zenzere e desta o actual nome de rio Zêzere.

 
Excerto da lenda | Sobre a águia vê-se o rio a passar pelos penhascos

Em boa verdade, a parte inicial do rio Zêzere não controlado pela barragem, ainda hoje, é bastante desregulado e de caudal muito variável, passando de uma torrente impetuosa e violenta quando alimentado pelas fortes chuvas da montanha e pelo degelo do Inverno, a um sereno rio quase seco na estação contrária.

Parte IV

2 comentários:

RUI GONÇALVES disse...

Não confundir a Coreografia de Gaspar Barreiros com a Coreografia Portuguesa que é bastante posterior à do Gaspar Barreiros.

Esta a segunda amplamente divulgada.

RUI GONÇALVES disse...

A actual divisa de Pedrogão Grande mantêm os mesmos elementos mas o rio e as serras foram estilizadas.

http://www.ngw.nl/int/por/p/pedrogaog.htm