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12/22/2010

OS PASTORINHOS DE SANTA BÁRBARA - PARTE VIII

OS DEMÓNIOS DO CONVENTO DE CRISTO
Os mundos subterrâneos


(imagem recolhida pela Marta Marques Lopes durante o Seminário)

A escolha de Santa Bárbara como orago dessa Capela, que veio a substituir o local da forca, após a permanência de uma imagem do Cristo Crucificado na mesma durante alguns anos, não deve ter sido destituída de intenção. Santa Bárbara, pelas vicissitudes da sua biografia e taumaturgia, é a Santa das Trovoadas, “salve-nos Santa Bárbara dos Trovões”, devendo-se a essa atribuição, a sua colocação a encimar colinas situadas perto de povoados, num sentido profiláctico e de protecção. A força tenebrosa das tempestades e consequentes trovoadas, à qual está sujeita, tornam-na por essa via, numa poderosa Santa, capaz de enfrentar terríveis e demoníacas tempestades.

O local da forca, obviamente seria encarado, numa visão medieval, como um local “infestado” de espíritos malfadados e temíveis, tal como a Golgota onde Cristo foi “Cruzado”, local onde se teriam consumado mortes violentas de malfeitores. Santa Bárbara, além de os proteger das nefastas e sobrenaturais trovadas, apresenta todas as características necessárias para aplacar e dominar os maus espíritos do lugar, tal como São Miguel, visto a trovoada enquanto força destruidora e caótica, seja considerada também como expressão demoníaca. O facto de ser “advogada” das mortes repentinas é de considerar na ideia enunciada.

A acção de Santa Bárbara consistirá em deslocar os efeitos de um agente destruidor, a trovoada, para o monte: o monte maninho, a barreira, longe, mar a marinho, lugares estéreis onde só a Serpente (figura do demónio) amamenta os filhos com água do trovão (leite da maldição).

Talvez seja em virtude destas ideias, que o Claustro de Santa Bárbara no Convento de Cristo, apresente a maior concentração de Baphométicas criaturas esculpidas. Santa Bárbara domina-as, como que aprisioná-las no espaço claustral, que só por si, muito fechado sobre si próprio e rebaixado, é propício a encarcerar estranhas forças sobrenaturais. Não existe uma oração a Santa Bárbara: Bênção de exorcismo? Sobrepõe-se a Janela do Capítulo a este espaço, como se das profundezas da terra emergisse a salvação do Mundo, mensagem críptica que a Árvore da Vida encerra, todavia numa leitura anacrónica, é o claustro posterior à Janela.

Claustro de Santa Bárbara abaixo da janela do Capítulo

 Algumas das imagens dos capitéis do Claustro de Santa Bárbara no Convento

Insólitas gárgulas

(Repara-se na imagem superior à direita – Esperamos publicar um post só dedicado a este tema)

Das profundezas também Santa Bárbara é “Rainha”, visto ser invocada como padroeira dos mineiros e de todos aqueles que trabalham com o fogo. A alquimia apropria-se desta para descrever algumas das suas práticas.

A adoração da Santa Bárbara por parte dos mineiros, ao ponto de a elegerem como Padroeira, poderá encontrar-se na sua história lendária. Para além de relações possíveis, que podem ser consideradas menores, do refúgio de Bárbara no interior da terra, quando perseguida pelo pai, parece fora de dúvida que o motivo essencial da adoração se encontre na súplica, feita pela Santa a Jesus, para que, quando em situações de morte iminente, todos os que implorassem a Deus, por seu intermédio, a Extrema Unção, a obtivessem, ficando absolvidos de todos os seus pecados. Tais situações de morte iminente tê-las-iam sempre os mineiros diante dos olhos quando no seu trabalho no subsolo.

Este também é o motivo pelo qual Santa Bárbara é também venerada, como Padroeira, por outras profissões (artilheiros, pirotécnicos, bombeiros, etc.); outras profissões, relacionáveis com a torre, tanto quanto à respectiva construção (cabouqueiros, pedreiros, arquitectos) como quanto à respectiva utilização como prisão (presidiários, se tal se pode considerar uma profissão, e guardas de prisão), têm igualmente a Santa como Padroeira. No mundo inteiro, Santa Bárbara mantém-se Padroeira dos mineiros.

Esta ideia leva-nos de imediato a pensar nos lendários túneis de Tomar, e curiosamente, um dos “pastores” deste Círculo de Estudos do Cethomar que se perdeu na mata junto à ruína, deparou-se com o que pareceu ser os rebordos de um antigo poço, mas que pelas vicissitudes do tempo a que esteve vinculado, não permitiu ao “pastor” ter certezas iniludíveis quanto a isso. Será uma das “Sete Fontes”?

Próximo Capítulo
UMA APARIÇÃO NA MATA DOS SETE MONTES
Dos Anjos a Santa Bárbara

4 comentários:

Anónimo disse...

Genial

Anónimo disse...

Santa Bárbara é a padroeira dos alquimistas e dos mineiros, por exemplo.E é-o, não apenas porque concede protecção das explosões. Também o é, porque simboliza o Objecto dos Sábios, a Prima Matéria da Grande Obra. Não foi ela encerrada numa torre? Eis a pedra, remanescente do Caos Original, frequentemente associada ao Diabo, dado o seu aspecto desprezível, a qual se deve procurar visitando o interior da Terra, rectificando até encontrar a pedra oculta. Não é de estranhar, portanto, que a Santa apareça mais ou menos ligada ao que é subterrâneo ou telúrico. Lysardo

Anónimo disse...

Senpre associei o nome de Bárbara aos Bárbaros. Pode existir alguma relação?
Miguel de Santa Cita

Anónimo disse...

βάρβαρος, significa "não grego", "estrangeiro". Mas também grosseiro, inculto, incivilizado. Independentemente de quaisquer outras aproximações que se possam estabelecer pela cabala fonética,talvez a ideia supra, de algo grosseiro e rude, se possa relacionar com o aspecto da nossa pedra.